sexta-feira, janeiro 20, 2006

Do deserto, da palavra, da empatia


DO DESERTO

I

Onde o silêncio ainda é ruído
e os lábios crestam na sede de infinito
há um espanto sereno
sedento simples
do que ainda haverá
na senda do que ficou
naquele outro sítio donde vim
pedaço de deserto
amarrado à córnea do sentir.


II

sentada na bigorna que a pedra esculpira
olhei aquele deserto
e olhando-o
vi passar o tempo amarelecido
desfolhado página a página
no poço de uma lenta miragem.



III

Só o deserto
areia pó
o amanhecer de sangue
a ausência de palavras
ecoando nas montanhas
e a paz
que nenhum som define.

A sede também
de água de vida
de um Além.



IV

Ainda o deserto
e a sombra da água
que mastigo em mim.



Lembrei-me deste poema velhinho - 2001 a que fiz algumas emendas - ao ler estas palavras de Isabel Mendes Ferreira - a não perder aqui.

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