quarta-feira, outubro 31, 2007

Barcelona VI


"Siempre he evaluado el contenido poético de acuerdo con sus possibilidades plásticas". Joan Miró (1893-1983



Paul Klee dizia que "desenhar é levar uma linha a passear"; isso sente-se particularmente na obra de Miró, pintor que não é um dos meus preferidos. Contudo, penso que só vendo a obra e a sua evolução podemos formular um juízo mais profundo e menos primário. Assim me aconteceu, agora em Barcelona, ao visitar a Fundació Joan Miró.

Primeiro a construção onde está albergada a sua Fundação e que foi desenhada pelo seu amigo Josep Lluís Sert. Um edifício claro, cheio de luz e onde entram todos os verdes circundantes. A exposição das obras está bem pensada, sem acumulações e com boa luz.

Aqui encontrei, a par das suas obras mais conhecidas onde a linha se passeia, as suas obras juvenis e dos seus anos de formação; as magníficas tapeçarias; os diversos objectos e ainda um vasto conjunto de obras de alguns dos seus amigos, a título de exemplo e citando só alguns Duchamp, Max Ernst, Motherwell, Rauschengerg, Sam Francis, Dorothea Tanning, Saura, Fernand Léger, Henry Moore, Balthus...

Resolvi escolher, para ilustrar este post, obras menos conhecidas começando com uma - O Pedicure - de quando ele tinha 9 aninhos!!! A tapeçaria de 1979 merece ser vista no local pois apanha quase todo o pé de direito de uma parede; e se ela é grande!...

As fotografias são dos objectos que se encontram no exterior - único local onde pude tirar fotografias.

























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terça-feira, outubro 30, 2007

Barcelona V





Encontrei-a perdida no meio do paredão do Port Vell. Quando a olhei pensei em tantas instalações encontradas por esses museus fora e pensei que esta não o era apenas porque ninguém "importante" a tinha nomeado assim e colocado num qualquer museu.

A eterna polémica à volta da obra de arte.




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segunda-feira, outubro 29, 2007

Barcelona IV








rolavam na memória os seixos
e os momentos de claridade
no infinito convergiam
os eremitas.


Monserrat perto da capela de San Juan, 22 de Outubro de 2007




Nota:
Valeu o cansaço físico e a respiração mais difícil própria de quem não está habituada a andar naquelas alturas. Mas o infinito era meu e, estranhamente, senti ali uma simbiose com a imensidão do mar.

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domingo, outubro 28, 2007

Barcelona III


Arrumadas as coisas, reinserida de novo na rotina há, contudo, um lado de mim que ainda está lá nessa cidade onde 10 dias foram poucos para o muito que havia a rever e a conhecer.

Guardei Barcelona no coração como o fiz, quando em adolescente a descobri e vi nessa Sagrada Família uma construção de areia com aqueles montículos que a terra húmida vai fazendo escorrer; hoje, essa mesma Sagrada Família a que chamei o estaleiro da fraude foi talvez, de tudo o que vi, a única coisa de que me quis afastar rapidamente. Continuam os olhos da criança a ficarem presos a essa impressão aérea e instável que, na direcção do infinito, me leva para fora de mim. Mas, mal transposta a porta de entrada tudo entra em colapso perante aquele estaleiro que mais parece um armazém de desperdícios. Nada ali dentro bate certo e imediatamente rumei à saída. Como é possível que, passados tantos anos, aquilo ainda continue naquele marasmo. Restou-me algumas partes do seu exterior especialmente quando vistas do fundo do jardim fronteiriço à fachada principal. Pobre Gaudí!

Comecei pelo que não gostei pois quaisquer outros comentários que venha a fazer serão quase sempre para dizer bem desta cidade com um património artístico de relevo, com locais de silêncio e onde o verde dos montes envolventes anda sempre ali por perto apesar de se tratar de uma grande urbe.

Dos seus habitantes guardo uma boa impressão e bem diferente da dos madrilenos; os "barceloneses" são mais urbanos, mais simpáticos e, sem perderem a vivacidade e alegria, são menos barulhentos do que a maioria dos espanhóis que conheço e mais de acordo com a minha maneira de ser.

Impressionou-me ainda o seu nível de vida e a sua vertente cultural que se pode medir nos seus museus cheios de espanhóis, de estrangeiros e de uma enorme população escolar que os visita e que assim desperta para um conhecimento que se quer real, intenso e despontado desde muito cedo. Realço ainda a quantidade de descontos que são oferecidos nos diferentes locais turísticos e que abarcam jovens, idosos, estudantes, professores, grupos, famílias e se calhar ainda outros que me esqueci. Tudo isto revela a importância dada à cultura e ao seu valor nos diferentes vectores da vida humana.

Desses lugares de interesse falarei noutros posts. Deixo em baixo uma fotografia do exterior da Sagrada Família - a quantidade de gruas atesta bem do que disse anteriormente e relembro que foi no exterior que ainda consegui vislumbrar alguma beleza. Talvez elas estejam ali para contrariar a supremacia das verticais!!!

As outras duas fotografias atestam dessa outra forma de estar de que falei acima. Em nenhuma outra cidade vi tantos jovens e menos jovens a desenhar e a pintar nos locais turísticos, nos centros de interesse e em qualquer lado que lhes desperte a atenção. Tive concorrência... ;) tomara eu chegar aos calcanhares de alguns!











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sexta-feira, outubro 26, 2007

Barcelona II


Já de retorno com os olhos ainda iluminados das cores, da música, dos ruídos, dos cheiros e do silêncio que recolhi nas alturas de Monserrat nos picos junto aos restos da pequenina igreja de San Juan onde as pedras iluminavam as alturas e cercavam a infinita transcendência; ainda esse silêncio que anteontem encontrei no belo claustro de Pedralbes junto ao monte que está ali mesmo ao lado.

Tenho ainda tudo por organizar e a vida tem de seguir o seu curso natural por isso, ainda sem fotografias, poemas ou outras reflexões fica um poema que encontrei no magnífico Museu de Arte Contemporânea.



His brain convulsed
his mind split open.
Vertigo, hysteria, lurchings
and lauchings came over him,
he staggered and flapped desperately,
he was revolted by the thought of known places
and dreamed strange migrations
His fingers stiffened,
his feet scuffled and flurried,
his heart was startled,
his senses were mesmerized,
his sight was bent,
the weapobs fell from his hands
and he levitated in a frantic cumbersome motion,
like a bird of the air.


From "Sweeney Astray: A Version from the Irish" by Seamus Heaney



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sexta-feira, outubro 19, 2007

Barcelona I


Os olhos espraiam os passos e mesmo o cansaco tem cores de Miró; assim, fica apenas um apontamento escrito no final da visita ao Museu Picasso.



encosto o ouvido ao quadro
emudeco



Nota: Nao sei por onde andam os acentos e penso que conseguirao ler. Estou encantada. Cores, cores, cores e toda a envolvencia trazendo modernidades e as indispensaveis memorias. Voltarei assim que me for possivel estou de partida para o Palau da Musica onde vou ouvir uma peca de guitarras mais para ver e para descansar do que propriamente pela oferta.


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segunda-feira, outubro 15, 2007

Sem título


os figos amadurecem
na memória
quando da capa rota
se soltam os rasgões
as lembranças
e o mel escorre dos bibes

como se de um intervalo se tratasse.


HFM - Ericeira, 2 de Outubro de 2007



Nota: Vou para Barcelona uns dias; se encontrar um sítio com net pelos caminhos por onde passar virei aqui dar notícias. Até breve.

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sábado, outubro 13, 2007

Sem título


quando se apagaram as luzes
ouviu-se a gargalhada
ele mimava a vida

chamavam-no de louco.


HFM - Lisboa, 4 de Outubro de 2007



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sexta-feira, outubro 12, 2007

Partidos políticos


Não se pode criar um Movimento para restaurar os cacos?

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quinta-feira, outubro 11, 2007

Sem título



mais pequena do que o ponto
assim quero a palavra
única
que o som decomponha
na força da sua harmonia.

Ericeira, 2 de Outubro de 2007



imagem - criação de Brian Dettmer


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quarta-feira, outubro 10, 2007

O Ponto e a Linha




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terça-feira, outubro 09, 2007

Sem título


quero-me gaivota
entre o mar e a bruma


aí me libertarei em espuma.


HFM - 13 de Setembro de 2007



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domingo, outubro 07, 2007

Como um castigo


Quando as tuas mãos rolarem
as palavras como seixos
ouvirás a melodia
o som do mar
ou será do grito?

Só contam as palavras na tua mão
as que abarcares e rolares
despreza as que tombarem
a ganância não as engrandecerá
as mais pequenas permitir-te-ão
ampliá-las
com a leveza da brisa
ou a finura da bruma
e quando órfãos quase vazias
mudá-las-ás de lugar
num fervor só teu
isento de enredos ou de modas.

Descobrirás então as tuas palavras
e com elas escreverás uma canção
de amor
simples como o primeiro beijo
clara como a neve sobre as árvores
livre
porque saberás
como Sísifo
que a montanha é obstinadamente íngreme
e por ela rolarás cada palavra
na quotidiana emenda da harmonia.


HFM - Lisboa, 5 de Outubro de 2007



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sábado, outubro 06, 2007

Citando # 181


É melhor não fazermos muitos planos para a vida para não baralharmos os planos que a vida tem para nós.

Agostinho da Silva



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quinta-feira, outubro 04, 2007

Insólito



ver a dançar ao som do seu MP3
o corpo dum senhor doutor juíz enquanto estudava um processo sentado na esplanada da praia.

Gosto destes gestos sem cheiro a naftalina.


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terça-feira, outubro 02, 2007

De Vigia


Porque é o teu dia
o mar encapelou
e as gaivotas poisaram
no velho muro das arribas
atentas expectantes
curvadas sobre o teu banho
como se o equinócio lhes tivesse trazido
a promessa dos dias
rentes à bruma
quando a chuva lava
todos os labirintos.

Porque é o teu dia
eu esperei-te, Pai.


Ericeira, 1 de Outubro de 2007



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segunda-feira, outubro 01, 2007




Parece ausente. Distante. Mas os olhos interiores estão sofregos na acção. Percorrem os escaminhos do tempo. Saídos de um qualquer jacto surrealista alienam o instante e no imaginário percorrem a ficção. Não se fixam. Sempre além. De outra maneira. Noutro espaço. Num tempo só aparentemente inadequado. Sem cedências. Sem fraquezas. No orgulho da distância. Daí o ar que os outros desconhecem. E chegam a temer. A ausência de uma outra vivência.

HFM - 30 de Setembro de 2007



Nota: Imagem - Maggie Taylor - Trouble, 2005

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