terça-feira, novembro 30, 2004

O nojo da política



Este pensa que deve ir sozinho porque... mas... em caso de... o outro espera para ver o que aquele vai fazer e se... então, aqueloutro que estaria na calha encolhe esperando o momento propício para... por... quiçá...; assim, todos esperarão juntando o se... ao mas... mais ao talvez... e depois... logo se verá.

Sobre o país e o povo, nada.

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No dia da sua morte

Faz hoje anos que morreu Fernando Pessoa - um poema antigo.



Confissões



sentei-me, hoje, aí contigo
na pequena mansarda que habitaste
bem perto da casa de meus pais
num esconso duma leitaria
e entre um bolo de arroz
e um café
deixei-te fazer o meu mapa astral

que susto!
quando me afirmaste
que quem nasceu nesse dia
nessa hora, nessa cidade
não fora eu - era a outra
a criança encurralada
na casa grande de Campo d'Ourique
a que dava dissabores
a que não estudava
a que tinha medos sofridos
a que inventava
essa, a tal,
a desconhecida
a que cedo aprendeu a calar
seu interior
a que só se afirmava
na solidão
a que passava encostada às paredes
a que na sesta obrigatória
contava histórias a si própria
a partir das sombras que passantes
projectavam na parede;
a outra, a espalhafatosa
a que ria
a Maria Rapaz
a das correrias e amigos
não existia
não nascera
era fumo
pura invenção
raiva e disfunção

depois... ao veres meu medo e cobardia
lançaste teus castelos ao vento
e no teu jeito melancólico
distanciado, solitário mas vibrante
falaste-me dos teus muitos outros
e ainda dos outros que nunca verbalizaste
dos inventados para baralhar
o burguês académico e pseudo-intelectual
daqueles que não chegaste a encontrar
mas que pressentiste
nos teus corredores de solidão
que, em ti, formavam um labirinto
depois ainda
largaste a rir
da tua estátua na Brasileira
"- pobre de mim, maltratado em vida
depois de morto, ao sol, à chuva,
às festinhas dos passantes
dos solitários que comigo conversam
dos turistas que me levam nos seus
daguerreótipos actuais.
...
e a Casa Fernando Pessoa?
- onde me quiseram cercar -
aquele vespeiro de lobbies
de senhores que se acotovelam
para em biquinhos dos pés
serem maiores do que eu!...
...
deixem-me rir...
e dizem alguns que eu era louco!
tudo depende do ponto de vista
ou do ponto de fuga!..."

pois é, mestre,
é preciso fabricar loucos
para serenar os espíritos vãos
daqueles que nada são!

e porque estava frio
saímos os dois de braço dado
ao encontro dos nossos eus

hfm
Lisboa, 28 de Janeiro de 2000

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segunda-feira, novembro 29, 2004

Horizontes



Black-towers, reflections


A opressão foge por entre os vidros – ainda se pode respirar!


Fotografia retirada daqui.

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Citando # 60


Do not fear to be eccentric in opinion, for every opinion now accepted was once eccentric.

Bertrand Russel

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sábado, novembro 27, 2004

Sem título


foge a palavra do texto
entornando vazio sobre a folha
- greve nas letras!

Lisboa, 26 Novª 04

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sexta-feira, novembro 26, 2004

Faleceu Fernado Valle

Morreu hoje Fernando Valle - um grande Homem! E eu curvo-me perante esta figura lendária do homem do "antes quebrar que torcer!". Portugal ficou mais pobre!

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Pablo Picasso



La dormeuse, Paris, 1947 - 49,7x65,2cm Posted by Hello


Este post é dedicado a alguém que me ampliou o olhar.

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Citando # 59


O silêncio está tão repleto de sabedoria e de espírito em potência como o mármore não talhado é rico em escultura.

Aldous Huxley

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quinta-feira, novembro 25, 2004

Sem título

transposto o corrimão – o vazio
uma essência alada de solidão
e silêncio
estranhas harmonias construindo o vértice
secular ausência – umbigo do mundo

oscilando entre degrau e vazio pendulava a escolha.

Lisboa, Setembro de 2004

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Citando # 58


Freedom is not worth having if it does not include the freedom to make mistakes.

Mahatma Gandhi

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quarta-feira, novembro 24, 2004

Moleskine


Comprei um Moleskine; agora saberei relatar as milhas guerras internas nas lentes desfocadas das palavras e dos rabiscos.

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terça-feira, novembro 23, 2004

Sem título


uma gota de orvalho
suaviza o luar
no brilho do oceano

- breviário do momento.


2004

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Citando # 57


Que importa que já o saibas? Só se sabe o que já não nos surpreende.

Vergílio Ferreira

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segunda-feira, novembro 22, 2004

Notícias de Cabotagem VI - As margens do Douro



E termino com fotografias das margens do Douro todas tiradas do lado de Gaia. Qualquer palavra mais seria redundante.



A Riberia ao fim da tarde vista de Gaia



As margens do Douro do lado de Gaia ao anoitecer



De nova a Ribeira



Caindo a noite





Saliento ainda a Adega de S. Nicolau na Ribeira onde comi preciosamente umas costélinhas (não esquecer de acentuar o é!) com arroz de feijão e salpicão. Pena que na net os sabores e odores ainda não possam circular!
Um restaurante genuíno e onde a simpatia marcou lugar.

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domingo, novembro 21, 2004

Notícias de Cabotagem V - Rua de Entrequintas


É por aí que se inicia o percurso romântico na cidade do Porto. Um pouco abaixo do Palácio de Cristal contorna-se um muro e, de súbito, sentimo-nos no campo, nos verdes e, de onde em onde, ao fundo, o Douro olha para nós.

A rua que dá acesso ao Museu Romântico Posted by Hello



O Douro olhando-nos Posted by Hello



Aí, no nº 220 fica o Museu Romântico, na antiga Quinta da Macieira, Macieirinha ou do Sacramento, num edifício com data do sec. XIX. Uma reconstituição de uma casa da burguesia abastado de Oitocentos onde veio a falecer Carlos Alberto, Rei do Piemonte e da Sardenha já, então, exilado.

Entrando os portões da casa Posted by Hello


A rua que ladeia a casa Posted by Hello




Na parte debaixo da casa fica o Intituto do Vinho do Porto com pequeno jardim e balcão sobre o rio e a Foz.

Uma varanda sobre o Douro e o mar Posted by Hello



A vista, os aromas e os sabores merecem uma visita pausada ao ritmo de outros tempos.

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sábado, novembro 20, 2004

Notícias de Cabotagem - + 1 link


Vai aqui para a coluna do lado um blog de que sou assídua leitora - A Revolta das Palavras. Gosto do ar despretensioso e do humor que perpassa pelas palavras que ali se revoltam num toque vertical, humano mesmo quando corrosivo. Eu vou lá diariamente.

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Notícias de Cabotagem IV


Porto, Livraria Lello Posted by Hello


também estive aqui; pena o ar decadente em tão belo interior.

A fotografia foi o que se conseguiu arranjar mediante um esplendoroso sol de inverno!

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Notícias de Cabotagem III


2ª feira passada no Majestic no Porto – reunião magna de alguns ilustres advogados com mesa e microfone para os que se perfilam à presidência da Ordem dos Advogados botarem faladura. Tudo pancadinhas nas costas, risos e aquele artificialismo de um papel bem estudado. Não sei porquê mas aquilo cheirou-me a um corporativismo bafiento.

E o que é certo é que conseguiram, por o arraial que fizeram, despejar aqueles que apenas ali tomavam o seu café.

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sexta-feira, novembro 19, 2004

A não perder


Aqui, obviamente na Montanha Mágica.

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Notícias de Cabotagem II



Paula Rego - A capoeira, 1998, Pastel sobre papel montado em alumínio, 150x150cm Posted by Hello



Um dos muitos desenhos Posted by Hello


É forte esta pintura cheia de múltiplas leituras e escondidos significados transparecendo nas cores e nas suas relações. Primordial é ainda o desenho e as suas desconstruções.

Gostei muito e trago ainda nos olhos as histórias que em desenho e cor Paula Rego transporta de si para o papel.

Há, contudo, dois pontos negativos naquela exposição e que, para mim, Serralves terá de cuidar em futuras exposições. A iluminação – os reflexos dos vidros onde se espelham os quadros que estão atrás e a incidência da luz que impede que o ângulo de visão seja correcto. As legendas dos quadros com sequências enganadoras e erradas.

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Notícias de Cabotagem I


Um bom dia para todos!



Nos jardins do Museu Romântico - Porto 2004 Posted by Hello

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domingo, novembro 14, 2004

Cabotando


Até 5ª f. estaremos cabotando por aqui e não só.

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Cabotando no passado


E de repente vi a adolescente descendo com uma amiga suíça Whitehall em direcção ao Big Ban. Contrariando o habitual era um dia de sol em Novembro. De repente uma salva de canhão e todos pararam em posição de estátua. A adolescente e a amiga olharam-se interrogando-se sobre o que se estaria a passar. Era surrealista a cena. Havia um senhor que mantinha o braço levantado agarrando uma pasta e assim ficara quando soara a salva – perfeita posição de estátua! Quando tudo voltou à normalidade vieram a saber que se comemorava o armistício ali junto ao Cenotaph.

Lembrei-me de tudo isto hoje, volvidos muitos anos, vendo na Sky News a tradicional comemoração.

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Poema


Não havia um poema era o vazio
estrelas cadentes ofuscando as palavras
remoinho de ideias sem formas
num puzzle que não encaixava.
Não havia um poema só sinais
e a palavra do tempo sem resposta.

Colava-se-me à pele uma maresia
maremoto de significados!


Novº 04

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sábado, novembro 13, 2004

Notícias de Cabotagem


Nas minhas deambulações pela net encontrei esta página que recomendo a todos que gostam de pintura e especialmente de Hopper

Edward Hopper Scrapbook

compilação feita pelo Smithsonian American Art Institute.

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Citando # 56


Os problemas levantados pela interpretação da obra de arte apresentam-se sob o aspecto de contradições permanentes. A obra de arte é uma tentativa para alcançar aquilo que é único; afirma-se como um todo, um absoluto, mas pertence simultaneamente a um complexo sistema de selecções. É o resultado de uma actividade independente, traduz um devaneio superior e livre, mas é também um ponto onde convergem as linhas de força das civilizações.

Henri Focillon, A Vida das Formas

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sexta-feira, novembro 12, 2004

Mata-borrão


Reminiscência de uma escola e de uma idade.



Relíquia - rectângulo de 12x6cm Posted by Hello

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Citando #55



Para comandar os homens, marcha atrás deles.

Lao-Tsé

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quinta-feira, novembro 11, 2004

Num dia de chuva ouvindo Grieg


chove nos dedos da chuva
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxe no mar
clareiam as rochas na bruma
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxe no sal
peer gynt solta-se das ondas
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxe sobe aos castelos
sintra acolhe-os nos quadros de pomar
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxe ambos se aprumam a norte
num voo de aves quase migratórias
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxe de peixes alados
aconchegam-se nos fiordes
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxe solidificam-se glaciares
nos mitos dos séculos
xxxxxxxxxxxxxxxxxe dos homens

Amén!

Ericeira, 24 de Outubro de 2004

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Citando #54



Se eu vi hoje mais longe, foi por estar de pé sobre ombros de gigantes.

Isaac Newton

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quarta-feira, novembro 10, 2004

Na vida do sono


Acordei cansada. Não parara apesar do corpo ali ter estado toda a noite e, a olhar para os lençóis, nem me parece que a noite tenha sido agitada! Cansada. Percorri lugares, pessoas, sentimentos, uma colecção de imagens difusas como uma aguada sem patine ou, melhor, uma velatura dos mestres do Renascimento. Tudo difuso. Ausente. Pontas que não consigo ligar. Pontes que não sei se percorri, atravessei ou se apenas vislumbrei. Pessoas conhecidas em contextos contrários. Lugares misturados numa simbiose de loucura. Cansaço. Grande. Mas, agora, conscientemente, sei que não trocaria esta noite por nada.

Ficaram ligações. Imagens. Aberturas no cérebro por onde a imaginação pode deambular. Ficou um simbolismo – istmo cheio de promessas.

Noite surrealista e imensa!

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terça-feira, novembro 09, 2004

Visita recomendada


Biblioteca do Convento de Mafra Posted by Hello



Recomendo a visita guiada - deve ser reservada - que é feita à biblioteca do Convento de Mafra.

Desde criança que apenas observava a biblioteca atrás de um cordão e do fundo, donde foi tirada a fotografia, e sempre pensara que deveria ser bom poder estar lá dentro, olhar os livros, cheirá-los, aperceber-me da sua arrumação.

Desta vez tudo isto foi feito e ainda tive o privilégio de poder ver folheados alguns manuscritos assim como o primeiro catálogo.

Uma visita a não perder. Para mim, uma visita a repetir.

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Citando # 53



Viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir - é lembrar hoje o que se sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida."

Fernando Pessoa

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segunda-feira, novembro 08, 2004

Micro


de veia em veia
sangra a vida!


2004

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Citando #52



Ninguém ganhou a última guerra nem ninguém ganhará a próxima.

Eleanor Roosevelt

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sexta-feira, novembro 05, 2004

Procurando uma resposta



O que sou eu? uma amálgama do eu genético e dos sedimentos justapostos que o tempo, a vida, os outros, os acontecimentos em mim foram deixando. Um palimpsesto ancestral.

Gostava de saber o que é só meu. Qual a carga com que nasci, a que trabalhei, a que construí. Mas tudo o que não for inato já não sou eu. Apenas confluências, Influências. Confluências de influências.

Eu e todos os outros eus mutantes que me habitam. Como os vírus actuais.

Eu? Qual eu se não me conheço? Sou uma mistura, o produto de somas, divisões, raízes quadradas e muitas incógnitas. Uma equação de várias incógnitas. Produto nunca acabado. Uma conta de dividir sempre com resto, um número cheio de casas decimais.

O Bilhete de Identidade existe, está em ordem e completo mas quem é essa, com esse nome e essa idade – apenas a filha de meus pais, nascida a tantos de tal, portadora de uma identidade onde há um tanto dela, mais uns gramas de vida e de história e o peso que os outros deixaram em mim moldando q.b. aquela que fui na outra que sou.

Talvez o carbono 14 me descubra.

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quinta-feira, novembro 04, 2004

Última Peça

Corrida a cortina para Jacinto Ramos; acabo de o saber agora através da TSF.

Há um gosto amargo e a memória das suas actuações e do meu despontar para o teatro. Era um Senhor e apesar de retirado era ainda uma referência.

Apagaram-se as luzes. Dói cá dentro.

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Leituras


Mais um livro que aconselho A Sombra do Vento de Carlos Ruiz Zafón, Dom Quixote, 2004. Gostei do intrincado das situações e dos sentimentos. Um livro que li de uma "penada".


A Sombra do Vento é um mistério literário passado na Barcelona da primeira metade do século XX, desde os últimos esplendores do Modernismo até às trevas do pós-guerra. Um inesquecível relato sobre os segredos do coração e ofeitiço dos livros, num crescendo de suspense que se mantém até à última página.

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quarta-feira, novembro 03, 2004

After the exposition



Fernando Pessoa vagueia
pela chuva
e do alto do Monte da Lua
ordena a cor
desestruturando o traço.
Pomar agradece
e presenteia-o
numa ode calada de emoção
e vida
convocando outras tertúlias
Pöe, Baudelaire,
Eugénio, Cardoso Pires
e tantos outros –
fantasmas que carrega nas telas
e nas tintas com que cobre
as camadas que o uso
sedimentou nas veias e na arte.

Em nós – o real abrindo-se ao imaginário!

Sintra, 28 de Outubro de 2004

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Para terminar


Para terminar esta série sobre Júlio Pomar dizer apenas que continua aqui:

JÚLIO POMAR: A COMÉDIA HUMANA

De 8 de Outubro a 2 de Janeiro de 2005

A exposição tem dois temas principais: o estilo tardio de Júlio Pomar e o espírito de comédia da sua obra.


No Centro Cultural de Belém

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terça-feira, novembro 02, 2004

Face à face


Júlio Pomar Posted by Hello

É próprio da realidade tornar-se outra.
...O próprio do real é abrir-se ao imaginário
.




Paul Cézanne Posted by Hello

A cor é o lugar onde o nosso cérebro e o universo se encontram.

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segunda-feira, novembro 01, 2004

Os que deram brado



O Almoço do Trolha Posted by Hello



Resistência Posted by Hello

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