sexta-feira, setembro 30, 2005

Mito, lenda?


Quando os deuses os amam resta-nos a sua perene juventude e, neste caso, a sua imagem de rebelde sem causa.



James Dean


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quinta-feira, setembro 29, 2005

Das mãos


não te direi das mãos
vagueiam ocas por sobre as ondas
do teu corpo
ao arrepio das correntes
no aroma líquido das brisas
na sinuosa paz do crepúsculo
rasgando densidades
despontando dúvidas

mãos impróprias desbravando
matas e carreiros
esquecendo rotinas

mãos
apenas


Lisboa, Setembro de 2005



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quarta-feira, setembro 28, 2005

Citando # 141


O cofre do banco contém apenas dinheiro. Frustrar-se-á quem pensar que nele encontrará riqueza.

Carlos Drummond de Andrade



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Amarragens # 16


Um poema que toca - aqui.

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terça-feira, setembro 27, 2005

Das ondas


De um cavalo parecem as crinas
ondulando sobre o azul
Pégaso surfando?


Ericeira, 18 de Setembro de 2005



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segunda-feira, setembro 26, 2005

Diurnos # 8


Não, não sei de ti. Só o vento espalha a memória e cada madrugada embranquece o murmúrio. São longas as vistas na imensidão do oceano. São duras as perdas dos minutos não conseguidos. Permanece imutável a viagem do silêncio que alonga as minhas pernas numa indecifrável procura.

Não se colam os rasgões e ao puzzle faltam peças. Subsistem ainda os arquivos nos sótãos das lembranças mas sempre me disseram que o melhor era não tirar a patine. Abro a janela e o vento se encarregará de trazer ao de cima as marcas do palimpsesto.


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domingo, setembro 25, 2005

O Forte de Milreu


Nas caminhadas matinais um olhar sobre o Forte da minha infância. Aí, nas tardes de verão, muitas aventuras sonhámos no meio de brincadeiras e fantasias.

E havia ainda as histórias. Os corredores subterrâneos que do Forte chegavam à Capela de S. Sebastião e vice-versa. Lendas que nós ampliávamos e que as imensas grutas existentes na rocha expandiam.

Um dia destes tenho mesmo de ir até ao Forte.




Setembro


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sábado, setembro 24, 2005

O penedo do Cabo da Roca


ao fundo, o penedo, destacando-se da branca pasta da bruma
parece entrar pela casa e despentear o silêncio;
estática é a hora e a distância do tempo
e na confrangedora sucessão dos dias
só o penedo avoluma as palavras e a estética
do instante

como um navio fantasma solta-se, na insónia dos mortos,
e assume-se, enorme, baralhando a paz e a constância.


Ericeira, 10 de Setembro de 2005



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sexta-feira, setembro 23, 2005

Maré baixa


Aproveitando as marés muito baixas que têm estado.



na apanha do mexilh�o


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quinta-feira, setembro 22, 2005

Equinócio de Setembro


Ainda vejo as vagas avançarem para a praia – rápidas, grandes e o meu pai, saído de uma gripe, cair na areia - que a vaga lambia - todo vestido; estava junto ao paredão, sentado numa cadeira de lona e menosprezara a força do mar que tão bem conhecia – simplesmente levantara os pés e deixara a onda avançar esquecendo-se da sua força que cavara a estrutura movediça onde a cadeira se sustentava. Foi memorável e ficou para os anais das histórias da praia do sul.

Ainda vejo a vaga, entre tantas outras, avançar para a praia e uma mão agarrar-me; quando dei por mim estava empoleirada na sólida (?) estrutura do banheiro com um amigo meu por cima de mim e a mãe dele protegendo-nos aos dois. Deveria ter aí uns oito anos.

Ainda sinto o respeito com que olhávamos o mar e o Zecas Cardoso desafiando as ondas.

Ainda me recordo de outras tantas histórias que não vivi mas que foram passando de geração em geração.

Era com um misto de medo e ânsia que esperava o equinócio de Setembro.

É ainda com respeito que hoje oiço o barulho das ondas e observo o bailado da sua rebentação nas Furnas (enquanto as não destruírem totalmente). Oiço? Observo? melhor seria dizer ouvia, observava, é que o mar está flat e o equinócio também já não é o que era... espera-se que seja apenas culpa da lua.


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quarta-feira, setembro 21, 2005

Os dois pratos da balança da Justiça


Um deles está desregulado (para não lhe chamar outra coisa) pende sempre para o mesmo lado.

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Palavras


pictogramas ora com traços ora com música.

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terça-feira, setembro 20, 2005

Do silêncio


Do silêncio nem a noite escorre
nem as palavras driblam os sentidos
só a mordaça acomoda o grito.

É a noite, tal a morte,
gémea do devir
para além dos gestos, das angústias
na esteira da onda
promessa adiada
que sempre se cumpre.

Insone vagueia o mar.

Ericeira, 17 de Setembro de 2005



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segunda-feira, setembro 19, 2005

Amarragens # 15


Aqui.

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domingo, setembro 18, 2005

Mais um blog encerrado


Ainda não estou em mim, o La Pipe acabou. Ficam as palavras e a empatia e um imenso obrigada.

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sábado, setembro 17, 2005

Anoitecidos


Talvez a lua amplie e ilumine este traço - linha que corre para ti. Talvez.

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sexta-feira, setembro 16, 2005

Sem título


Dedilhei a noite
não encontrei referências
só a solidão dos pirilampos.


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quinta-feira, setembro 15, 2005

Anoitecidos


Na hora da vigília em que o corpo já não obedece há ainda a força das palavras e dos sons na harmonia da pauta onde se escreve o instante.

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quarta-feira, setembro 14, 2005

efeitos especiais



donde surgiram as lombrigas?


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terça-feira, setembro 13, 2005

Sem título


há um fosso no desnorte
e na dúvida que não ensalivo

cometas rasgando feridas.


Set. 2005

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segunda-feira, setembro 12, 2005

Jantando na varanda



apaga-se o dia


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domingo, setembro 11, 2005

Citando # 140


A poesia numa obra é o que faz aparecer o invisível.

Nathalie Sarraute



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sábado, setembro 10, 2005

As palavras


a parte visível do nosso iceberg.

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Amarragens # 14


Aqui. A imagem tem a força dos traços simples.

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sexta-feira, setembro 09, 2005

Sem título


há no tempo uma paragem secreta
- qual portal florentino –
linha de intersecção entre perguntas e dúvidas.

Ericeira, 29 de Julho de 2005


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quinta-feira, setembro 08, 2005

Toponímia


Sempre gostei de alguns nomes das nossas ruas; este descobri-o há pouco tempo apesar de passar por lá várias vezes...




No alto da encosta da Franca na Ericeira

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quarta-feira, setembro 07, 2005

Pelas tardes quentes



Havia os cheiros das casas grandes. O cheiro do pó de arroz das tias velhas que ficavam sentadas todo o dia esperando as diversas horas da comida e o conforto de algumas palavras. O cheiro dos perfumes da primas mais velhas, insípidas águas de colónia que encharcavam os corpos por despontar. O outro cheiro meio almíscarado a Heno de Pavia e a Madeiras do Oriente e depois o inconfundível cheiro de minha mãe – Femme (ainda hoje me lembro de enterrar a cabeça na sua almofada e de me embriagar desse cheiro intenso e doce). Havia o cheiro dos nossos corpos de criança a que os sabonetes de glicerina retiravam o frequente e célebre OC=Odor Corporal. Por cima de tudo isto os cheiros que vinham da cozinha por essas tardes de calor e o inconfundível cheiro das framboesas que, em breve, adornariam a tarte ou qualquer outra sobremesa que os meus olhos devorassem ao nível da mesa. O inconfundível nível da mesa! Demasiado grande para me colocarem uma almofada, havia primos mais pequenos, demasiado pequena para chegar a um aceitável nível de domínio sobre a mesa. A raiva e os cheiros dominavam essas tardes de criança.

Ao fundo, imperceptível, o rio corria, o laranjal estendia-se na parte de trás da casa e ao lado, junto à igreja - o claustro. As colunas que suportavam os arcos e a varanda que em cima se estendia. A pequena fonte no centro e os buxos formando pequenas áleas. Era belíssimo aquele claustro. Encantava a minha fantasia de criança e sobrepunha-se a todos os cheiros. Era ali que eu me perdia. Era ali que a velha Tóina me vinha encontrar quando todos andavam à minha procura. Começava a sentir no saibro um ritmado som, agora mais rápido, agora mais prolongado, de novo mais rápido, outra vez mais prolongado e assim sucessivamente; já sabia que era a Tóina arrastando as suas pernas cheias de rumático, como ela dizia. A Tóina que me pegava ao colo e me aconchegava naqueles peitos grandes junto a um alvo avental e que, enquanto me mimava e beijava, ia dizendo:

- A menina não vê que não pode vir para aqui sozinha? Anda tudo à sua procura. Olhe que a mãezinha vai-lhe ralhar!

Eu colocava os braços em redor do teu pescoço e descansava sabendo que tu encontrarias qualquer desculpa que não deixasse a mãe ralhar-me. Eu sabia que enquanto ali estivesses nada de mal me podia acontecer. Quantas vezes hoje ainda penso nesse teu avental, no cheiro a sabão “macaco” e no perfume da tua ternura.

Eram longas as tardes junto ao Nabão. Longas e quentes. Os cheiros da terra confundiam-se com os cheiros da casa e das pessoas e as brincadeiras saltavam dos jogos em roda para o cavalo, o Negus ou o pingue-pongue. Ainda me lembro do focinho do Bob, junto à mesa a virar-se para a esquerda e para a direita esperando que a bola saltasse de cima da mesa para que ele a pudesse abocanhar. Lembro-me sempre desta cena quando vejo, na televisão, os jogos de ténis e as cabeças dos espectadores tão semelhantes ao focinho do Bob.

Mas é ao claustro a que voltam todos os meus sonhos quando, em tardes quentes como a de hoje, os cheiros invadem a memória e se fixam nos meus mortos.


2005


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segunda-feira, setembro 05, 2005

Sem título


na caligrafia do sangue
inventarei teu nome

uma palavra desmedida.

Ericeira, Julho de 2005


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domingo, setembro 04, 2005

Citando # - 139


Ce qui importe dans l'art, c'est la transgression.

Richard Serra


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sábado, setembro 03, 2005

Recordando



Kalili Bazar

Cairo-Egipto


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sexta-feira, setembro 02, 2005

Num café de praia


- Onde estão as pessoas?

- Lavou-as Agosto.


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quinta-feira, setembro 01, 2005


zzzzzzzt

- o que é isto?

- passado.


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