domingo, julho 30, 2006

Citando # 157


Aquele que pensa nas consequências não pode ser corajoso.

provérbio inguche



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sexta-feira, julho 28, 2006


Devolve-me a linha. Para lá do horizonte não há geometria.

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quarta-feira, julho 26, 2006


...

não, não mais aquela claridade
só a solidão da cisterna
na areia esmaecida


não, não mais aquela claridade
só o silêncio do claustro
em ruínas


não, não mais aquela claridade
só a sombra de um raio
na fímbria dos sentidos.

Lisboa, 27 de Junho de 2006



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terça-feira, julho 18, 2006

Notas de viagem - 10


Nota: A partir de hoje vou estar ausente da blogosfera durante uns dias. Até breve.

Falemos agora da zona da Cornualha que vai de Quimper até à Pointe du Raz, a mítica Pointe du Raz! Um pequeno percurso de mais ou menos 100km para o qual um dia sendo suficiente não é demais. Saímos de Douarnenez bem cedo e fizémos o percurso na direcção das "pointes". Começámos pela Pointe du Millier seguindo-se a Pointe de Brézellec (sem que pelo caminho não tivéssemos de ter deixado cair algumas outras) e chegámos à Pointe du Van que terá de ser feita com tempo.Depois de se deixar o carro nos parques apropriados há que percorrer a falésia, olhar em volta para tantos cabos que dali se vislumbram e sobretudo ter tempo para saber olhar, de longe, a Pointe du Raz e a Baia dos Trespassados. Nesse belo passeio tudo nos chama a atenção - os cavalos, a flora, as rochas e muito especialmente essa capela do sec. XV que, por pouco, não mergulha no mar. Aliás foi uma das coisas que mais me espantou na Bretanha a quantidade de igrejas e pequenas capelas que aparecem em nenhures viradas para o mar como num agradecimento a essa água onde a terra está implantada e é fonte de rendimento e vida. Depois há que seguir com tempo para a Pointe du Raz; de novo largar o carro e andar a pé, devagar, como numa prece, olhando mar, flora e essa linha magnífica que é a ponta, o farol da Velha, os rochedos e, ao longe, a ilha de Sein.

Ali senti o mesmo que me costuma acontecer no Monte de St. Michel, sempre que tenho de voltar as costas ao monte e aqui à ponta du Raz, só me apetece pedir licença ou então partir às arrecuas como antigamente se fazia com os reis.

Para quem gosta da natureza, do mar, da luz e do vento deve ir com tempo, sentar-se nas rochas da Ponta e deixar o olhar correr, pensar como será aquele mar nos dias de grande temporal, nos inúmeros naufrágios que ali aconteceram mas, acima de tudo, deixar-se deslumbrar pela força incólume da natureza.

Aqui, direi que as fotografias são um pálido retrato do local. Carregando aqui verá dois esboços feitos à pressa.




Pointe du Millier



Pointe de Brezellec



Beg Ar Vann



Pointe du Van e os seus cavalos



Ainda os cavalos da Pointe du Van



Capela do sec. XV virada para o mar com cruzeiro com o pormenor de dum lado ter a imagem de Cristo e do outro a imagem da Virgem.



Beg Ar Raz



A Pointe du Raz



Le Phare de la Vieille e ao fundo a ilha de Sein



Os rochedos na direcção da Baía dos Trespassados.



Para um conhecimento mais aprofundado do local há o site oficial da Pointe du Raz e do Cap Sizun e diversos outros sites.

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domingo, julho 16, 2006


Não.

Não?

Não, já te disse!

Um hiato.

Não, nada. O vazio.

Vem. Há a sombra.

Não, nada. O vazio
A opressão
A brancura esmagadora do peso.
A ausência de respiração.
Uma mão opressiva sobre o peito.
A tensão explosiva.
Uma fuga que não anda.
A insanidade.

Vem, há alternativas.

Não. Seria ainda pior.
Como a loucura.
Um grito em viés.
Desafinado.
Corrosivo.

Vem. Há momentos de fuga.

Não. A fuga não tem alternativa.
O intolerável é saber que tudo sempre recomeça.


Ericeira, 15 de Julho de 2006



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sexta-feira, julho 14, 2006

Notas de viagem - 9


Do local onde permaneci nesta semana no Finisterra falarei especialmente de Tréboul - a praia de Douarnenez ligada à cidade por uma ponte e com um magnífico porto e praias que se estendem ao longo de alguns quilómetros que podem ser feitos a pé por um pequeno caminho muito belo onde dum lado se estende o oceano, as diferentes praias e a península de Cruzon de que falarei noutro post e do outro lado as várias terras e algumas igrejas pequenas mas muito belas. Ainda na praia de Tréboul o cemitério vai quase até ao mar, há uma igreja do sec. XIV que infelizmente não consegui visitar ao pé da qual e, quase passando despercebida, fica a estátua de Max Jacob de duas cabeças - o homem do mundo, o poeta - junto ao hotel para onde ele vinha frequentemente. Foi com prazer que me debrucei sobre a biografia e alguns dos escritos deste poeta nascido em Quimper em 1876 e que morreu no campo de concentração de Drancy em 1944.



A estátua bicéfala de Max Jacob



VIE ET MARÉE



Quelquefois, je ne sais quelle clarté nous faisait entrevoir le sommet d'une vague et parfois aussi le bruit de nos instruments ne couvrait pas le vacarme de l'Océan qui se rapprochait. La nuit de la villa était entourée de mer. Ta voix avait l'inflexion d'une voix d'enfer et le piano n'était plus qu'une ombre sonore. Alors toi, calme, dans ta vareuse rouge, tu me touchas l'épaule du bout de ton archet, comme l'émotion du Déluge m'arrêtait. "Reprenons!" dis-tu. O vie ! ô douleur ! ô souffrances d'éternels recommencements ! que de fois lorsque l'Océan des nécessités m'assiégeait ! que de fois ai-je dit, dominant des chagrins trop réels ! hélas ! " Reprenons! " et ma volonté était comme la villa si terrible cette nuit-là. Les nuits n'ont pour moi que des marées d'équinoxe.





De Douarnenez não tenho fotografias pois o dia que percorri a cidade esqueci-me da máquina no carro e, como este estava longe, deixei que apenas os olhos retivessem esssas imagens.




O porto de Tréboul e ao fundo Douarnenez



Ainda o porto de Tréboul



Praia de Tréboul



A estranha língua bretã - perto do sítio onde fiquei Croas Men = Cruz de Pedra


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quinta-feira, julho 13, 2006

Sem título


conheces o fio do tempo?
não te iludas
é sempre mutante.

Lisboa, 28 de Junho de 2006



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terça-feira, julho 11, 2006

Notas de viagem - 8


Perto de Douarnenez fica Locronan uma terrinha parada no tempo com uma pracinha onde nos sentimos transportados a outra era da História; aqui foram filmados numerosos filmes entre os quais destaco Tess. Locronan vem de Loc Renan ou seja o lugar de Renan.

Em baixo deixo um escrito lá redigido e, como faço sempre nos meus cadernos de viagem, sem qualquer tipo de correcção. Seguem-se algumas fotografias da terra onde fui duas vezes. A primeira - numa manhã de bruma que deu origem ao escrito, a outra - numa tarde de sol explendida.





NA BRUMA

A estrada a direito que conduzia à tão badalada praça parecia tirada de algum filme policial pois, para além da bruma, quase nada se via. De repente, mesmo em cima de mim, vi aparecer duas torres e uma praça fantasmagórica.

Entrei na igreja românica pela porta lateral junto à qual St. Renan descansa. Ouvia o que me parecia ser uma música, uma estranha música. Por a nesga da porta entreaberta entrei e comigo entrava a bruma sem qualquer tipo de cerimónias; assim compreendi a razão por que as colunas da igreja para além do peso dos anos carregavam um espesso verdete. Quanto à música rapidamente me apercebi que não era outra que o cantar, estranho cantar de um pássaro; qual? infelizmente a citadina disso nada percebe.

A igreja de Locronan é belíssima na harmonia de todo o seu conjunto e no despojamento de linhas e decoração que felizmente o homem ao longo dos séculos aqui não foi estragando; poderá haver um ou outro vestígio de falta de gosto mas, duma maneira geral, tudo nos conduz ao despojamento e ao silêncio havendo ainda a destacar o púlpito belamente pintado e uma descida da cruz em madeira do sec. XV belíssima na sua infantilidade e desproporção.

Cá fora o frio fazia-se sentir e a cacimba caía forte; talvez por isso, quando ouvi os sinos tocar, a agnóstica que sou, propôs que ficássemos a assistir à missa. Apetecia-me permanecer na paz daquela igreja onde imperava o silêncio.

Às 9:30h aí com uma vintena de pessoas começou a missa. Outras pessoas foram chegando perante alguns olhares reprovadores quer do pároco quer de alguns fiéis.

Do fundo onde me situava e porque a cerimónia nada me dizia fui analisando as pessoas. Nenhum jovem. Tudo gente para cima dos 60 anos. Há, contudo, que referir que a população de Locronan não excede as 800 pessoas. Outro pormenor que me fez sorrir foi o corte de cabelo das “memères” igual em todas as cabeças, só o tamanho variava e não muito!

A prática foi uma enfadonha leitura de papéis feita num tom monocórdico e quase indiferente, fez-me lembrar algumas que oiço em Portugal quando tenho de ir a algum funeral. Quando acabou a prática resolvemos sair para essa terra com uma inesquecível praça de casas de pedra renascentistas e bem preservadas. Nem o poço faltava realçando a sua beleza. Toda a povoação é um mimo de conservação e bom gosto. A bruma continuava a torná-la fantasmagórica, o silêncio não era cortado por os poucos turistas que aí estavam e eu senti-me como se estivesse numa pequena aldeia do Yorkshire. Era, contudo, a Bretanha e sabia que por ali, nesta região, tinha nascido Abelardo e quase que podia pressentir que aquela cacimba era ainda a parte visível da sua dor.

Comigo levarei Locronan, a bruma e o mistério daquele princípio de manhã.


Locronan, 28 de Maio de 2006





A igreja



Saída lateral da igreja



A descida da cruz - madeira, sec. XV



A praça central com o seu poço



A casa da minha perdição. Estas lojas, de um bom gosto a todos os níveis que encontrei espalhadas por várias terras da Bretanha foram a minha perdição - vendiam os bolos próprios da Bretanha dos quais destaco o Kouign Aman (gateau ao beurre) muito doce mas excepcionalmente bom. Para além disso tinham, como se pode ver na fotografia, junto às paredes, uma espécie de gavetas recheadas dos mais variados chocolates e bombons que se vendiam ao quilo. Não conto mais pois ali eu repeti o pecado da gula ;)


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domingo, julho 09, 2006

Notas de viagem - 7


De Carnac passámos para o Finisterra e ficámos num apartamento na praia de Tréboul em Douarnenez, mais conhecida pelo petit non de Douarn.

Falemos primeiro da capital do Finisterra - Quimper. Uma cidade que visitei num domingo, um dia não muito apropriado pois a cidade perde algumas das suas características, talvez daí a cidade não me ter encantado e nela, para além das suas belas casas, pouco ter despertado em mim aquele sentir que perdura para sempre. A catedral gótica com belas cúpulas bretãs tem a característica de a sua nave não ser a direito mas junto ao altar virar, numa curva, para o lado direito - para mim o único pormenor do interior que retive.

Tenho ainda a dizer que não visitei o Museu das Belas Artes e tenho pena mas no momento em que o poderíamos ter feito acabavam de chegar 3 camionetas de turistas e eu detesto visitar museus sem a calma e o silêncio que lhe são necessários. Nessa altura ainda pensava que talvez Quimper precisasse de mais um dia de visita.

Assim, deixo as fotografias das suas casas, da catedral ao longe e do curioso busto de Jean Moulin que viveu alguns anos da sua vida profissional não longe dali.



As casas













*** + ***



as cúpulas da catedral



La Place au beurre



a estátua de Jean Moulin


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sexta-feira, julho 07, 2006

Quando a insónia teima em persistir


Não, não é da noite a insónia
o que arrasta as lembranças
é do local o silêncio
e o piscar do farol ensandecendo
o negrume.

No cinzento do sono deixo o olhar
partir e invento-lhe o travo
que sei de maresia
nos meus olhos memorizo o tempo
e da tempestade os sedimentos.

Comigo a afonia da noite
e a paz deste mar
quando os seus elementos se congregam
com as forças telúricas
na âncora das suas raízes.

Não, não é da noite a insónia
o que pulveriza as lembranças
é do medo o grito e da noite
este silêncio de presságios
manta agasalhando o devir.



Ericeira, 5 de Julho de 2006



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quarta-feira, julho 05, 2006

Notas de viagens - 6


Não posso deixar esta região sul da Bretanha sem falar de Auray a cidade que ficava a 5km do sítio onde me encontrava - Carnac. Deixei-a para o fim e num final de tarde fui até lá - uma das vantagens de ter ido nesta altura foram os looooooooooooongos dias; noite, noite, só lá para as 23h e às 5 da manhã já havia claridade.

Auray é uma pequena cidade com um centro histórico digno de visitar pelas pequenas ruas, fontes e casas com traves de madeira pintadas que se encontram em quase todas as vilas e aldeias bretãs; mas o mais importante no cartão de visita de Auray é o seu porto. Deixo as fotografias que falam mais do que eu e prometo partir nos próximos posts para o Finisterra - a parte mais a oeste da Bretanha, lá bem longe na parte mais ocidental do Atlântico.



o porto



ainda o porto



as casas



as ruas antigas



ficaram-me os olhos na cor azul forte desta planta/árvore que desconheço o que seja


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terça-feira, julho 04, 2006

Notas de viagem - 5


Falemos de Belle-Île-en-Mer o seu nome é já um convite e que não promete apenas, oferece. Esta ilha, com locais de uma enorme beleza, tem 17 km de comprimento e 5 a 10km de largura. A sua capital é Le Palais com a fortaleza de Vauban, um pequeno porto onde atracam os grandes ferries vindos do continente e com ruas pejadas de comércio, demasiado turísticas para meu gosto.

Na sua costa selvagem, a que o Michelin dá as suas 3 estrelas, percorri as agulhas de Port-Coton magníficas e que já conhecia dos quadros de Monet, o grande farol, a gruta que tem um túnel enorme (hoje intransitável para evitar vários acidentes que aí ocorreram),o porto de Sauzon - um sítio calmo belo e com casas em tons pastel - e a Pointe des Poulains perto da qual Sarah-Bernhardt tinha a sua propriedade.

Deixo que as imagens falem mais e melhor do que eu.




Le Palais



Le Palais e a Citadela de Vauban



a costa selvagem e os seus rochedos



Les aiguilles - a última formação rochosa ao fundo chamam eles o Petit Mont St. Michel.



a entrada da gruta - à direita ainda se descortinam os antigos degraus por onde havia um acesso



O outro lado da gruta. A subida tinha de se fazer voltando tudo atrás por o mesmo caminho e era quando as pessoas se cruzavam, num estreito carreiro, que algumas vezes sucederam alguns acidentes.



Junto a Pointe des Poulains nos ex-domínios de Sarah Bernardht sobre uma das suas casas e olhando o rochedo da direita que dizem ter o perfil de Alexandre Dumas



Porto de Sauson


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segunda-feira, julho 03, 2006

Finalmente


a PT decidiu-se a vir cá a casa na Ericeira onde desde sábado tinha a linha sem pio... rápidos!

Depois de tanta insistência com os nossos bons serviços já nem tenho paciência para aqui colocar um post - regresso amanhã depois da fúria aplainada.

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