quarta-feira, novembro 30, 2005

O valor das palavras





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terça-feira, novembro 29, 2005


falar-te-ei apenas da finura do gesto e do acaso.

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segunda-feira, novembro 28, 2005

Como se aprende


Era eu bem pequena quando o meu pai me ensinou a olhar para esta casa sobranceira à baía de Cascais. O que vi em primeiro lugar foi o nome = ao meu, senti logo a casa um pouco minha. Baixei os olhos e, com mais dificuldade, fui lendo os versos... de um tal Guerra Junqueiro. Já o conhecia da canção que no Jardim Escola João de Deus cantávamos - A Moleirinha. Quando chegámos a casa o meu pai foi buscar os poemas de Guerra Junqueiro e fomos à procura daquele onde estes versos se encontravam - abre aqui, fecha ali fomos lendo outros. Com ele fui descobrindo o gosto da poesia.

...E o mar a meus pés
cantando um hino igual aos hinos de Moisés...


Há poucos dias passei junto da casa, olhei-a, recordei a cena e um nó formou-se na garganta.






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domingo, novembro 27, 2005

Sem palavras


não é a frase
é o som das palavras
e o infinito


Lisboa, 27 de Novembro de 2005



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sábado, novembro 26, 2005

Em jeito de gratidão


Li ontem no JL a autobiografia de Jaime Celestino da Costa, o médico cirurgião que me salvou a vida. Gostei de ler estes seus Noventa Anos Revisitados. Das suas palavras destacarei estas: ...Nós jovens compreendemos cedo que a verdadeira cultura não conhece limites de géneros ou fronteiras, nem idiomas, e que há uma universalidade no saber. Este deve usar-se com simplicidade e naturalidade, como elemento de enriquecimento pessoal, não como forma de ostentação. O tempo era outro, seguramente.

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sexta-feira, novembro 25, 2005

Da antecipação


o pullover aconchega o anoitecer à pele
e a lua em quarto crecente abraça
as estrelas numa aparente norma
do caos um frio ainda breve e esquivo
promete-me as tuas mãos
e os afagos
nas certezas dos instantes
nos horizontes do mundo

antecipo a melodia da tua ternura.


Ericeira, 5 de Novembro de 2005


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quinta-feira, novembro 24, 2005

Viagens na minha terra - Cascais - Exposição de Graça Morais






Estive ontem em Cascais e fui ver a exposição de Graça Morais que se encontra no Centro Cultural de Cascais e que recomendo vivamente.

De entre os quadros expostos é-me difícil destacar alguns pois, duma maneira geral, aprecio muito a pincelada vigorosa e desconstruída de Graça Morais; contudo, no r/c realço as sanguíneas e os carvões (nestes, particularmente aquele em que a mulher se penteia de costas, num estranho ângulo, onde tudo nos é dado com riscos e esbatidos)e obviamente os três auto-retratos, a Maria com as folhas e terra e o grande quadro só com o rosto de Maria que, por explicação de uma monitora que ajudava um grupo de crianças a entrar naquele mundo, foi feito no local e no dia em que Maria morreu em apenas quatro horas - a sua homenagem ao seu modelo de tantos quadros.




Maria, acrílico e colagens




Maria, último retrato

Graça Morais©gracamorais.blogspot.com




No andar superior, tentando não ser exaustiva, vou destacar os retratos feitos com tinta da China e goma laca pois a técnica impressionou-me grandemente.

Como nota, apenas a destacar que me entristeceu o facto de ver que na exposição estávamos duas pessoas e o grupo de crianças em visita de estudo. Eu sei que era dia de semana mas também vi Paula Rego em Serralves num dia de semana e o público era em grande número. Bem sei que Paula Rego estava na catedral das exposições mas custa-me que neste país só mediatizando grandemente os acontecimentos culturais estes consigam ter público. Devo ainda acrescentar que não estou a desvalorizar a exposição de Paula Rego de que muito gostei como se pode ver no post aqui colocado. Também não faço qualquer tipo de comparação ou de valorização entre as duas pois cada uma tem um traço próprio muito definido, uma grande qualidade e um invulgar enquadramento internacional no que à nossa arte diz respeito.


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quarta-feira, novembro 23, 2005

Diurnos # 12


Escassos são os passos e os traços. A luz – ausência de tonalidade. Gretas por onde desperto e sigo a linha que antevejo. Rasgões. E no chão os passos que não deixo empedrar. Vagos, ausentes mas com o sinal da posse e da imponderabilidade. Os meus.

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terça-feira, novembro 22, 2005

Sem título


Não é a força das árvores que me emociona
mas o raio de sol planando difuso
e o pássaro que nelas se acolhe


Lisboa, 17 de Novembro de 2005



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segunda-feira, novembro 21, 2005

Viagens na minha terra - Passeio CNC III


Na Reserva Natural do Cavalo do Sorraia


alguns belos exemplares










uma bela cabeça que se deixou acariciar longamente





o seus olhos eram ternurentos e nada "burros" e seguiam-nos deixando que lhe registassemos a imagem.









pena que a minha máquina tenha um zoom muito fraco e a fotografia não tenha qualidade - o fim do dia estava magnífico e os animais acalmavam-se pouco a pouco.





Daqui seguimos para a visita às adegas e à prova de vinhos de que não tenho imagens pois a iluminação era fraca e na prova de vinhos a mão estava ocupada em melhores andanças.

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domingo, novembro 20, 2005

Viagens na minha terra - Passeio CNC II


Algumas fotografias do exterior da casa confinadas ao perímetro a que temos acesso. No interior não é possível tirar fotografias.






outro ângulo da casa




do pequeno espaço exterior, a que temos acesso, sobre a lezíria e um céu que todo o dia ameaçou mas se comportou à altura








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Viagens na minha terra - Passeio CNC I


Ontem estive todo o dia num passeio com o Centro Nacional de Cultura. O centro de interesse principal e que nos ocupou da parte da manhã foi a Casa dos Patudos e o seu Museu em Alpiarça. Casa mandada construir pelo republicano José Relvas e por este doada à Câmara Municipal de Alpiarça. Um local com um considerável espólio sobretudo de mobiliário, porcelana e quadros; destes últimos é de salientar os Malhoa e os Silva Porto mas não são de excluir Columbano, Roque Gameiro e tantos outros onde não falta um Doubigny. A visita foi cuidada apesar do museu, quanto a mim, precisar de algumas transformações - algumas pinturas quase se não vêm pois as janelas estão fechadas, falta no local a indicação das peças e dos quadros (não chega a informação da guia) e, sobretudo, lamento que o belíssimo exterior da casa - da autoria de Raul Lino - não esteja aberta ao público. Perdem-se as arcadas, as varandas, os imensos azulejos e a belíssima paisagem sobre a lezíria.

Seguiu-se uma visita falhada à igreja de Santo Eustáquio em Alpiarça (a eterna falta de organização portuguesa) e depois de um bom almoço seguimos para a Reserva Natural do Cavalo do Sorraia que muito me agradou pois o cavalo é, para mim, o animal de que mais gosto. O passeio terminou com uma óptima visita às adegas da Quinta de Santo António a que se seguiu uma prova de vinhos que veio culminar em beleza este passeio.

Vou agora organizar o material e as fotografias para aqui ir colocando.

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sexta-feira, novembro 18, 2005

O Plátano





O plátano brilha ao sol
e as folhas encolhem ao peso da geada
trazida pela noite.
A copa cerca o espaço
e o negativo
protectora área onde me acolho
salpicando-me de geada
e florescendo incólume
no despertar de mais um dia.


Lisboa, 8 de Novembro de 2005


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quinta-feira, novembro 17, 2005

Do diário # 8


Não sei do substancial. O invisível não se procura. Mas junto da mão há um sistema de nodos. Tão diferenciado. Aleatório. Nessa inconstância sei que se o esconde o invisível. Sem querer, levo as mãos aos olhos. Esfrego-os. Vã esperança de alcançar o buraco negro. Desafino nesta manhã em que a chuva não conseguiu desalojar o sol.


Lisboa, 13 de Novembro de 2005


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quarta-feira, novembro 16, 2005

Do registo simples


de colorido
está o escritório cheio
reacendem-se as palavras
madrugadoramente puras
e instáveis


é o sol soltando energias.


Lisboa, 11 de Novembro de 2005


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terça-feira, novembro 15, 2005

Do imaginário


porque da sombra sempre te destacas
dialogo contigo em silêncio
como se da cisterna o eco nos prolongasse
na bruma de uma só certeza

na penumbra os teus contornos
e da morte a estranha presença

um gesto desapiedado unindo extremos



Lisboa, 14 de Novembro de 2005


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segunda-feira, novembro 14, 2005

Do diário # 7


Um vento desgovernado ensandece as portadas e o seu barulho desafia concórdias. Nem o mar pia!

Ericeira, 26 de Outubro de 2005



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domingo, novembro 13, 2005

Amarragens # 19


Porque são realmente belíssimos intertextos. Aqui.

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Citando # 148


Acabamos por tornar-nos naquilo que fingimos ser".

L. Durrell



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Citando # 147


Sou uma peça que já está escrita. Escrita e representada.

Ingmar Bergman



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sábado, novembro 12, 2005

Sem título


bombeia o sangue
pulmões e raiva
resistência


Lisboa, 11 de Novembro de 2005



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sexta-feira, novembro 11, 2005

Em boa hora voltou


o meu amigo JRD; encontra-se aqui no Leblanc-Seing. Promete, tal como nos habituou no La Pipe, de boa memória.

Seja bem revindo à blogosfera, fazia cá falta.


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O homem de parcas palavras


Não era homem de muitas palavras; estas eram parcas e esparsas como que esgotáveis se muito remexidas.

Quando escrevia parecia estar fazendo um daqueles exercícios em que o número de palavras é limitado. Quando falava as palavras eram directas, numa simples construção, perfeitamente claras e dirigidas ao assunto. Contudo, era aliciente a leitura do que escrevia. Também o era ouvi-lo. Não se repetia. Não usava subterfúgios. Mas também não se podia dizer que a sua escrita ou fala se regiam por normas em voga (não direi modernas mas na moda) e datadas; também não se escondia naquelas proibições em que alguns querem fechar a escrita por falta de imaginação ou puro vício. Ali havia adjectivos, advérbios e tantas outras coisas pouco enxutas. Havia era o domínio da palavra e a sua aplicação judiciosa e sem tergivações.

Quando falava em alguma conferência, palestra ou no simples convívio social o tempo que tomava era sempre pouco. Dizia o que tinha a dizer e calava-se. E, coisa espantosa, abria a seguir o diálogo com os outros não para se ouvir mas para os ouvir, para os deixar ter tempo de expor as suas dúvidas ou ideias. Tão diferente daqueles palradores que nos impõem a metro as suas palavras que, ainda que trabalhadas, soam sempre a notas falsas e mais parecem um arranjo literário conseguido através duma constante consulta ora ao dicionários ora à gramática. Um tédio!

Não, nele a palavra era escorreita e pura servida por todos os ingredientes literários necessários, apenas parcimoniosamente.

Um dia, um daqueles poetotes convencido e arrogante, fez-lhe uma crítica à pequenez dos seus textos e à falta de utilização duma série de convenções. Foi mais longe, do alto do seu convencimento e posse da verdade sugeriu-lhe que aprendesse com os seus poemas extensos intrincados em quilométricas palavras perfeitamente acentuadas e escolhidas. Ele sorriu, silenciou e deixou que, por um longo momento, se ouvisse o mar e o vento e depois, sem pressas e calmamente, respondeu-lhe:

- Acabou de ouvir um incomparável diálogo cheio de harmonia apesar da ausência de regras – assim devem ser as palavras.

O outro, olhou-o com desdém e continuou a perorar por mais meia hora.


Lisboa, 8 de Novembro de 2005



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quinta-feira, novembro 10, 2005

Entre os diurnos e os anoitecidos


Nas linhas da tarde uma nostalgia calma. O princípio do fim do dia? tão só a noite que chega. Perspectivas. E a escolha da margem mesmo se o rio secou.

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quarta-feira, novembro 09, 2005

Do abraço


no novelo do abraço
desfaço o tempo nas madrugadas
nas pedras que salteiam o rio
nas dobras do imaginário
e na leve ausência de mim

no novelo do abraço
protejo a criança e a história

nas mãos que não sei se tuas se minhas.


Lisboa, 31 de Outubro de 2005



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terça-feira, novembro 08, 2005

Não é uma citação é uma reflexão


Não coloquei estas palavras nas citações porque fiquei a reflectir sobre isto. Uma ajuda para a escrita? talvez.


"The (inner) library contains detailed recordings of everything that has ever happened to us, and these can be recombined in any order… We catch a glimpse of this inventiveness in dreams… but these are obviously some kind of a random selection. Our inner librarian does his best work when we ASK FOR his cooperation."



Colin Wilson, Access to Inner Worlds



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segunda-feira, novembro 07, 2005

Do diário # 6


Percorre os dedos uma azáfama. Inertes não ficamos, parecem dizer. Mas alguém vos mandou ficar quietos, pergunto-lhes. Não é na acção que nós produzimos. Repousa-nos. Libertos dedilharemos no espaço a sinfonia das formas.

Estática fiquei. E, quando se soltaram, da sua autonomia surgiram as pequenas infinitas coisas.


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sábado, novembro 05, 2005

Das ideias


são estranhas as ideias
ondeantes
esgueirando-se nos atalhos
colorindo as calçadas
encobrindo as cores primárias
numa sucessão sem nexo
desprotegida

são estranhas as ideias
irreais
madrugada adentro
numa fuga desmedida
pelo viés da memória
num inconfessável galope
de moribundo

são estranhas as ideias
golpeando as máscaras acumuladas


Ericeira, 26 de Outubro de 2005



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sexta-feira, novembro 04, 2005

É hoje


Lançamento do livro

por favor, um blues de Silvia Chueire

Livraria LELLO, à Rua das Carmelitas, 144 - Porto

4 de Novembro de 2005 - 18 horas


À minha amiga muitos parabéns!

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quinta-feira, novembro 03, 2005

Anoitecidos


Ao lusco-fusco percorre a cidade uma demência sem vulto. Embrulha-se nas esquinas. Infiltra-se nos desvãos. Força as janelas aferrolhadas. Esvai-se na rotina. Ao lusco-fusco a cidade perde a vida e nela consente a morte.

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quarta-feira, novembro 02, 2005

Do diário # 5




Um silêncio de grades invade o sol e os verdes estáticos. Só as nuvens projectam sombras. Estranhamente a calma não me invade. Gostaria de ouvir o grito duma criança ou do mar. Desalinhar esta ânsia. Projectar um espasmo. Há momentos em que o silêncio fere. A sua ausência também.

Ericeira, 20 de Outubro de 2005



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terça-feira, novembro 01, 2005

250 anos sobre o Terramoto de Lisboa







Nos 250 anos do Terramoto de Lisboa extractos de algumas cartas do livro O Terramoto de 1755 Testemunhos Britânicos, edição bilingue, The British Historical Society of Portugal e Lisóptima Edições, 1989.



Querido Irmão,

No sábado 1º do corrente, cerca das 9 horas e meia, estava eu recolhido no quarto depois do pequeno-almoço quando me apercebi que a casa começara a tremer; não compreendi a causa, mas como vi os vizinhos à minha volta todos a correr escadas abaixo, também me apressei, e quando tinha atravessado a rua e chegado debaixo das arcadas de algumas casas baixas, estava mais escuro do que a noite mais escura que jamais vi e assim continuou cerca de um minuto, devido às nuvens de pó provocado pela queda de casas por todo o lado. Depois de clarear, corri para uma grande praça ali perto onde ficavam o palácio a oeste, a rua em que vivia ao norte, o rio, ao sul, e a Alfândega e armazéns, a leste. Mas este funesto terramoto teve uma tal influência sobre o mar e o rio que a água subiu várias jardas na perpendicular, em cerca de dez minutos; nessa altura voltei a correr ao meu quarto, apanhei o chapéu, a cabeleira e a capa, fechei as portas à chave e regressei para onde estava; mas alarmada pelo grito de que o mar estava a avançar, toda a gente inrrompeu em direcção às colinas, eu como os outros, mais o Sr. Wood e família. Andámos cerca de duas milhas pelas ruas, saltando sobre ruínas de igrejas, casas, etc., pisando centenas de mortos e moribundos atingidos pela queda de edifícios; coches, cadeiras e mulas jaziam todos pelo chão, feitos em bocados; e, aquele dia, sendo de grande festividade para a fé católica, e mesmo na altura de se celebrar a primeira missa, milhares estavam reunidos nas igrejas, a maior parte dos quais morreu, pois os grandes edifícios, especialmente os situados em elevações, sofreram o maior dos prejuízos, tendo escapado muito poucas igrejas ou conventos. Antes de termos conseguido sair completamente de entre as construções veio outro abalo, mesmo quando eu estava a passar sob as ruínas de uma grande igreja, mas felizmente pus-me a salvo antes de mais desabamentos.

(...)

Porto de Lisboa, 19 de Novembro de 1755 (carta anónima)


* * * *** * * *



Senhor,

Há cerca de uma semana mandei-lhe uma carta pelo Rainha de Portugal, capitão Rich. Veal informando-o da destruição total e absoluta desta cidade outrora famosa e mercantil, primeiro por um terramoto, cerca de 57 minutos depois das 9 da manhã, seguido por um incêndio. O palácio do rei, o Tesouro, como todos os edifícios públicos em geral, foram vítimas desta terrível conflagração. O incêndio ia aumentando ao passo que queimava, pois ao segundo abalo do terramoto todos os habitantes procuraram fugir, embora muitos milhares morressem nessa tentativa, tendo sido atingidos na cabeça e ficando sepultados sob as casas que ruíam à medida que passavam por elas, de forma que, quando o incêndio começou, não havia habitantes na cidade para o apagar. Lavrou durante nove dias e nove noites com fúria incrível. Ontem andei pela cidade para a observar; não havia sinais de ruas, vielas, praças, etc., apenas colinas e montes de destroços ainda a fumegar. Sua Majestade, a rainha e os filhos permaneceram acampados em Belém, e todos os habitantes que sobreviveram estão acampados em pequenas tendas sobre as colinas em redor da cidade. As nossas apreensões ainda não terminaram pois ontem de manhã, cerca de dez minutos antes da uma, tivemos um tal abalo que nos alarmou ao extremo, e logo ouvimos gritos e vimos toda a gente de joelhos em oração. Cerca de meia hora depois das quatro, nessa mesma tarde, tivemos outro, mas não tão terrível: e assim tem sido desde há 18 dias. O cenário de miséria e destruição é tão horrível, que o sangue se nos arrefece ao dar-vos uma descrição dele.

(...)

Lisboa, 19 de Novembro 1755 (carta anónima)


* * * *** * * *



Querida Irmã,

Sento-me para te relatar a terrível catástrofe que aconteceu à outrora próspera cidade de Lisboa, agora cenário de terror e desolação. No primeiro dia deste mês, às nove e meia da manhã, um súbito terramoto abalou-lhe as fundações e pô-la em ruínas. Nesta hora fatal, as igrejas estavam repletas; e como a sua queda foi momentânea e não deu tempo para a retirada, os que se encontravam nelas morreram esmagados.

É impossível descrever os olhares aterrorizados dos habitantes fugindo em vária direcções para evitar a destruição. Muitos juntaram-se na margem do rio na esperança de salvar as suas vidas por meio dos barcos. Supunha-se que o cais da Alfândega era um lugar de segurança; mas, infelizmente, ficou inundado bem depressa e aqueles que fugiram para lá, apenas escaparam da cidade em queda para encontrar uma sepultura de água. Pais e mães foram vistos a procurar os seus filhos, e filhos a buscar os seus pais. Alguns passaram para o lado do Algarve, a margem oposta; e pela pressa e confusão que se seguiram, não conseguiram encontrar, durante vários dias, os seus amigos e parentes.


(...)


Lisboa, 12 de Novembro 1755 – James O’Hara


* * * *** * * *



Caro Senhor
Muito sinceramente, Vosso Amigo e Criado

Do local que em tempos foi Lisboa


Mal o tremor tinha cessado, um bando de patifes sem remorso começou a pilhar as casas que estavam desertas, pois os habitantes fugiram não sabiam eles para onde, com receio de que os edifícios caíssem sobre as suas cabeças; tão cedo quanto possível, guardas adequados receberam ordens para capturar saqueadores e disparar contra eles em caso de resistência. Aconteceu ir eu a passar na altura em que os oficiais estavam a entrar numa casa para capturar um bando, que ali roubava tudo aquilo a que podia deitar a mão; os ladrões ficaram alarmados com a aproximação dos oficiais, e um deles, vindo à janela de um quarto, exibiu uma espécie de bacamarte, praguejou violentamente que a primeira pessoa que se atrevesse a entrar era um homem morto nesse momento;


(...)


O grande edifício aqui pertencente à Inquisição foi inteiramente destruído pela primeiro abalo. A terra abriu em vários locais, dos quais brotaram terríveis chamas. Vários navios no Tejo, foram quer engolidos pela agitação das águas, quer afundados pela queda do palácio real e outros edifícios situados nas margens do rio.

Ao mesmo tempo, os vários rios que irrigam o reino subiram a uma altura extraordinária e, inundando as suas margens, provocaram grande dano à região adjacente. As montanhas mais consideráveis neste reino e no dos algarves, particularmente as da Estrela, Marvão, Sintra, Arrábida, Montejunto, etc., sentiram igualmente o abalo.

Lisboa, 9 de Novembro 1755


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