Linha de Cabotagem
Palavras no fio dos dias e dos ânimos
terça-feira, janeiro 31, 2006
segunda-feira, janeiro 30, 2006
domingo, janeiro 29, 2006
sábado, janeiro 28, 2006
Do diário # 13
À azenha só falta a roda a trabalhar. O sol encarregou-se de dar vida ao quadro. O óleo ressurgiu em toda a sua cor tentando saltar para fora da tela. A ponte é um convite e, apesar de ali também ser inverno, apetece mergulhar os pés na água e deixar que a vida escorra por entre os verdes cinzentos/azulados.
Este quadro é um enigma. Esconde-se na sua opacidade e quase se torna esquecido. Um dia, especialmente com o sol de inverno, ganha toda a sua robustez e explode no olhar que agarra. Tem dons especiais para se mostrar e nunca se deixa esquecer.
Augusto Costa é o seu autor e as azenhas, ao que me disse há muitos anos, são perto de Entre-os-Rios. É um quadro pequenino mas que me despertou o olhar precisamente por essa cor dominante o cinzento/azulado, ou será azul/acinzentado? A moldura é muito bela.
Tenho por este quadro uma ternura quase infantil e muito funda, não fosse ele o primeiro quadro que comprei.
Hoje este sol de inverno invadiu a sala e foi plasmar-se nas azenhas e o rio entorna-se do quadro e corre dentro de mim.
Etiquetas: Do diário
quinta-feira, janeiro 26, 2006
Gruta pré-histórica de Pech-Merle, Cabrerets, Lot, França
Não tão conhecida como a sua congénere Lascaux mas não menos interessante.
Etiquetas: Fora de portas, olhares
quarta-feira, janeiro 25, 2006
Canção para uma insónia
nem abóbadas nem arcos de volta
tão pouco o rendilhado da pedra
despovoada me persigo
na vastidão do silêncio
algures
acocorada no canto do claustro
onde só a laranjeira tem vida.
Lisboa, Janeiro de 2006
Etiquetas: Poemas HFM
terça-feira, janeiro 24, 2006
O Olhar Fauve
Na 6ª feira passada fui ao Museu do Chiado ver a exposição - O Olhar Fauve.
Gostei de ver na tela alguma obras que conhecia dos livros; não há nada como a cor na tela e as relações que esta estabelece com a textura e o traço.
A exposição é constituída por um acervo da colecção do Museu das Belas Artes de Bordéus e, citando apenas alguns, tem obras de Domergue, Kokoschka, Lhote, Marquet, Martin, Matisse, Renoir, Soutine.
Segue-se depois duas salas com o que eles chamam o Fauvismo na colecção portuguesa do Museu do Chiado. Não sou perita em História de Arte mas aí tenho muitas dúvidas sobre algumas obras expostas - fauvistas ou não são um regalo para a vista.
Uma exposição a visitar pois não é todos os dias que conseguimos estar em presença de obras dos autores acima citados.
Vai estar patente até 19 de Março.
Etiquetas: exposições
segunda-feira, janeiro 23, 2006
Do diário # 12
As palavras secam no uso e, tal como os gatos, recusam-se a obedecer. Fogem, negam-se para explodirem apenas quando lhes apetece nos dedos que entretanto se enrigeceram. São autónomas e só se desvendam aos que, tal as crianças, convivem com elas na imaginação das coisas simples.
As palavras querem-se resistentes e libertárias.
Etiquetas: Do diário
sexta-feira, janeiro 20, 2006
Do deserto, da palavra, da empatia
DO DESERTO
I
Onde o silêncio ainda é ruído
e os lábios crestam na sede de infinito
há um espanto sereno
sedento simples
do que ainda haverá
na senda do que ficou
naquele outro sítio donde vim
pedaço de deserto
amarrado à córnea do sentir.
II
sentada na bigorna que a pedra esculpira
olhei aquele deserto
e olhando-o
vi passar o tempo amarelecido
desfolhado página a página
no poço de uma lenta miragem.
III
Só o deserto
areia pó
o amanhecer de sangue
a ausência de palavras
ecoando nas montanhas
e a paz
que nenhum som define.
A sede também
de água de vida
de um Além.
IV
Ainda o deserto
e a sombra da água
que mastigo em mim.
Lembrei-me deste poema velhinho - 2001 a que fiz algumas emendas - ao ler estas palavras de Isabel Mendes Ferreira - a não perder aqui.
Etiquetas: Poemas HFM
quinta-feira, janeiro 19, 2006
Sem título
camada a camada
memorizo o palimpsesto
sou a mastaba dum processo evolutivo.
Lisboa, Janeiro de 2006
Etiquetas: Poemas HFM
quarta-feira, janeiro 18, 2006
Exposição de Tapiès em Lisboa
Fui ontem ver Tapiès na Galeria Fernando Santos na Rua de São Paulo, 98 junto à Igreja de São Paulo.
Gosto muito de Tapiès que me deram a conhecer há uns anos. Do que dele conheço tenho em mim as texturas das suas grandes telas no Rainha Sofia em Madrid. Em Lisboa recordo-me de o ter visto numa exposição na Mundial Confiança ao Chiado. Hoje retornei a um género diferente - menos telas, mais desenho e em suportes muito diferenciados. Mas continua a ser o mesmo enigmático Tapiès mergulhado nos seus símbolos, na sua filosofia e no seu mundo onde habitam as cruzes e uma caligrafia alicerçada na filosofia zen.
A não perder o vídeo de cinquenta e tal minutos que muito nos ajuda a percorrer a sua arte, a sua mestria e o substracto do que está para além do visível.
Etiquetas: exposições
segunda-feira, janeiro 16, 2006
No huit-clos do fim da tarde
para o JRD
gelam as mãos na tecla e o mistério invade o fim da tarde
há como que um hiato ofuscando a luz salientando as sombras
breve vida paralela entre o espaço vivido e a irreal
consonância do momento.
um jeito descolorido de não ser
o voo rasante do adiado
a página muda que não se pode virar
o átimo fragmento do não dito
o caminho ao invés do projectado
uma linha que não sei se paralela se quebrada.
Lisboa, 2 de Janeiro de 2006
Etiquetas: Poemas HFM
domingo, janeiro 15, 2006
Citando # 151
Qui a peur de son ombre attend midi pour se lever. Pendant ce temps, les autres courent.
François Mitterand
Etiquetas: Citando
sexta-feira, janeiro 13, 2006
Diurnos # 13
O frio corre no meio do sol cavalgando a tarde, desassossegando as pessoas. Ritmo frenético numa orquestra de temperaturas – esplendor meteorológico.
Etiquetas: Diurnos
quarta-feira, janeiro 11, 2006
Ainda as Palavras
Tem de ser interior o eco
e a vertigem
soltura de palavras
na gargalhada cumprida.
O exterior é o retábulo
a madeira onde assentam
as interrogações e os enigmas.
Diafragma vibrando
a respiração das palavras.
Lisboa, 2 de Janeiro de 2006
Etiquetas: Poemas HFM
terça-feira, janeiro 10, 2006
Para a Tecum
sempre atenta à poesia e a alguns autores quase esquecidos que ela faz reviver num dos mais belos blogs de poesia.
Este autógrafo consta do meu velhinho livro de autógrafos e foi-me dado por ele - António Pedro - numa das muitas vezes em que o vi em Agosto na Ericeira em casa de amigos de meus pais e que eram da sua família. Na altura não tinha idade para compreender o peso intelectual (o outro era visível) daquele senhor que falava de uma forma que me despertava a curiosidade. Desconhecia, então, que ele escrevia pois dele falavam-me como director do Teatro Experimental do Porto e eu lembro-me de ficar sentada na pedra do alpendre ouvindo incansavelmente as suas histórias. Foi um privilégio que, infelizmente, não tinha idade para aproveitar. Talvez por isso tenha ficado tão sensibilizada quando o encontrei no Texere.
Etiquetas: olhares
segunda-feira, janeiro 09, 2006
Sem título
Sou viajante de mim
sem espaço nem tempo
um interlúdio de coisa nenhuma.
Lisboa, 30 de Dezembro de 2005
Etiquetas: Poemas HFM
sábado, janeiro 07, 2006
Obrigada
à minha amiga Márcia Maia de quem acabei de receber esta prenda.
Já li e, como não poderia deixar de ser, gostei muito. Dele transcrevo o poema do prólogo
peregrinação
uma palavra
que diga de dor sem doer
de fogo sem queimar
de amor
sem dizer absolutamente
xxxxxxxxxxxxxxxxxnada.
uma palavra-nada
oca inútil vazia
uma anti-palavra
(a que preciso)
:onde encontrá-la?
Etiquetas: sobre livros
sexta-feira, janeiro 06, 2006
Ainda são ocas as palavras. Poluídas. Saturantemente repetitivas. Um dia se criará um novo dicionário e no entrecruzar de sílabas a Babel terá futuro.
Etiquetas: Diurnos
quinta-feira, janeiro 05, 2006
Sem título
Tenho no corpo as cores infantis
e na cabeça a fuga ancestral
- pantomima de sol.
Lisboa, 4 de Janeiro de 2006
Etiquetas: Poemas HFM
quarta-feira, janeiro 04, 2006
Sempre estas palavras
Cheguei ontem, de repente, a uma sensação absurda e justa. Reparei, num relâmpago intimo, que não sou ninguem. Ninguem, absolutamente ninguem. [...] Sou os arredores de uma villa que não há, o comentário prolixo a um livro que se não escreveu. Não sou ninguem, ninguem. Não sei sentir, não sei pensar, não sei querer. Sou uma figura de romance por escrever, passando aerea, e desfeita sem ter sido, entre os sonhos de quem me não soube completar.
Fernando Pessoa, Livro do Desassossego, 1 de Dezembro de 1931
Etiquetas: Citando
terça-feira, janeiro 03, 2006
Da Palavra
Para a Isabel Mendes Ferreira
não ouso a palavra
é um código complicado
enterro-a nos labirintos
nos silêncios
na velha cisterna do deserto
e nas fontes ornamentais
dos países ditos civilizados
não ouso a palavra
dilacero-a
numa espartana redoma
onde a tenho acomodada
asfixiada silente
muda na sua essência
irrecuperável
não ouso a palavra
e ela ri-se achincalha-me
parte os vidros da redoma
contorna os silêncios
destrói cisternas e fontes
ensandece os labirintos
então, exangue selvagem
codifica-se na sua pluralidade.
Etiquetas: Poemas HFM
segunda-feira, janeiro 02, 2006
Recomendo
Recebi este livro de presente e recomendo-o vivamente para quem gostar de história de arte.
Valeriano Bozal analisa a pintura europeia a seguir à Segunda Guerra Mundial. Entre os pintores escolhidos destaco: Giacometti, Bacon, Artaud, Tàpies, Saura.
Etiquetas: sobre livros