quinta-feira, dezembro 30, 2004

Olhar infinito


O olhar percorre a serra e baixa-se até à linha do horizonte. Tenta abranger. Tenta fixar. Aqui a finitude é mais real. Só o olhar se adapta e comunga da infinitude da envolvência numa osmose que está para lá de mim.

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quarta-feira, dezembro 29, 2004

Vasculhando o sótão


Umas férias na neve no princípio do século.


Panorâmica geral



A partida

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terça-feira, dezembro 28, 2004

Sonâmbula

Era no dia do tempo suspenso. As mãos esticadas, olhos encerrados, gravitava no espaço. Desejava-te.

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Citando # 72


A verdadeira sabedoria está em não parecermos sábios.

Ésquilo

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segunda-feira, dezembro 27, 2004

Exposição de Júlio Pomar - A Comédia Humana


Ulisses


Fui ontem ver a exposição de Júlio Pomar no CCB. Recomendo-a mas, atenção, acaba dia 2 de Janeiro.

Cá dentro trago a cor, a errância e a aparente infantilidade dos traços. O jogo do sense e do non-sense e o prazer estético que é olhar aquela força que se solta de cada pincelada.

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sexta-feira, dezembro 24, 2004

Especial Natal


Para o nosso Natal


Boas Festas


Hoje deixo-vos aí em baixo 5 textos – o meu contributo neste Natal para todos que aqui têm vindo, para todos os amigos dos blogs que se encontram na coluna da direita, para os amigos do Letras e com um duplo agradecimento para aqueles que me facultaram os dois primeiros textos e uma dedicatória especial e particular para aqueles a quem são dedicados os três últimos excertos.

Bom Natal e que o espírito da paz possa descer sobre o nosso pobre país!


Com um grande obrigada a Tecum do Texere

AMIZADE

De mais ninguém, senão de ti, preciso:
Do teu sereno olhar, do teu sorriso,
Da tua mão pousada no meu ombro.
Ouvir-te murmurar: - "Espera e confia!"
E sentir converter-se em harmonia,
O que era, dantes, confusão e assombro.


Carlos Queirós, in 366 poemas que falam de amor, uma antologia organizada por
Vasco Graça Moura


Com um grande obrigada a Paiva Raposo do Antes de Tempo


O fio da fábula

O fio que a mão de Ariadne deixou na mão de Teseu (na outra estava a espada) para que este se aventurasse no labirinto e descobrisse o centro, o homem com cabeça de touro ou, como pretende Dante, o touro com cabeça de homem, e o matasse e pudesse, já executada a proeza, decifrar as redes de pedra e voltar para ela, para o seu amor.
As coisas aconteceram assim. Teseu não podia saber que do outro lado do labirinto estava o outro labirinto, o do tempo, e que num lugar já fixado estava Medeia.
O fio perdeu-se, o labirinto perdeu-se também. Agora nem sequer sabemos se nos rodeia um labirinto, um secreto cosmos ou um caos ocasional. O nosso mais belo dever é imaginar que há um labirinto e um fio. Nunca daremos com o fio; talvez o encontremos e o percamos num acto de fé, num ritmo, no sono, nas palavras que se chamam filosofia ou na mera e simples felicidade.

Cnossos, 1984.

J. L. Borges in Os Conjurados, 1985.



Para o meu amigo das pegadas

Há um limite para se ser profundo. Há um limite para se ser subtil. Há um limite para se ser bom observador. Nós temos de nos mover num mundo de limites para a viabilidade de se ser. O limite da profundeza é a escuridão. O da subtileza é o do filamento invisível. O da observação é o do microscópio electrónico. Mas tudo no homem é assim. Para lá de certos limites é a confusão, a gratuidade, a loucura. Assim o grande amor se reconhece na morte ou o excesso da razão na confusão ou sofisma ou absurdo ou impensável ou gratuito. Todo o excessivo no homem é desumano ou degenerescência ou vazio. Mas que há de grande no homem senão o excesso de si? E é decerto aí que mora Deus. Ou mais para lá.

Vergílio Ferreira



Para António Baeta Oliveira do Local & Blogal



REGRESSO

foste-te, e foi contigo
o sono dos meus olhos,
regressaste, e assim mo devolveste.

quem trouxe a boa nova
pediu-me alvíssaras:
o meu coração foi o que te dei
pedindo desculpa do pouco que valia.

Al-Mu’Tamid, Poeta do Destino, Adalberto Alves




Para a Carla de Elsinore


YOU ARE WELCOME TO ELSINORE

Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos a morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmos só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar

Mário Cesariny, Pena Capital

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quinta-feira, dezembro 23, 2004

Sem título


uma broa doce na manhã ensolarada
gosto da infância nos meurónios da saudade!


Dezº 2004

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terça-feira, dezembro 21, 2004

Memória


trouxe-te as rosas vermelhas
que deixaste noutra casa
noutro tempo
qual Teseu retrocedo os passos
mas sem fio, sem Ariadne, sem Minotauro
só Creta é berço e inferno
e das rosas asfixiam as pétalas no livro entaladas!


Lisboa, 20 de Dezº 04

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segunda-feira, dezembro 20, 2004

Citando # 71


Adopte o ritmo da natureza. O segredo dela é a paciência.

Ralph Waldo Emerson

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domingo, dezembro 19, 2004

Poema Zen


It is mind itself.
Leading mind astray.
So.
Take care of your mind.

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sábado, dezembro 18, 2004

Conversa com um político


Não te oiço mas não fales mais alto; o facto de não te ouvir é apenas psicológico. Ouvir-te? para quê? porquê? Esta ainda é a minha liberdade. Pregarás ao vento nos dias em que este se acoitou tal a fúria que o domina. Como o vento, oiço-te e passo por ti como se fosses uma transparência, uma simples aguada desconexa.

Cala-te que o teu dia já passou!

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Citando # 70


Em termos de teoria literária nada tenho a dizer: nunca apreciei os cozinhados dos químicos.

Saint-John Perse

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sexta-feira, dezembro 17, 2004

Sem título


queria-te estrela polar
no tempo infinito
e no meu olhar.

Novº 04

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quinta-feira, dezembro 16, 2004

Sem título




na curva



por um céu cobalto segue o viajante
e os nós que cercam o destino
e a fantasia

caminheiro indomável
na solidão consentida.

Lisboa, 15 de Dezembro de 2004

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Citando # 69


Um homem labiríntico nunca procura a verdade, mas apenas as sua Ariana".

Nietzche

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quarta-feira, dezembro 15, 2004

Labirinto


Não encontrava o fio para unir as pontas ou, como dizem os ingleses – pull myself together -, também para quê, que falta fazia? esgotaram-se os fios no eterno labirinto em que institucionalizaram este país.

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terça-feira, dezembro 14, 2004

Sem título

foge a palavra do texto
entornando vazio sobre a folha
- greve nas letras!

Lisboa, 25 de Novembro de 2004

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Citando # 68


L'absurde naît de la confrontation de l'appel humain avec le silence déraisonnable du monde.

Camus

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segunda-feira, dezembro 13, 2004

Anoitecidos


Nem a noite lava este país, nem o mar o instinga à luz, nem da verdade eles sabem o significado.

Deixa correr o frio que a manhã há-de surgir e o verão nórdico também!

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domingo, dezembro 12, 2004

Citando # 67


Se calhar toda a arte tende para o silêncio. Quanto mais silêncio houver num livro, melhor ele é. Porque nos permite escrever o livro melhor, como leitor.

António Lobo Antunes

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sábado, dezembro 11, 2004

Passeio Matinal


Era no Lumiar
só a fachada resistia
e o portão fechado a cadeado.
Os degraus subiu-os o espanto
colorindo o vazio
a solidão
e as ausências.

Por sobre as clareiras
a quietude do fantasma
e as lágrimas por correr.

Lx, 9 de Novº 04

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sexta-feira, dezembro 10, 2004

Sem título


só o poema arranhando
discórdias nas palavras

noite de remoinhos!



Lisboa, 2004

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Citando # 66


O poema deve provocar o leitor; obrigá-lo a ouvir - a ouvir-se.

Octávio Paz

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quinta-feira, dezembro 09, 2004

Rodin




Rodin, O Filho Pródigo, 1884, bronze Posted by Hello

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quarta-feira, dezembro 08, 2004

Sem título


a mão projectou no silêncio a sombra
já não se soltam fantasmas

Dezº 04

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Citando # 65


Não podes ver o que és. O que vês é a tua sombra.

Rabindranath Tagore

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terça-feira, dezembro 07, 2004

Viagens na minha terra - Maria Helena Vieira da Silva - 1908/92



Arpad Szenes e Maria Helena, Paris, 1952, fotografia de Fernando Lemos



Fui ontem ver a exposição de Maria Helena Vieira da Silva patente no Museu Arpad Szenes – Vieira da Silva. É a exposição comemorativa dos 10 anos do museu e vieram quadros de vários cantos do mundo.

Chamaria a esta exposição – o Domínio da Geometria.

Os meus olhos detiveram-se nos pontos, nos quadrados, nas cores, na textura da tinta que retratam, na perfeição, o domínio espacial com que Maria Helena trabalha as suas telas.

Alguns quadros já os conhecia ou, porque fazem parte do acervo do Museu ou da Gulbenkian ou porque já os vi em outros pontos – caso do museu de Colmar. Mas os meus olhos nunca se cansam de ver o intrincado das suas telas e a forma magistral como ela aí esconde todas as suas memórias.

Do que vi saliento, entre tantos que seria exaustivo enumerar, La Bibliothèque en Feu (que visito regularmente no Museu) e mais 3 quadros que desconhecia – Memória, 1966-67, óleo sobre tela, 114x146 da Colecção da Galeria Jeanne-Buchar de Paris; Le Promeneur Invisible, 1949-51, óleo sobre tela, 132x168, Colecção do San Francisco Museum of Modern Art de S. Francisco e Les Joeurs de Cartes, 1947-48, óleo sobre tela, 81x100, Coleccção Particular de Londres.

O seu quadro Jeu d’Echèques está, infelizmente, situado num local onde tudo se reflecte, impedido uma visão agradável e correcta como a que gostaria de ter tido para poder disfrutar deste quadro, de que muito gosto, mas que apenas conhecia de imagens.

A não perder também o vídeo que passa no auditório. A certa altura há uma visita, à sua última exposição retrospectiva em Paris, de um grupo de jovens com quem Maria Helena conversa. A linguagem, a expressão e a curiosidade das crianças 9-10 anos é soberba e a certa altura um miúdo, fazendo o gesto com a mão, diz-lhe qualquer coisa como: Et ça valse!

A exposição irá estar patente até 30 de Janeiro e é, quanto a mim, das imperdíveis.

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segunda-feira, dezembro 06, 2004

Sem título


fugir na onda do acaso
perder os limos secados pele
descomprometer-me de sinais
impedir a desfocagem das cores
apreender o olhar da criança
partir na pureza da vaga
interrogar o mundo dos segredos
descansar no azul da utopia

- ímpetos de maresia duplicando símbolos!


2004

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domingo, dezembro 05, 2004

Citando # 64


Nunca andes pelo caminho traçado, pois ele conduz somente até onde os outros foram.

Alexandre Graham Bell

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sábado, dezembro 04, 2004

Na pista


Um ténue fio atravessa o sol e encaixa-se no mar. Vou segui-lo.

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Citando # 63


Ler, ler, ler,
Viver a vida que outros sonharam.

Miguel de Unamuno

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sexta-feira, dezembro 03, 2004

Citando # 62


Tudo nos falta quando nos faltamos.

Goethe

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Sem título


uma bruma tapando o sentir
e o desejo de ficar assim
estática
na ausência de mim


Lisboa, 30 de Novº 2004

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quinta-feira, dezembro 02, 2004

Notícias de Cabotagem


Já há muito tempo que este deveria constar da coluna ali à direita - por motivos óbvios!

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Citando # 61


A grandeza do homem consiste em que ele é uma ponte e não um fim; o que nos pode agradar no homem é ele ser transição e queda.

Nietzche

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quarta-feira, dezembro 01, 2004

Anoitecidos


Havia o silêncio dedilhando o teclado, a noite e uma breve esperança querendo vingar.

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