Eu não sei o que me resta
eu não sei o que me resta
quando caíram as muralhas
e a liberdade continuou silenciosa
eu não sei o que me resta
quando o sol se distanciou da terra
e a luz perdeu os pirilampos
eu não sei o que me resta
quando os túneis não têm saída
e as flores fugiram da cidade
eu não sei o que me resta
quando a prosápia instalou no mundo
mentiras sequenciais
eu não sei o que me resta
quando o tempo afunila
em perspectiva linear central
eu não sei o que me resta
quando a água aparta os povos
na sede da sobrevivência
eu não sei o que me resta
quando
só os recém-nascidos trazem o espanto na ponta dos dedos!
Lisboa, Novº 2004
Etiquetas: Poemas HFM
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