terça-feira, janeiro 03, 2006

Da Palavra



Para a Isabel Mendes Ferreira



não ouso a palavra
é um código complicado
enterro-a nos labirintos
nos silêncios
na velha cisterna do deserto
e nas fontes ornamentais
dos países ditos civilizados

não ouso a palavra
dilacero-a
numa espartana redoma
onde a tenho acomodada
asfixiada silente
muda na sua essência
irrecuperável

não ouso a palavra
e ela ri-se achincalha-me
parte os vidros da redoma
contorna os silêncios
destrói cisternas e fontes
ensandece os labirintos
então, exangue selvagem


codifica-se na sua pluralidade.



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