quinta-feira, agosto 31, 2006

Sem título


No tempo das agressões
não te espantes
sorri

até à rosa murcharão as folhas.


hfm - Ericeira, 25 de Agosto de 2006



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quarta-feira, agosto 30, 2006

Do tempo do olhar


Procuro o alto
onde se esconde o cinzento
e o ar rarefeito
ensina a lenta apreensão
dos segundos
e da transparência.


Alonga-se em abrigo a distância
enquanto o sopro percorre
numa linha descontínua
o hiato entre o alto
e nenhures.



hfm - Agosto 06



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segunda-feira, agosto 28, 2006

Notas de viagem - 15


Das Côtes-d'Armor darei conta de um local quase mágico onde crianças e velhos se deliciam percorrendo as estreitas veredas por entre as rochas. Estou a falar da Côte de Granit rose - Costa de Granito rosa - que vai de Ploumanac'h a Perros-Guirec (ou como dizem os locais, a Perros). Este percurso feito através do caminho dos "douaniers" (homens da alfândega) é um repouso para a vista e um jogo de imaginação. As rochas de granito rosa foram, ao longo dos tempos, sofrendo a erosão e nela se esculpiram diversas formas a que o homem foi dando nomes - o cogumelo, o pé, a cabeça da morte, a tartaruga, o sofá e tantas, tantas outras e ainda mais aquelas que a nossa imaginação acrescenta.

A praia de Ploumanac'h é um amplo areal numa enseada semeada de inúmeras ilhas e ilhotas. Num dos lados do areal fica o pequeno oratório dedicado a St. Guirec.

As fotografias abaixo darão apenas uma pequena impressão sobre este belo parque onde andei quatro horas e onde, se pudesse, teria continuado por muito mais tempo. Realmente sentia-me um pouco Alice no País das Maravilhas sabendo, contudo, que ali tudo era real.

A magia tem de ser vivida no local pois as fotografias são uma palidíssima imagem da realidade.





O farol de Men-Ruz



À esquerda a enseada de Ploumanac'h, à direita o oceano, mais ao menos ao centro uma bela casa apalaçada.



descubram a forma e esperem que ela não vos caia em cima.



outros equilíbrios instáveis



vai um cogumelo?



um aspecto da costa onde, ao fundo, se vê uma ilha e à direita uma careta que dava jeito no Carnaval



por quanto tempo se vai aguentar?



À vossa imaginação



ao longe pareceu-me uma figura inca


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domingo, agosto 27, 2006

Do diário # 19


É forte o barulho do vento no canavial. Um tropel. Um galope. Uma vergastada. Talvez antes uma sinfonia que não sei compreender. Olho o Cabo ao fundo e, como num sonho, tudo se balança até à poalha que o sol cristalizou por sobre o oceano.

Se eu gritasse entraria na sinfonia como uma nota aguda mas em nada desafinada. E, na catarse, pouparia forças ao vento e soltaria, de dentro de mim, o som cavo sem ritmo que, por vezes, me solidifica.

Continua a fúria do vento e das palavras.



Ericeira, 25 de Agosto de 2006



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sábado, agosto 26, 2006

Continuando...


Fui "apanhada" pela PalavraPuxaPalavra e, embora não seja muito destas "cadeias" não podia deixar que tão simpático convite caisse em saco roto; assim, aqui vão as minhas etiquetas e espero que continuem o jogo.

Abrigo de Pastora - pela mescla de cultura e de humor certeiro que ali encontro.

Klepsidra - pelos conhecimentos que ali vou descobrir e pela simpatia de quem nele escreve.

Piano - pelas palavras que gritam como as pedras do deserto e por tanto de comum que encontrei.

poeta salutor - pela empatia em que me sinto com aquela poesis. As palavras, sempre as palavras.

Tela Abstracta - pela identificação, pela música, pelas escolhas, ainda pela palavra.

WebClub - pela simpatia, pela labuta diária na escolha da qualidade das imagens e das palavras.

E poderia continuar... a net tem vindo a alargar o meu conhecimento de um vasto leque de pessoas que, sem as conhecer, vieram enriquecer o meu dia-a-dia.



Sobre mim? Vou ali... e já volto ;)


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quinta-feira, agosto 24, 2006

Da Caligrafia


Como uma caligrafia ordenada
despedem-se os dias
no cronómetro universal
cansada
propositadamente parto o pincel
entorno a tinta
da caligrafia faço um ribeiro
e parto
na desordem alternativa
da libertação do olhar.


Lisboa, 14 de Agosto de 2006



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quarta-feira, agosto 23, 2006

Citando # 159


Fonder des bibliothèques, construire des greniers publics, amasser des réserves contre un hiver de l'esprit qu'à certains signes, malgré moi, je vois venir.

Marguerite Yourcenar, Mémoires d'Hadrien



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segunda-feira, agosto 21, 2006

Notas de viagem - 14


Um post sobre a zona portuária e o mar de Roscoff situado no Finisterra já na Mancha; uma descoberta por uma manhã bem cedo que ficou gravada no silêncio dos meus olhos em tons de azul e ocre. Uma cidade onde farei tudo para voltar e ficar para me poder perder nas ilhas, nas ruas, no tom azul daquela manhã de Junho, na beleza rara da maresia poisando sobre as rochas e as casas.

Aqui não estou de acordo com o meu "amigo" Michelin que apenas lhe atribui uma estrela. Poderá não ter obras de arte, monumentos mas tem uma paisagem de terra e mar que me cortou a respiração.






mar e ilhotas



mar e terra



mais mar, mais ilhotas, mais ilha



a rocha e os reflexos no intenso azul do mar



O brilho, a luz, e a imensidão do mar



O pontão



Uma vista do pontão sobre a terra, a igreja e os seus belos reflexos



A guarita


aqui aqui outra fotografia tirada ao mar e às algas de Roscoff

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sábado, agosto 19, 2006

Abel Salazar - O Desenhador Compulsivo


Fui ver a exposição de desenhos, aguarelas e óleos de Abel Salazar que se encontra no CCB. A exposição agarrou-me desde o primeiro desenho. Moderno para a sua época os desenhos ganham volume, força e movimento a partir de traços simples, directos, manchas, aguadas e traços encadeados que fazem com que o olhar siga o movimento, realce o pormenor e se detenha onde o artista nos quer levar.

Desenhador compulsivo, seguramente. Basta ver a quantidade de desenhos que são feitos no verso de papeis previamente utilizados, escritos ou com alguma cor. Outros são feitos em cartas que lhe foram escritas ou em papel pautado. Toda esta gama de suportes apenas aumenta o seu interesse.

Dizer que gostei muito, é pouco. Ainda por cima como fui cedo tive o privilégio de me poder deter em cada desenho procurando os traços, o sentido do risco, a evolução da mancha e tantos, tantos outros pormenores. Uma verdadeira aula de desenho.

Não resisti a colocar aqui três desses desenhos.












Neste desenho é bem visível o tipo de suporte utilizado


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quinta-feira, agosto 17, 2006

Sem título


saca do tempo o tutano
como se da fome
tivesses reminiscência

Lisboa, 27 de Julho de 2006


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terça-feira, agosto 15, 2006

Notas de viagem - 13


Falemos então agora dos recintos paroquiais. As palavras "enclos paroissial" foram, em primeiro lugar, utilizadas para designar uma igreja no meio dum cemitério fechado. Os recintos paroquiais são espaços fechados que, quase sempre, se abrem por uma porta monumental e dentro dos quais estão reunidos a igreja, o calvário e o ossuário. Quatro elementos para uma totalidade ou, como diria Littré, "l'union des contraires dans un tout".

Dito isto deixo aqui, como de costume, algumas imagens que falam por si e que mostram estes curiosos espaços e os seus diferentes monumentos quase todos eles situados em pequenas terras fazendo, entre si, um impressionante percurso geográfico. O que mais gostei foi, no dia que percorri alguns, encontrar em cada um deles as mesmas pessoas que tinha visto anteriormente - quase em jeito de peregrinação!





O enclos de Pleyben sem porta triunfal crê-se que devido ao facto do calvário ter sido mudado de sítio quatro vezes.



Sizun - a imponência da porta triunfal.



Sizun - a porta triunfal e o ossuário visto da parte interior do enclos.



Sizun - a Pietá em pedra (pena estar demasiado em contra-luz).



Guimiliau - a porto triunfal, a igreja, o calvário e, ao fundo, o ossuário.



Guimiliau - A entrada da igreja.




Lampaul Guimiliau - a entrada triunfal, o ossuário e o calvário.



Lampaul Guimiliau - a nave central da igreja.




Lampaul Guimiliau - A Pietá (1530) em madeira dentro da igreja.



Saint-Thégonnec - vista do conjunto do enclos - a porta triunfal vendo-se lá dentro o ossuário e a igreja e o seu campanário.

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domingo, agosto 13, 2006

Citando # 158


Quem muito sabe, muito sofre.

Ecclesiastes



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sexta-feira, agosto 11, 2006

Notas de viagem - 12


Na Bretanha, como já aqui disse anteriormente, tocou-me ver, perdidas em nenhures, pequenas igrejas voltadas para ao mar. Têm seguramente uma história mas delas encontrei apenas o nome. O mesmo não posso dizer dos calvários e dos recintos paroquiais (enclos paroissial). Há percursos para se verem os mais importantes e uma vasta bibliografia sobre o assunto. Vi, com curiosidade, alguns e da sua estranha beleza tentarei dar aqui conta.

Começarei hoje por falar dos calvários. É impossível quando se viaja de carro não darmos pela quantidade impressionante de calvários espalhados pelas bermas da estrada, junto às falésias ou nos locais mais remotos. Dos mais simples, antigos, com um tosco Cristo de pedra, a outros bem rebuscados feitos com materiais bem mais nobre ou ainda aqueles que a base que sustenta o Cristo têm anichada uma imagem de Nossa Senhora, ou ainda aqueles em que na base há um conjunto de figuras contando histórias biblícas como o caminho da cruz, Pilatos lavando as mãos, a ressurreição, a Pietá e tantas outras.

Deixo algumas fotografias que, melhor do que eu, podem dar ideia da simples beleza de alguns à grandiosidade de pormenores de outros.




Os primeiros ainda em cima menhirs. Kermainguy em Plouhinec.



O que encontrei junto a uma capelinha da Ilha de Brehat, sobre esta ilha falarei noutro post.



Notre Dame de Tronoën - calvário construído na parte sul atlântica da Bretanha. Data de 1450 e encontra-se junto da igreja do séc. XV ambos erijidos sobre a duna e fazendo face ao mar, num local isolado.



A parte detrás do calvário de Lampaul Guimiliau.



Pleyben a entrada para outro recinto paroquial.



Um dos mais importantes e famosos o que se encontra dentro do "enclos paroissial" de Saint-Thégonnec, datado de 1610. Foquei apenas um pormenor dos mais conhecidos. Sobre Saint-Thégonnec tornarei a falar quando me debruçar sobre os recintos paroquiais.


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quarta-feira, agosto 09, 2006

Sem título


na harmonia dos oceanos sem praias
perseguem-me as palavras

traços de silêncio e azul.


Ericeira, 8 de Agosto de 2006

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segunda-feira, agosto 07, 2006

Silly season


Frio. Não há calor que lhe faça sombra.

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sábado, agosto 05, 2006

Do tempo das férias


persiste o cheiro a férias
sol lavando a humidade
o tempo perseguindo o instante
como os namoros de verão
acantonados na maresia

persiste o cheiro a férias
desfiando dos anos o rosto
e as sobrevivências
as bonecas perdidas no sótão
ao abrigo da velha bicicleta

persiste o cheiro a férias
e à tribo sazonal
às longas horas cumpridas
por sobre o luar
filtrando esperanças e certezas

persiste o cheiro a férias
outro, pegando-se à pele
das memórias insolventes
Pandora destapando o passado
e o delírio das carências

persiste o cheiro a férias
na infantil memória do tempo.

Ericeira, 10 de Julho 2006



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quinta-feira, agosto 03, 2006

Notas de viagem - 11


Continuando as notícias da viagem e ainda na zona do Finisterra o dia passado na bela península de Cruzon. De salientar a beleza natural do local com as suas pontas, enseadas e o mar a perder de vista e ainda Camaret-sur-Mer o belo porto onde viveu o poeta St. Paul Roux (morto pelos nazis) que está enterrado no cemitério local.

Impatient, je regarde par le
nombril de fer de la porte.
Au milieu de la chambre,
une petite fille...
Toute nue...
Lui fallut-il pas le temps de naître ?
J'eus tort de m'irriter.
J'espionne derechef.
D'un regard à l'autre la voici
demoiselle déjà.
Lui fallait-il pas le temps de grandir ?
Toute nue toujours, et que jolie !
Si je n'appréhendais d'abuser,
discrètement je frapperais.
Mais lui faut-il pas le temps
de se vêtir ?
Attendons encore l'espace
d'un coup d'oeil.
Une chemise, blanche comme
un lange, à présent la couvre.
Risquons un appel timide.
Toc...
Eh laissons-lui le loisir de se
blottir en la tulipe d'une robe !
Enfin !
Dieu, la belle dame !
Le moment est propice
Toc toc...
J'entre.

Saint-Pol-Roux



No final do dia ainda passámos em Ménez-Hom uma pequena colina com uma situação fantástica donde se vê toda a Península de Cruzon e as que lhe ficam a norte e a sul num verdadeiro ângulo de 360º. Infelizmente não tenho muitas fotografias desta bela zona da Bretanha. Tirei poucas porque a máquina digital estava sem carga e na outra acabou-se o rolo ;(




Pointe de Penhir




A zona do porto de Camaret-sur-Mer com as suas casas de tons pastel



Camaret vista duma praia na direcção da Pointe des Espagnols



da Pointe des Espagnols vista sobre o porto de Brest



Pointe de Dinan



rochedo a que chamam o Chateau de Dinan


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quarta-feira, agosto 02, 2006

Valerá a pena?


É branco o secretismo do código
inequívoco opaco
silabando inexpressivo
na bruma da tarde.

Desconfia de todos
e de si próprio
por isso se defende em múltiplas
entradas
ora preguiçoso ora agitado
espalhando a confusão
desafiando arbítrios
congeminando barreiras
e
doentiamente
perseguindo os incautos.

Com paciência, nos nodos da vida,
alguns rastreiam-no
com perspicácia e sangue frio
como se a sobrevivência
se balizasse por uma quebra de rotinas
ou um espasmo de argúcia.

Dele ficará sempre o secretismo
pois só os ditos eleitos saberão
que o quebraram.

Ericeira, 30 de Julho de 2006


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terça-feira, agosto 01, 2006

Anoitecidos


Junto à luz do candeeiro ensandecem os mosquitos num turbilhão de voos. Tudo o mais é silêncio e escuridão que apenas alguns candeeiros longínquos vão amansando. De vez em quando – o brilho do farol do Cabo da Roca e a certeza dessa costa que se estende mar adentro sibilina nas suas curvas e enseadas. Nem vento, nem calor. A quietude que tudo projecta e adensa.

Talvez um coelho saia da loura e em zigue-zague se afoite a cortar a noite.



Ericeira, 31 de Julho de 2006



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