domingo, outubro 31, 2004

Júlio Pomar e Soledade




Júlio Pomar, azulejo Posted by Hello



Creio que este azulejo foi feito em especial para a minha amiga Soledade Santos, ou assim quero que seja! Em que outra pessoa eu poderia ter pensado quando o vi? Só nela e, obviamente, na Jade e nos vários gatos que percorrem o imaginário da minha amiga.

Espero que ela "roube" a imagem para a sua Arca da Jade; não a mim mas a Júlio Pomar que fez o azulejo com alma de "gatista".

O pormenor do sapato é, como diriam os franceses, uma "trouvaille".

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Alentejanando



Estremoz recorta-se entre chuva e sol. Posted by Hello

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sábado, outubro 30, 2004

Júlio Pomar e Fernando Pessoa

As fotografias dos quadros não estarão nas melhores condições pois estava impedida de usar flash e havia algumas pessoas que me impediam o melhor acesso aos quadros.


Júlio Pomar, Fernando Pessoa Posted by Hello



Exposição de Júlio Pomar em Sintra, + F.P. Posted by Hello



F.P. Posted by Hello



azulejo Posted by Hello

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sexta-feira, outubro 29, 2004

Exposição de Júlio Pomar em Sintra




O seu retrato pintado no quadro Café Posted by Hello

Ontem, finalmente, fui ver a exposição de Júlio Pomar em Sintra. Aconselho-a vivamente embora já só lá vá estar mais uma semana.

Realço alguns desenhos com retratos de pintores, escritores e outros interventores da vida portuguesa, alguns quadros cuja temática me é fortemente cara - Fernando Pessoa, os azulejos, os quadros emblemáticos como o Almoço do Trolha e Resistência e, particularmente, pelo que muito me tocou, o quadro sobre Frieda Kallo.



Hoje em vez de quadros deixo aqui um seu poema que o JL publicou em 20-02-2002. Mas os posts sobre esta exposição vão continuar...


TRATAdo DITO EFEITO


Corria o septuagésimo sexto ano do meu tempo comum
a gosto estava eu d’algarve, feudo e praça
de babélicas línguas convivendo sem atritos:
nenhuma era pestífera ou de fogo. Vagos sinais


não chegavam a calar nas famílias que

ali buscam as distracções do estio.

Foi aqui num deserto com vento, mas em poço



claro, que entrei de eremita, levado
pela incúria nata ou por inércia,
tépido abraço que emascula
quem nele se repousa.
Ou antes e ao invés, por ardil nascido torto, por dentro
do sonolento acordar que adormece
a pouca energia dos velhos.
Não queria perder a minha
imaginação ligação ao mundo
correio que mesmo sabido sem resposta
ao eremita se proíbe
(não fora os sal da traição como temperar os
arrependimentos, que são o vício dos justos?)

No correr dos anos aprendera
que

o menos chato dos entretens, verão, é jogar ao Criador ou
seja
inventar uma lei e mandá-la à vida. Por forma
menos soez: assentar numa necessidade e de seguida
invocar a contrária. Disse me orgulhava.

Para não perder a ligação ao mundo, a memória que
usada parcimoniosamente nos dispensa algum consolo e
mais alento,
muitas vezes li, irmão António, o que escreveste
sobre o que e sai das mãos e tu conheces.
E então vi-te na pele do logo, obrigatória
testemunha a acreditar o asceta nu,
regalando a mútua crença com cilícios e rezas.
Claro que
destes passatempos me dispensava por saber quanto mal
passa
quem vive até as fezes uma fé ou outra.
Do ler-te a pôr-
me
à beira de uns papeis à espera que as palavras se
abstivessem
de me fugir foi
um passo de ladrão, ou jogo de artifício, a finta cansando
uma dona situação menos que remediada com outro
pobre diabo, o diálogo a quem a fala tarda.

Na escrita da poesia, o espaço entre palavras
ou o que separa as linhas e lhes dá respiração,
tudo o que é branco é (mais que o rasto da tinta, rosto do
visível)
quem figura de refém, e fica por marca
das manhas da pintura.

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quarta-feira, outubro 27, 2004

um traço unindo contrários
reorganizam-se hipóteses

Ericeira, Setembro de 2004

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terça-feira, outubro 26, 2004

Citando #50



Os raios da roda são muitos, mas é o vazio que há no meio que faz andar o carro.

Lao-Tsé

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segunda-feira, outubro 25, 2004

Tardes de leitura

Gosto do remanso das tardes de leitura. Deitada sobre a cama ou espreguiçada no maple deixo-me envolver pela voz ritmada das palavras, pelas suas efabulações ou ainda pelo intrincado enredo da história que elas constróem e que me permite, ousadia calada, compor e recompor a narrativa como se ela me pertencesse e fosse eu que a dominasse. E que prazer quando, por um acaso, é minha a história que ali vem contada! isto é, antecipei-a na minha cabeça e o autor serviu-se dela. Quase que me zango; não com o autor mas comigo por a não ter previamente registado!

Gosto destas tardes de leitura e de escrita imaginária quando, embalada pela leitura percorro a palavra na senda da imaginação. Falta-me apenas dominar a palavra, recriá-la, construí-la, reconstruí-la, dar-lhe omissos significados. Infelizmente isso já não é possível pois ela, ali, pertence ao autor.

Gosto destas tardes de leitura em que, aqui, comigo, me ausento de mim.

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sexta-feira, outubro 22, 2004

Citando #49



O escritor, por exemplo, constrói uma casa de palavras para ouvir o seu silêncio interior.

Affonso Romano de Sant'Anna

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quinta-feira, outubro 21, 2004

Discorrendo


Guardo ainda a criança nas mãos do tempo
extravagante e ébria como o pião de madeira
correndo desgovernado ao sabor do cordel;
há nela o grito lento da antecipação
o jogo das formas no claro/escuro da parede
a vitalidade irreflectida da chegada
e o perfume das rosas na tarde que finda.

Guardo ainda a criança nas mãos do tempo
que os dedos percorreram sem limites
e o mar inundou na fúria do equinócio.

É já outra a criança e, contudo, tão só ela!

Lisboa, Outubro de 2004

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quarta-feira, outubro 20, 2004

Leituras


Acabei de ler Erec e Enide de Manuel Vázquez Montalbán. Um livro de enredos e sentimentos. De vida. Do presente e do passado e das tramas que neste último se podem encontrar para enredar o presente. Gostei da força com que o autor me agarrou e do cruzar das situações que se vão entroncando. Gostei ainda do final e dos complementos que o autor deixou para mim.

Gostei. Muito.

Manuel Vázquez Montalbán, Erec e Enide, Difel, 2002, tradução de Luís Filipe Sarmento

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terça-feira, outubro 19, 2004

Absolutamente inofensivo

E de acordo com o meu clube.


Green



You are a very calm and contemplative person. Others are drawn to your peaceful, nurturing nature.




Find out your color at Quiz Me!


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segunda-feira, outubro 18, 2004

Notícias de Cabotagem

Para a coluna do lado entraram mais os seguintes blogs que frequentemente visito e onde encontro bons e variados conteúdos.


O Árbitro das Elegâncias

blog de notas

Desassossegada

Eelko Van Mulder

Errante

Escrita Íbérica

Et alors

Exacto

A Fonte

George Cassiel

A Ilha do Dia Antes

Limites de Luz

Livros com Letras

Miniscente

Poligrafia

Poros e Cendais

Saudades de Antero

Seta Despedida

Texere

Zênite

Zoológico

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Citando #48



La poésie est une longue hésitation entre le son et le sens.

Paul Valéry

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Enquanto é tempo!

Foi-se o My Moleskine felizmente ainda há A Montanha Mágica

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domingo, outubro 17, 2004

Outro Adeus

Já tenho saudades do My Moleskine.

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sábado, outubro 16, 2004

Sem título

não é mais o tempo nem o que não realizei
são as sobras remanescentes e escassas
é ainda o prazer do átimo minuto
e os fios com que agarro o cordame

é o desvario de inventar a lua a polarizar o sol!

Lisboa, 15 de Outubro de 2004

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sexta-feira, outubro 15, 2004

A não perder

Paula Rego
15 de Outubro a 23 de Janeiro de 2005

A exposição apresentará uma selecção da obra de Paula Rego produzida a partir de 1996, incidindo particularmente na relação entre a sua pintura e o desenho, assim como na construção de situações ficcionais singulares e idiossincráticas. A artista apresentará pela primeira vez os desenhos preparatórios das suas pinturas, realizando ainda uma nova série de trabalhos, especificamente pensados para esta exposição, a partir de um tema onde surja como referência a cidade do Porto. A exposição terá início no Museu de Serralves, encontrando-se em estudo a sua itinerância por Espanha, França e Itália, sabendo-se já do interesse da Colecção Saatchi em poder ser a entidade co-produtora onde a exposição terá a sua última itinerância.


Comissariado: João Fernandes e Ruth Rosengarten
Co-Produção: Museu de Serralves, Colecção Saatchi (Londres)

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Citando #46



...Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better.

Samuel Beckett

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quarta-feira, outubro 13, 2004

Anoitecidos


Lá fora já não há o mar e o ar é mais pesado, há também o silêncio das ruas desertas.

Aqui dentro, na noite, há o relógio de mim que mastiga no encaminhar das horas memórias de antiquíssimas paragens. Estas, outras e as que hão-de vir.

Será o relógio da cidade o moderno Sísifo?


Lisboa, 13 de Outubro de 2004

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Conselho


Volta ao mar mas não o olhes
segue-o
como o caminheiro perdido
desdobrando a candura.


Ericeira, 2 de Setembro de 2004

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terça-feira, outubro 12, 2004

Almoço

Que conversa haveria hoje ao almoço na esplanada do Doca Seis numa mesinha do canto entre José Eduardo Moniz e Miguel Sousa Tavares?

Apenas a apanhar sol e a deliciarem-se com a boa comida que ali é servida?

Pareceu-me, ao longe, ouvir as Tágides ecoar contraditórios!

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Citando #45



O poema não é feito dessas letras que eu espeto como pregos, mas do branco que fica no papel.

Paul Claudel

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segunda-feira, outubro 11, 2004

Repondo#1 - Glimpse



não havia referências nos sulcos da noite
só imagens sequenciais delimitavam a linha
esfumada e oculta que as traduzia.
havia apenas as vozes familiares que os anos
distorcem nas palavras e nas imagens.
era ainda o mesmo mar e as estrelas
agrupavam-se na ordem celestial
mas nenhuma percorreu, fugidia, o espaço
e não houve ensejo para o desnorte
tão só a vacuidade de uma noite imensa e igual.
ficaram as vivências e alguns olhos coincidiram
no estreito pernoitar de efémeras lembranças


marginais pirilampos dos dias de bruma!


Ericeira, 24 de Agosto de 2004

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sexta-feira, outubro 08, 2004

Citando #44



Um grama de acção vale uma tonelada de teoria.

Friedrich Engels

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quinta-feira, outubro 07, 2004

Anoitecidos


Só o silêncio interrompe a noite na casa e nem o barulho do mar alcança o ouvido ou sequer aquela impressão de certezas.

Silêncio onde tristonho e irritante navega a vibração monocórdica do laptop em acção.

Sei da noite para lá da portada e do barulho com que a vaga martela as rochas das Furnas - sinais de vida que nenhum silêncio apaga enquanto este mar presencial morar em mim.


Ericeira, 6 de Outº 2004

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terça-feira, outubro 05, 2004

Alentejanando



Alentejo, Outº 2004 Posted by Hello



Lavando a vista nas grandes extensões enquanto, ao fundo, Extremoz se deixava contemplar. Um universo barato, como diria Pessoa. O meu, como ele também diria.

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sexta-feira, outubro 01, 2004

Bluff&Caos

BLUFF&CAOS
(poema/narrativa)

Helena Faria Monteiro


1º Narrador

Aconteceu a 11 de Setembro de 2001. Tudo mudou. Enegreceram-se as vidas nos meandros do medo. Não mais. Perderam-se as memórias nas incógnitas do silêncio. Começou o caos.

2º Narrador

Enganas-te. Já houve outros 11 de Setembro e a vida continuou. Há incomensuráveis bluffs escondidos no caos. Das cinzas regressará a vida.

1º Narrador

Nada. Nunca nada foi assim. Nem guerras. Nem cataclismos. Nem assaltos. Nem usurpações. Nem racismos. Perdeste a liberdade no caos da inconstância. Da dor. Do medo. Do imprevisível.

2º Narrador

Um dia a História te esclarecerá. E verás que o ódio gera ódios. A prepotência organiza a resistência.



Correram as dores no horror das angústias.
Atropelos.
Já não há acordes nas melodias
os violoncelos calaram-se e a harmonia
despedaçou fragmentos no som dos oboés
as palavras perderam os sentidos e os homens
desaprenderam os sons dos fonemas.
Ó humanidade, pobre rebanho acossado
onde te instalaste?
Medo dos medos tolheram-te
a fala e o respeito.
Quem te destruiu? Onde estão os lugares
paradisíacos onde os homens lavavam
as impurezas acumuladas?
Onde os amanheceres rubros desaguando
nos lagos dos pôr-do-sol reflectidos?
Onde as mãos que arriscam gestos
cúmplices e desassombrados?
Onde os risos casuais fluindo
nas crianças nunca perdidas.
Onde? Onde?
O vazio navega pelo mundo e teme-se que pela galáxia.



CORO

Haveis de ouvir o medo e a dúvida seguir-vos-á no fluxo das dores.
Trevas. Mutilações. Mortes. Horror.
A paz está esfumada nos meandros dos medos.



1º Narrador

Continua. A desordem instalou-se e rebenta quando menos se esperar. Além. Aqui. Noutro lugar. Por todo o lado. Numa acelerada imprevisibilidade. Temos de lutar. Fazer frente à fúria demoníaca. À besta a abater. Temos de os dizimar.

2º Narrador

Dizimar quem? Esses? Os visíveis? As bestas que atacam às claras? Se sim, então também terás de dizimar os outros. Os que lenta e consentidamente vão destruindo o planeta. Os que sonegaram o futuro das crianças. Os que armam aqueles que queres destruir. Os belicistas endémicos protegidos na capa de vítimas antigas. Os desesperados que comoveram o mundo e hoje usam armas idênticas e só não chegam à solução final porque ainda não dominam o mundo. Bluffs, meu amigo. Ódios bélicos disfarçados na máscara do dinheiro e do poder.

1º Narrador

Não compares. A besta é incivilizada. Não merece sobreviver.

2º Narrador

A tua linguagem é o caos do ódio. Os teus são a parede que separa o bem do mal. Que bem? Que mal? O engano utópico da ganância sem preço? A liberdade espezinhando a vida daqueles que mantêm atrás do arame farpado da injustiça, da miséria, da raiva, da terra roubada, da fome, da incultura, da subsistência? A paz fétida do arrogante vencedor? Bluff da prepotência!



Os sentimentos perderam os sentidos
exangues congelaram no espanto
entregues à solidão já não sonham
vagueiam e isentam-se de ser.
Amorfos, extenuados, autistas
no limbo do medo medem a ausência.



CORO

Haveis de ouvir o medo e a dúvida seguir-vos-á no fluxo das dores.
A ausência de ser ou de sentir só prolonga o caos.
A paz está esfumada nos meandros dos medos.



VOZ

Trantantan... Trantantan... Trantantan... São gratuitas as palavras. E eles continuarão sempre este diálogo de surdos. O Tântalo das palavras. A imbecilidade da prosápia.



Há rostos esfumados nas saliências dos medos
obtusos circuitos onde a humanidade se acolhe
nem acção nem promessas ¿ sobreviventes ¿
perseguindo passos perdidos
subsistemas na amálgama das raças
dos credos
das motivações insuspeitas já previamente
vendidas.
Rostos fatigados perseguindo
o solitário poder de uma vida agasalhada
no conforto, no dinheiro, no poder, na condição
acobertada atrás do colete à prova de balas
dos vidros inquebráveis
dos seguranças
da ausência de dúvidas
da liberdade perdida.
Rostos sem idade bloqueados nas rugas
esteticamente depiladas no padrão obrigatório
do perfil.
Indiferente passa o vento
ululando divertido
esfumando ainda mais os rostos despercebidos.
Senhorial na sua força
natural e bruta.



CORO

Haveis de ouvir o medo e a dúvida seguir-vos-á no fluxo das dores.
A sobranceria espetou-se no arame que vos protege a alma.
A paz está esfumada nos meandros dos medos.



1º Narrador

Não poderá haver tréguas. Só morte. A espiral cresce e nós temos de os destruir. Outras torres se reerguerão quando as bombas, qual avião, tiverem acertado no embrião de vida que os prolonga. Erradicação. Destruição. Os fins sempre justificaram os meios. A História tem de ser reescrita.

2º Narrador

Antes de carregares no botão diz-me onde fica a terra a abater. No meio dos ímpios prefiro permanecer.

1º Narrador

Nunca aprenderás. É por aqueles como tu que o mundo não progride. Para que queres a consciência ao arrepio das certezas? Estúpido. Sai da frente. Foge que o ódio é mais seguro.

2º Narrador

Encontrar-nos-emos um dia, amigo. Não te esqueças da cíclica mutação da vida. Adeus. Até ao rio sem caudal, ao porto dos homens sem retorno.



Ouve-se demasiado o silêncio e o ar está parado.
Há cinzas cobrindo o campo de visão
e os pulmões bloquearam.
Os uivos desapareceram e o vento passou.
Paralisaram os gestos nos tubos
por onde verteram a anestesia.
A chuva desviou-se da rota e já não lava
as fúrias enegrecidas.
As lágrimas partiram e não encontraram
o caminho do retorno.
O mar enrolou-se no vapor das angústias
secando nas bocas sem saliva.
Já não há sinos nos medos e a cabeça
esvaziou-se de ideias na fúria do caos.




-Louco, sim, louco, porque quis grandeza

Porque o que me importa é que já nada importe...
Nada nos vale
Que se debruce sobre nós a Sorte,
Ou ténue e longe, cale
Seus gestos... Tudo é o mesmo... Eis o momento...
Sejamo-lo... Pra quê o pensamento?...


As coisas não têm significação: têm existência
As coisas são o único sentido oculto das coisas.


Inglória é a vida, e inglório o conhecê-la.
Quantos, se pensam, não se reconhecem
Os que se conheceram!
A cada hora se muda não só a hora
Mas o que se crê nela, e a vida passa
Entre viver e ser.


Cárcere do Ser, não há libertação de ti?
Cárcere de pensar, não há libertação de ti?
(*)




Por entre os rugidos do vazio escorrem
indeléveis artroses de esperanças
pequenos borrões de fantasias
involuntários sonhos desprezados despregando-se
do valor dos ódios e medos.
Restos sobras migalhas
águas embaçadas de impurezas
caleidoscópios filtrados nas vagas horas
onde o sol se acoita e o rubro intenso do pôr-do-sol
se afirma
e repete.
E tudo se repete numa cadeia ilógica
só mais uma passo e espera
no desvão entreaberto de ti
o regresso da chuva, do vento, do mar
também da vida
e dos homens.
O segredo dos silêncios e das palavras
e a teimosa fé de prosseguires.



CORO

Haveis de ouvir o medo e a dúvida seguir-vos-á no fluxo das dores.
Já não há vida nas verdades e os ventríloquos morreram asfixiados nas utópicas cordas vocais. Bluffs no caos da memória.
A paz está esfumada nos meandros dos medos.



VOZ

A injustiça será vingada no sangue dos arautos da verdade.
O poder em pó se purificará.
Na ausência do rancor renovar-se-á a liberdade.
E do murmúrio anónimo ressurgirá o advento pacificado
do homem novo prometido.

Criança de rasgados olhos amendoados unindo
na fusão das raças e credos todo o ódio antigo.




(*) Fernando Pessoa e seus heterónimos


Lisboa, 23 de Novembro de 2002

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Estações de Metro



Metro de Moscovo
 Posted by Hello



Aqui pode ser visto o mapa com algumas das estações.

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