segunda-feira, janeiro 31, 2005


gritos de gaivota
confundem-se com o marulhar
- na praia, ninguém.

Ericeira, 24 de Janeiro de 2005

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Citando # 80


Tudo o que é incompreensível, nem por isso deixa de existir.

Blaise Pascal

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domingo, janeiro 30, 2005

Gostaria de ter acordado aqui # 1



Quedas de Água de Vitória, Zimbabué

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sábado, janeiro 29, 2005

Numa tarde de sol e frio



Uma tarde de sol e frio
habitada por crianças
ao longe
o mar embrumado
por onde D. Sebastião não surgirá
não porque o cenário não fosse propício
mas os tempos não vão para lendas
e as crenças
há muito a crise as desviou
ficaram as sombras
e este instante
onde sou o enredo
o autor
e o protagonista


ensaio de inverno
nos espelhos da vida.

Ericeira, 24 de Janeiro de 2005

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sexta-feira, janeiro 28, 2005

Da sabedoria popular # 1


A água de Janeiro vale dinheiro.

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quinta-feira, janeiro 27, 2005

Diálogos na Brasileira - hfm




O homem, impecavelmente vestido, com um ar um pouco dandy para a sua idade, encontrava-se sentado numa das mesas do fundo da Brasileira. Sentava-se muito direito, dominando a sala e controlando as entradas e saídas.

Nisto, levantou-se. Abotoou o casaco e estendendo a mão disse:

- Olá, meu bom amigo. Sente-se – e ia afastando a cadeira.

Quando o outro se sentou, de costas para o observador, o homem continuou o seu diálogo:

- Então, como está? Ao que me parece, tudo bem! Ainda bem que o vejo, pois estava para lhe escrever depois de ter lido o seu último livro de poemas; queria dizer-lhe o quanto gostei dele. Aquilo sim, meu caro, aquilo é poesia! Moderna, inventiva, descarnada e contudo com todos os traços do passado que criam o elo entre os nossos bons poetas e a modernidade que se quer trazer para a literatura. Tudo a correr bem?

Que sim, ia dizendo o outro, a custo, no meio dos vários encómios e da fértil torrente de palavras com que o seu interlocutor o metralhava. Publicar é difícil mas lá o tenho conseguido, ia dizendo o pobre poeta.

- Se precisar de mim já sabe, conte comigo. Sempre posso falar a um ou a outro dos nossos vates que seguramente depois de lerem o que o amigo escreveu, não vão deixar de lhe dar uma mãozinha.

Um esgar sem jeito atravessava o rosto do nosso poeta enquanto ia agradecendo. - Mas por ora vou indo devagar, tentando não me enredar nos nós intrincados de que é construída a teia da nossa praça.

- Nada disso, homem! O importante, meu caro amigo, é conhecer as pessoas certas! Já agora, se não é indiscrição, como conseguiu chegar à Editora?

Que fora regularmente simples, dizia o poeta numa voz esquiva, embora demorado. Tinha enviado o manuscrito a três editoras ficando à espera da resposta. E continuou dizendo que tinha de se ir embora pois o trabalho esperava-o e a poesia não pagava a renda de casa!

- Para a outra vez fale comigo, meu querido amigo. Como sabe estou sempre aqui, este é o meu escritório e até pode ser que me encontre numa dessas tertúlias a que deveria assistir. Desculpe... ó minha boa amiga que prazer vê-la por aqui, deixe-me apresentá-la, Lígia Abrantes uma nossa artista do palco e aqui o nosso vate Pereira Castro que acaba de lançar o seu segundo livro.

Apertaram-se as mãos e rasgaram-se dois sorrisos.

- Mas sente-se, minha querida amiga, aqui o nosso poeta estava de saída – e arredava a cadeira para que Lígia Abrantes se pudesse sentar.

O poeta, esboçando um sorriso, foi dizendo que tinha sido um prazer conhecê-la mas agora precisava mesmo de ir pois o trabalho esperava-o. E voltando-se para o outro foi dizendo que sim, que viria um dia e foi-se afastando fazendo uma pequena vénia.

O homem fez um trejeito com a cabeça e um sorriso enigmático apareceu-lhe nos lábios; mas rapidamente mudou o seu centro de interesse para aquela jovem que ali se encontrava.

- Então, minha amiga, como tem passado, o trabalho muito cansativo? essas representações?

- Ó senhor doutor, não esteja a brincar comigo, o meu trabalho é sempre o mesmo e eu não represento, sou apenas corista na revista, como o senhor bem sabe.

- Sei sim, Lígia, mas isso não me impede, ao olhar para o seu corpo escultural e para os seus movimentos dignos de qualquer ballet moderno, de sentir que a minha amiga está muito mal aproveitada. Temos que pensar nisso, se calhar apresentá-la a alguém que saiba reconhecer o seu talento e tirá-la desse corpo de bailado onde a minha boa amiga está estiolando – disse o nosso homem numa voz cava e insinuante.

- Ó senhor doutor, o senhor cria sempre em mim expectativas mas a vida é bem diferente – e Lígia levava a mão à cara num estudado gesto de coquetterie.

- Sabe bem que não, sabe que não, a Lígia é que ainda não se quis entregar nas minhas mãos. Qual Pigmaleão faria de si uma actriz! Venha almoçar aqui amanhã comigo, terei muito prazer em oferecer-lhe o almoço e hoje falarei a um director de teatro meu amigo e convidá-lo-ei também para vir almoçar; tem é de me deixar representá-la. Virá arranjada como lhe falei da última vez e deixa a conversa toda a meu cargo. Basta que sorria e que responda o mais brevemente possível às perguntas que ele lhe fizer, eu completarei as suas respostas. Está de acordo?

- E acha que isso vai resultar, senhor doutor? sou uma pobre mulher que tem apenas a 4ª classe e que não tem qualquer cultura – disse Lígia numa voz onde havia um misto de entusiasmo e medo.

- A cultura não é para aqui chamada e claro que resulta, minha querida Lígia, o importante é que me deixe construir a sua carreira e que se entregue nas minhas mãos para que eu a possa moldar.

- Ó senhor doutor mas eu não tenho dinheiro para lhe pagar, como posso eu aceitar isso?

- Não precisa de me pagar agora, minha boa amiga, um dia quando estiver lançada, quando for conhecida, só tem que me deixar ser o seu agente mas isso ficará tudo escrito no contrato.

- Contrato? Qual contrato, senhor doutor? Eu já tenho uma contrato com o Maria Vitória.

- Ó mulher, não se preocupe! Se o director com quem nos vamos reunir amanhã a aceitar, trataremos de ultrapassar esse problema, para isso servem os advogados e então far-se-á um novo contrato delegando na minha pessoa a responsabilidade de construir a sua carreira e tornando-me o seu agente; vai ver que lhe vamos fazer uma óptima carreira. E agora desculpe-me mas acaba de chegar um pintor meu amigo com quem preciso de trocar algumas palavras. Não se esqueça de estar aqui amanhã à uma da tarde, arranjada como lhe falei da última vez, tentando não dar nas vistas e falando o menos possível. Então até amanhã – disse ele enquanto se dirigia a um homem meio desengonçado que acabava de chegar, deixando em cima da mesa o livro, a cigarreira e o isqueiro de prata.

- Muito obrigada, senhor doutor, amanhã cá estarei – disse Lígia num tom de voz baixo e um pouco subserviente.

- Como vai, meu caro pintor? há muito tempo que o não via – disse o nosso homem enquanto, em passinhos pequenos e agitados, estendia a mão a um homem alto, com um corpo que parecia não dominar a gravidade, com uma idade indefinida e que o olhava com um ar meio apatetado.

- Não se lembra de mim, meu caro pintor? Alexandre Mesquittela, conhecemo-nos no ano passado na Embaixada Francesa e gabei-lhe muito as suas obras; sou um grande admirador seu, só não compro as suas telas porque não tenho dinheiro para o fazer mas espero que em breve elas estejam em algum museu para gáudio de todos os portugueses.

- Pois realmente não me lembro de si, desculpe, esta minha cabeça anda sempre noutro lugar – disse o pintor com um ar de enfado.

- Oh, não tem importância! é perfeitamente natural, venha, sente-se ali na minha mesa e tome um cafezinho comigo – e ia fazendo um gesto na direcção da sua mesa.

- Não, muito obrigado, infelizmente não posso. Esperam-me no café Gelo onde tenho um negócio a tratar. Vim aqui apenas entregar uma coisa. Muito boa tarde, foi um prazer – e o pintor, sorrindo, desviou-se e dirigiu-se ao balcão onde deixou ficar um volumoso envelope.

Alexandre dirigiu-se à sua mesa e eu, que o observava junto ao quiosque dos jornais, reparei que na sua cara perpassava um ar de incredulidade e raiva. Havia espanto e um ríctus que se assemelhava a vingança. Vi-o sentar-se, tirar da sua cigarreira, impecavelmente limpa, um longo cigarro que, num gesto de enfado, levou aos lábios e acendeu. Nisto, como se uma mola o tivesse propulsionado, levantou-se num repente e atónito vi-o dirigir-se na minha direcção. Um pouco antes de chegar ao local onde eu estava, ouvi-o dizer:

- Como está senhora dona Maria Ana? Há quanto tempo não tinha o prazer de a ver e o seu marido? muito ocupado, não é verdade?

- Alexandre?! até me assustou, não o tinha visto.

- É que eu estava ali ao fundo, mas quando a vi entrar, não pude deixar de vir cumprimentá-la. A senhora é para mim uma referência. Sempre o foi quando eu ainda petiz assistia a alguns serões na casa de meu pai – e o peito de Alexandre como que empurrava a camisa e os colarinhos impregnados de goma.

- Onde isso já vai, Alexandre. Infelizmente o seu paizinho já morreu e eu e o senhor desembargador para lá caminhamos. Mas desculpe, Alexandre, tenho ali umas amigas com quem vim lanchar e que já se impacientam.

- Ó senhora dona Maria Ana desculpe esta incorrecção mas é sempre tão bom revê-la que nem reparei que a estava a atrasar. Os meus cumprimentos ao senhor desembargador – disse, enquanto cerimoniosamente beijava a mão da senhora.

Alexandre ainda deu dois passos em direcção à sua mesa, mas voltou para trás e dirigiu-se à porta, antes de sair, olhou-me com um ar superior, com aquele ar com que se olha para aqueles que desprezamos.

Saiu para o largo adjacente onde apanhou um pouco de ar, querendo parecer-me que estava a tentar que o ar frio lhe fizesse passar o corado que tinha invadido as suas faces e que era fruto da raiva e da frustração.

Nisto, viu a meio da Rua Garrett o antigo sub-secretário das Colónias e apressou o passo na sua direcção.

- Hernâni, há quanto tempo, homem! por onde andas metido? – e abraçava-o efusivamente.

- Por onde ando metido? a trabalhar, Alexandre! Acabaram-se as mordomias, agora tenho de trabalhar! E tu, o que fazes? onde estás a trabalhar? – disse o outro libertando-se daquele abraço.

- Eu? mas eu não trabalho, Hernâni! Eu vivo dos rendimentos e o meu escritório, como sabes, é ali na Brasileira! A propósito, tenho lá a minha mesa não queres vir tomar um cafezinho? – disse ele enquanto apontava na direcção da pastelaria.

- Até que me ia bem um café! Mas não me posso demorar muito, tenho de ir ali à Rua da Horta Seca tratar de uma escritura.

Vi-os aproximarem-se na minha direcção e Alexandre, com a mão nas costas do amigo, ia-o empurrando na direcção da sua mesa.

- Não me digas que tens aqui mesa reservada?!

- É mais ou menos isso. Como venho para aqui todos os dias, o criado já me guarda a mesa até uma determinada hora; como podes ver é uma mesa de onde domino toda a sala – e Alexandre estava impante e sorridente.

- E o que fazes tu aqui? – perguntou Hernâni com a curiosidade que advém da incompreensão.

- O que faço? O meu trabalho. Dar-me com pessoas. Estar atento a tudo. Conhecer os últimos episódios desta nossa cidade e sociedade. Ver os outros e, acima de tudo, ser visto para que nunca se esqueçam de mim! Mas porque perguntas?

- Porque me faz um pouco de confusão que passes aqui os dias sem fazeres nada. – retorquiu Hernâni.

- Sem fazer nada! Aí é que tu te enganas, Hernâni! Ainda há pouco consegui que uma coristazinha de má fama e sem qualquer mérito se entregasse nas minhas mãos. Em breve há-de ir parar à minha cama e com uns conhecimentozinhos hei-de fazer dela uma actrizita e hei-de ficar com uma boa parte do contrato que lhe hei-de arranjar. E escusas de me olhar com essa cara! Lá nas tuas economias tu fazes o mesmo, só que por outros processos! Olha, ainda hoje tentei junto de um poeta de segunda trazê-lo para a minha esfera para poder dali obter algum dinheirito, mas o raio do tipo é mais curial do que eu pensava e disse-me que não tem pressas, que vai devagar, que não quer ser arrastado pelos lobbies e mais umas bojardazitas deste teor! coitado, um idealista! com esses geralmente não levo nada! Realmente hoje o dia não me está a correr nada bem!

E pela primeira vez reparei que os ombros de Alexandre descaiam como que numa derrota antecipada. Mas rapidamente se recompôs.

- E o que é para ti um dia a correr bem? – perguntou o amigo.

- Um dia em que saia daqui com um programa qualquer para o jantar ou para a noite e com algum negociozito que me vá dando para sobreviver. Mas hoje nem o raio da velha duquesa que está ali no meio daquele grupo de senhoras de idade e que foi amiga de meu pai e com quem convivi muito durante a minha infância se lembrou de me convidar para ir lá a casa e até o estupor de um pintorzeco da nossa praça que anda aí nas bocas do mundo, sabe Deus porquê pois só pinta mamarrachos, até esse fez de conta que não me conhecia!

- Ó homem, mas isso não tem importância nenhuma, precisas de alguma coisa?

- Não, não é isso, é que ele há dias! Até aquele estafermo ali parado à porta não tira os olhos de mim – disse Alexandre enquanto apontava na minha direcção.

Vi Hernâni voltar-se e olhar-me, abrir um sorriso e cumprimentar-me.

- Quem? o Carlos que eu cumprimentei agora? – e perante a aquiescência do amigo, completou – mas o Carlos é um pobre homem que não faz mal a ninguém. Tomara ele que ninguém lhe tivesse feito mal. Calcula que o homem até envelheceu imenso e não é para menos! Está desempregado. Foi trabalhador no Montepio durante anos até que um cliente, sem escrúpulos, lhe conseguiu extorquir uma avultada quantia em dinheiro, não lhe pagou e o pobre do Carlos viu-se impossibilitado de repor o dinheiro. Teve um processo e foi despedido. E teve muita sorte em não lhe terem movido um processo externo que envolvia polícia e tudo. O homem ia enlouquecendo. Anda há dois anos à procura do gajo que o lixou e diz que quando o encontrar se há-de vingar dele. Um pobre diabo que teve muito azar!

Vi Alexandre empalidecer. Pigarreou, ajeitou o colarinho e o casaco. Fez um esgar que, por breves instantes, lhe distorceu a cara e numa voz meia atabalhoada perguntou:

- Disseste que ias à Rua da Horta Seca, não foi? – e perante o sinal afirmativo do amigo continuou. – Então espera que eu vou contigo. Aproveito e passo no meu solicitador. É que ando cansado e com vontade de fazer uma viagenzinha até à Côte d’Azur, está a chegar a saison; tenho de tratar de tudo mas antes vou ver com ele do que preciso para partir e da melhor forma de ter lá o dinheiro disponível, não gosto de andar com muito dinheiro. Vou contigo.

Levantou-se quase deitando abaixo a cadeira e virando-se para o criado disse:

- António, eu amanhã pago a conta, agora estou com pressa e tenho de sair já.

Alexandre deixou passar à sua frente o amigo e em silêncio dirigiram-se para a porta. Passaram ao meu lado. Hernâni baixou-me a cabeça. Alexandre fez que não me viu.

Saí. Vi-os dirigirem-se para o Largo do Camões, deixei-os afastarem-se uns metros e, com a brisa a bater-me na cara, segui-os como se segue um cão de caça.


Lisboa, Março de 2003



hfm

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quarta-feira, janeiro 26, 2005

Daquele Fruto



era redondo o seu volume
vermelho o seu caudal
suspenso duma intrincada trama
colorindo o meu prato

romã – casulo de todos os meus bagos!


Lisboa, 7 de Janeiro de 2005

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Citando # 79


Se discordo de ti, isso, longe de te diminuir, acrescenta-te.

St-Exupéry

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terça-feira, janeiro 25, 2005

da inutilidade



um rasgão de vazio serve de lampião à noite
um horizonte parado avoluma o bolor da ignorância
um acorde desmedido silencia a noite na vida


rasgões que ampliam a imensa inutilidade.


Lisboa, 6 de Janeiro de 2005

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domingo, janeiro 23, 2005

Citando # 78


Pouco conhecimento faz com que as pessoas se sintam orgulhosas. Muito conhecimento, que se sintam humildes. É assim que as espigas sem grãos erguem desdenhosamente a cabeça para o céu, enquanto as cheias as baixam para a terra, sua mãe.

Leonardo da Vinci

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sábado, janeiro 22, 2005

Sem título



no solitário a rosa vermelha
trazendo memórias
e o passado que nem a morte
acrescenta.

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sexta-feira, janeiro 21, 2005

Sem título


há a espera
fogem nas pegadas as palavras

Novº 05

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Exposição


Ontem fui ver a exposição na SNBA - O Surrealismo Abrangente - Colecção particular de Cruzeiro Seixas.

Uma colecção grande que dá vida àquele salão e onde estão expostas obras de variadíssimos pintores (conhecidos e desconhecidos) desde o seu bisavô a nomes que deram relevância ao movimento surrealista nacional e internacional.

Uma exposição que gostei de visitar apesar de não ter qualquer tipo de empatia com a maior parte das obras ali expostas mas que são uma referência do movimento em causa e que ali se encontra exposto nas suas diversas vertentes.

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quinta-feira, janeiro 20, 2005

Links refeitos


Depois do apagão já refiz a minha coluna de links. Retirei os que entretanto desapareceram e coloquei os apagados e mais alguns novos. Se me faltar algum peço desculpa mas, acreditem, foi muito trabalho para 1 dia!

Em baixo segue uma listagem dos novos blogs que entraram para a coluna da direita mas, como não tenho tempo para mais linkagens, espero que o façam a partir da coluna da direita - vale bem a pena!

Alpreada
Amoralva
Arquivo Fantasma
Blue Shell
Bolasdeberlim
Dias com Árvores
Diotima
Ante mare, undae
Erotismo na Cidade
Estranho Amor
Extensa Madrugada. Mãos Vazias
Klepsýdra
Linha dos Nodos
Ao Longe os Barcos de Flores
Muita Letra
Palavras de Tribo
A Raiz do Tempo
[rearviewmirror]
A Vida É Larga!
Verso & Prosa Encadeados
Zé Aquilino Santos, o passageiro

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Soledade Santos na Di Versos e no Jornal de Letras, Artes e Ideias


Fiquei tão contente por ler a seguinte e bem merecida notícia:

Di Versos

Sai o nº 8 da "Revista Semestral de Poesia e Tradução" Di Versos que mistura traduções de grandes poetas, como (esta edição) a alemã Nelly Sachs, o francês Benjamin Péret ou do italiano Edoardo Sanguineti ou menos famosos como o grego Tasos Leivaditis, com originais de poetas portugueses já bem conhecidos, como Amadeu Baptista, ou desconhecidos, como, entre outros, Soledade Santos, de que aqui se transcreve "To be alone: uma chávena de chá sobre a mesa/um gato de barro um castiçal/ Algumas flores conchas livros/ um caderno dois novelos/ de lã e um revista de tricot -/ espólio de uma tarde à chuva/ nessas delícias de solidão/ que D H Lawrence cantou."


In, Jornal de Letras, Artes e Ideias nº895

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Citando # 77


Escrever é que é o verdadeiro prazer; ser lido é um prazer superficial.

Virginia Woolf

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quarta-feira, janeiro 19, 2005

Parabéns Eugénio!


As Amoras

O meu país sabe às amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos
reparo que também no meu país o céu é azul.

Eugénio de Andrade

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terça-feira, janeiro 18, 2005

Apagão


Mais uma vez tive uma apagão no blog o que já me tinha acontecido no Alicerces. Não sei porquê mas ao mandar gravar um post o Template foi-se ao ar. Perdi todas as minhas formatações que irei repondo aos poucos. O pior foi a minha preciosa coluna de links mas voltarei a ela com paciência e aproveitarei para a actualizar.

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Exposição



Desenho - pormenor



pintura



Fui ontem ver a exposição de Jaime Silva na Galeria Valbom. Um espaço amplo onde cada quadro tem o seu lugar, enquadramento e boa iluminação.

Quanto à exposição gostei especialmente da parte do desenho. Gosto do traço vigoroso que o trabalho de luz e sombra destaca. As pinturas penso que estão menos conseguidas.

Jaime Silva foi meu professor na SNBA e, infelizmente, tenho a dizer que não gostei nada dele como professor talvez porque nas aulas ele nunca tenha investido nem 1/3 do que investiu nestes seus desenhos e pinturas.

Apesar de tudo o que disse aconselho a visita pois a exposição tem coisas muito boas enquadradas por um espaço próprio e conseguido.

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segunda-feira, janeiro 17, 2005

Da Plástica



a tela acolhe o pincel e desafia-o ao desvaire
soltam-se das fibras os fantasmas e a memória
riscam-se as dores e sobressaem os duendes
diegéticas imagens envolvendo sons e acasos
sinais indeléveis que a mão acompanha
na projecção do ensaio

manhãs revoltas que Dvoräk compassa!


Lisboa, 14 de Janeiro de 2005

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Citando # 76


A poesia é sempre um acto de paz. O poeta nasce da paz como o pão nasce da farinha.

Pablo Neruda

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domingo, janeiro 16, 2005

Leonardo da Vinci # 1- Tratado de Pintura



auto-retrato


Práctica de la pintura

519

(B.N. 2038, 28a)


DE CÓMO JUZGAR TU PINTURA

Bien sabemos que los errores se reconocen más sobradamente en las obras ajenas que en las propias, y que a veces, censurando pequenos errores en los otros, ignoramos los grandes en nosotros mismos. Para huir de tal ceguera procura, en primer lugar, ser un excelente maestro en perspectiva, y más tarde, tener completo conocimiento de las proporciones dei hombre y los otros animales; deberás ser incluso un buen arquitecto en lo que toca a la forma de los edificios y otros objetos que son sobre la tierra con infinitas formas. Cuanto mayores sean tus conocimientos tanto más loable será tu hacer; pero cuando en algo carezcas de experiencia no te avergüence copiarlo del natural. Volviendo, sin embargo, a lo que más arriba prometi, digo que cuando pintes debes servirte de un espejo plano y, a veces, contemplar en él tu obra, la cual, vista al revés, te parecerá de mano de un otro maestro, pudiendo así juzgar sus yerros mejor que de otra guisa. También es conveniente levantarse y tomar ligero solaz, porque así, cuando vuelvas a ello, tu juicio será más agudo, en tanto que permanecer aI pie de tu obra mucho te enganará. O alejarse, porque así la obra parece menor, se abarca de una ojeada y se reconocen con mayor certeza las discordancias y desproporciones de los miembros y colores de las cosas.


Leonardo da Vinci, Tratado de Pintura, Práctica de la Pintura, Akal

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sábado, janeiro 15, 2005

A indestrutível beleza



Amanhecendo - Ericeira

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Citando # 75


Não se ensina aquilo que se quer; ensina-se e só se pode ensinar aquilo que se é.

Jean Jaurès

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sexta-feira, janeiro 14, 2005

Exposições - Mário Cesariny e Noronha da Costa




Cesariny


Foi a primeira exposição que visitei esta semana. No Museu da Cidade, ao Campo Grande, até 13 de Fevereiro.

Esta exposição retrospectiva resulta da atribuição a Mário Cesariny de Vasconcelos (1923-) do Grande Prémio EDP 2002, uma iniciativa da Fundação EDP que pretende premiar o mérito de artistas plásticos, cujo trabalho, foi um contributo para afirmar e fundamentar as tendências estéticas contemporâneas portuguesas.

Reconhecido como poeta, como uma das vozes mais significativas do surrealismo português e como uma das personalidades e penas mais polémicas do Movimento, a sua obra plástica, que vai a par ou mesmo precede os momentos mais intensos da sua escrita, não tem sido consensualmente entendida, na sua originalidade e inovação, pela historiografia da arte portuguesa.

O objectivo desta exposição - que apresenta mais de duas centenas de desenhos, pinturas, colagens, objectos e assemblages da autoria de Cesariny, realizados entre a segunda metade dos anos 40 e a actualidade - é, precisamente, o de ultrapassar tal limitação interpretativa, reposicionando o artistas num lugar central no contexto da história cronológica e crítica da arte portuguesa (e mesmo internacional).


Conhecia pouco a obra do Mestre, apenas a sua escrita. Confesso que, apesar dos meus parcos conhecimentos plásticos e estéticos, prefiro de longe a sua obra literária do que a sua obra plástica demasiado conotada com o surrealismo que não aprecio grandemente. Mas gostei de ver esta retrospectiva - única forma que temos de avaliar a obra de um pintor.



Noronha da Costa


Ontem fui ver na SNBA a recentemente inaugarada exposição de Lúis Noronha da Costa - Piero Della Francesca após Lucio Fontana.

O tema da exposição de Luís Noronha da Costa projecta-nos para o campo da investigação que o artista tem desenvolvido ao longo do seu pervurso, nomeadamente no domínio do pensamento sobre a arte e sobre a pintura em particular, de facto, a pintura como conceito, como representação ou como objecto, e a questão complexa da imagem têm atrevessado as diferentes modalidades do seu trabalho e motivado a sua criatividade. Emília Nadal

Gostei muito desta pequena exposição de Noronha da Costa que continua mestre na sua técnica a que, falha de melhor nome, chamarei de esfumado. Há ali larga matéria para uma boa metalinguagem.

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quinta-feira, janeiro 13, 2005

Vasculhando o sótão



Eglise Ste. Croix - Le cloître



Église de Ste. Croix

Le monastère primitif des chanoines réguliers de Ste. Augustin fut édifié par l'archidiacre D. Tello et ses 12 compagnons au début de la monarchie portugaise.

Les premiers rois D. Affonso Henriques et D. Sancho I furent chanoines de cet ordre en même temps que bien-faiteurs.

Plus tard D. Manuel fit reconstruire l'église et une partie du Monastère.

Le cloître du silence est dû à l'architecte Marcos Pires. A signaler dans les allées du cloître les beaux bas reliefs de pierre.

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quarta-feira, janeiro 12, 2005

Vasculhando o sótão



Guide du Voyageur à Coimbra, Edition de la "Sociedade de Defesa e Propaganda de Coimbra".


Só tenho pena de não encontrar neste livrinho - que o tempo foi amarelecendo - nenhuma data.

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terça-feira, janeiro 11, 2005

Sem título


Corre clara a água na mão
mal lhe toca, carícia leve,
abre veios insondáveis
distraindo a rotina dos dedos
amparando a trégua
no fino fio da lâmina.

Acorde esmaecido na melodia.

Lisboa, Novembro de 2003

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Citando # 74


Nunca chegamos aos pensamentos. São eles que vêm.

Martin Heidegger

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segunda-feira, janeiro 10, 2005

Anoitecidos


O frio enregelou o dia e a alma. Como num limbo percorro o fio da vida, distante. Sem fluxos. Enrolando os passos nos desperdícios. Ausente. Numa carência de absoluto. Accionando as fronteiras como temendo a invasão. Esperando que alguns, só esses, atravessem clandestinos o rio porque nunca cederão às fronteiras, aos obstáculos. Sedenta espero-os por detrás do postigo na reentrância da alma. Impaciente. Com a paciência plástica que a vida me foi ensinando. Espreitando mil vezes o postigo como a criança que não sabe que espera.

Como funâmbulo prossigo olhos postos na outra margem.

O frio enregelou o dia e a alma e não há lareira que aqueça a espera incompreendida que só a razão compreende.

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sábado, janeiro 08, 2005

O Pano e a Mesa


está esgaçado o pano que cobre a mesa
fruto do tempo e das mãos
e antes que todos cheguem
numa breve pausa
reconstruo cenas parecidas com esta
onde se fidelizou este pano e esta mesa
que me chegaram de casa dos meus avós
e, se calhar, tal como o Gama,
andaram pelo Oriente
ornando as recepções da então jovem
com que dizem que me pareço
olho-a ali no retrato grande
com saia até aos pés e chapéu
brincando com meu pai vestido de marujo
talvez também a mesa servisse de apoio
aos charutos de meu avô
nessa Póvoa do Varzim distante
onde o mar enraizou nossa sina;
mais tarde em Campo de Ourique
foram acarinhados por outra jovem
loira e bela
com o tom dos países nórdicos
ornada por um sorriso e alegria contagiantes
minha mãe que os deuses adoraram
e por isso mataram cedo;
num passado próximo mesa e pano
apoiaram as festas da jovem que eu fui
e que os pais mimoseavam
na ternura do amor
no vínculo do mar;
hoje, no buraco negro da ausência,
acarinho as lembranças
e desdobro as emoções
na alvura do pano
que agasalha a mesa antiga.

Lx,Maio de 2002

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sexta-feira, janeiro 07, 2005

Anoitecidos


Na noite a sinfonia arrepiava a lareira e as chamas moviam-se no cadenciado doloroso da matemática das notas. Corria a noite nos acordes e na empatia que cristalizava os sons em mim.

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quinta-feira, janeiro 06, 2005

Eu não sei o que me resta


eu não sei o que me resta
quando caíram as muralhas
e a liberdade continuou silenciosa

eu não sei o que me resta
quando o sol se distanciou da terra
e a luz perdeu os pirilampos

eu não sei o que me resta
quando os túneis não têm saída
e as flores fugiram da cidade

eu não sei o que me resta
quando a prosápia instalou no mundo
mentiras sequenciais

eu não sei o que me resta
quando o tempo afunila
em perspectiva linear central

eu não sei o que me resta
quando a água aparta os povos
na sede da sobrevivência

eu não sei o que me resta
quando
só os recém-nascidos trazem o espanto na ponta dos dedos!

Lisboa, Novº 2004

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terça-feira, janeiro 04, 2005

Do Sentimento


Do passado não te contei
há cancelas que não se abrem
só os mitos esvoaçam
e a tarde inunda de luz o rio;
olha as pedras junto à nora,
tão gastas e tão sólidas,
aí se espelha o passado
dançando por entre as pedras
no assíncrono som da água.


Lx, Janeiro de 2004

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segunda-feira, janeiro 03, 2005

Citando # 73


Something is perfect. If you can leave it as it is.

Zen

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domingo, janeiro 02, 2005

Marcador de livros



Um pouco de papiro egípcio deixando nos meus livros memórias, cheiros e cores.

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