Linha de Cabotagem
Palavras no fio dos dias e dos ânimos
quinta-feira, março 31, 2005
Citando # 95
Nessa encruzilhada do desejo e da necessidade, não deixes nada: não voltarás lá nunca mais.
Omar Khayyam
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segunda-feira, março 28, 2005
Citando # 94
Sous les rochers, on sait bien que les vagues ne monteraient jamais aussi haut.
Roger Nimier
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Sem título
corre o rio no silêncio das pedras
tracejando caminhos
na horizontalidade das horas
esboroam-se turbulências na simplicidade das coisas.
Lisboa, 10 de Março de 2005
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quarta-feira, março 23, 2005
Encore le temps de vivre
beaucoup de mes amis sont venus des nuages
avec soleil et pluie comme simples bagages
(...)
ils ont cette douceur des plus beaux paysages
et la fidélité des oiseaux de passage
Françoise Hardy
Não fora o mar que me pegara. Lá, no meu país, o mar era belo e estendia a minha imaginação. Tão pouco o fora a praia – demasiado plana. O tempo? – era apenas uma caricatura; um cinzento onde, por vezes, caía uma chuvinha fina. Só a água se impunha; a sua temperatura contrastava com tudo o mais – quente! Jean lembrara-me a corrente quente do Golfo. Sim, tinham-me falado dela na superficialidade retórica com que essas coisas nos eram dadas no Liceu. Ali havia a alquimia do laboratório – a experiência!
Jean sorria com os meus comentários que o desarmavam. Tudo para mim era uma novidade. Era uma novidade entrar numa das lojas na alameda que bordejava a praia de Coq-sur-Mer, entrar vestida de uma maneira e sair vestida de calças e blusão de ganga novos; jantar num terraço junto ao mar, comendo mexilhões; percorrer diversos bares onde gente nova despreocupadamente cantava as canções da moda – muito Brel, muito Adamo e, a meu pedido, muito Aznavour. Novidade eram os teus braços e a sensação de liberdade. Novidade era aquele fim-de-semana decidido de improviso na 6ª f. de manhã em Paris.
Sem qualquer esforço de memória, ainda hoje me consigo ver nesse tempo depois de dois longos dias vividos no limite, recrio essa última noite na grande cama do quarto no sótão de um pequeno hotel sobranceiro ao mar. Tinhas acabado de adormecer e eu estava para ali revivendo as experiências desse mês em Paris que culminara com o fim-de-semana passado nessa pequena praia belga – Coq-sur-Mer.
Senti uma lágrima correr-me pela cara. Uma lágrima de felicidade, pensei. Mas um arrepio percorreu-me o corpo. Não, não era. De repente e sem qualquer regret eu começara a tomar consciência de que tudo se tinha acabado. Eram lindas as juras de amor. Os sonhos que traçáramos em conjunto. Eram lindas as perspectivas que tínhamos delineado. Eram lindas mas, ali na cama, no silêncio da noite e daquele céu estrelado por cima do mar do Norte, eu senti a sua irrealidade.
Amanhã regressaríamos a Paris, à tua cidade e, dentro de dois dias, eu regressaria a Lisboa, ao cinzentismo de um país tão diferente do teu. Poder-nos-íamos rever, talvez nos aguentássemos um ano ou dois mas eram mais as coisas que nos separavam que as que nos uniam. Acabara de te conhecer, fora belo mas eu voltaria, acabado o pequeno curso, a uma vida e a um país que nada tinham a ver com o teu. Ficar em Paris ainda era impossível – era menor, sem trabalho, sem referências.
A lágrima parou. Era jovem. O mundo estava à minha frente e eu julgava que ele me pertencia. Havia ainda dois dias para aproveitar e eu ainda não media o tempo por horas mas pela eternidade. Ainda não era o tempo das escolhas.
Enrosquei-me no teu corpo e o barulho das pequenas ondas embalou-me. Adormeci.
hfm
Lisboa, 11 de Março 2005
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Citando # 93
Toutes sortes de "politiques" inavouables, toutes sortes de ruses stratégiques peuvent s'abriter abusivement derrière une "rhétorique" ou une "comédie" du padon pour brûler l'étape du droit.
Jacques Derrida
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segunda-feira, março 21, 2005
Sem título
a noite
na sala a penumbra descai
o abat-jour
e o dia
na subtracção dos momentos
exíguos
Lisboa,7 de Março de 2005
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sábado, março 19, 2005
Está a olhar para quem?
mariposa
As rechonchudas mariposas io, apostam a sua vida na surpresa. Em descanso, esta fémea automeris io, oculta as pintas redondas nas asas traseiras, com as suas asas anteriores castanhas sarapintadas. Quando perturbada, esta mariposa levanta as asas anteriores, parecendo ao seu agressor assustado, dois olhos grandes de mamíferos.
National Geographic – Maio 2002
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sexta-feira, março 18, 2005
Anoitecidos
A mancha das palavras na folha branca raramente chega onde as queria levar.
São toscas. Falta-lhes a chama. Não endoidecem a fragilidade com que despontaram.
Nem o traço as sublima. Nem elas exprimem a limpidez da sua naturalidade. Há sempre rumores e o som cavo da fractura.
Esboços sem norte que não se encontram e raramente se entrecruzam.
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Citando # 92
J'y pris des habitudes. Une habitude c'est presque une compagnie, dans la mesure où une compagnie n'est bien souvent qu'une habitude.
Simone de Beauvoir, La force de l'age
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quinta-feira, março 17, 2005
Sem título
quando eu morrer que seja
num setembro ensolarado
ao entardecer
num rubro poente
adentre na água nos braços do sol
Lx, 9 de Fevereiro de 2001
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quarta-feira, março 16, 2005
Sem título
era de leveza o momento
as cores saiam do caleidoscópio
pareciam instalações
levitando na intemporalidade.
era só o momento
protegendo o futuro
no passado.
era aquele momento
dançando por entre o espaço.
só o momento
e toda a ternura da continuidade.
Lisboa, 14 de Março de 2005
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terça-feira, março 15, 2005
Notícias de Cabotagens
já as devia ter dado; assim, vai hoje uma exaustiva lista de mais alguns blogs que visito frequentemente e onde encontro sempre motivo para voltar.
100nada
Abnoxio
Absorto
A Cidade Queimada
A Noite
Babel
Blog da Sabedoria
Bodião Reticulado
Em Desalinho
Desencontrados Ventos
Ditos
Divas & Contrabaixos
Encosta do Mar
the end of the affair
Erotismo na Cidade
Exacto
Fora do Mundo
O Insurgente
Intermezzo
Last Tapes
Mania dos Quadradinhos
Novos Voos
Obvious
papel de rascunho
paredes oblíquas
postraumatico
Sarapalha
Silsmaria
O tempo e do deserto
tro.blog.dita
O Vício da Arte
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segunda-feira, março 14, 2005
Para
o Expresso do Oriente
It is mind itself.
Leading mind astray.
So.
Take care of your mind.
Zen Poem
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domingo, março 13, 2005
Vasculhando o sótão - Ericeira II
Como prometido seguem mais dois postais da Ericeira respectivamente de 1967 e 1968.
O primeiro é apenas uma panorâmica onde os ericeirenses mais atentos podem notar uma série de diferenças com a realidade, a mais gritante o tamanho da praia do sul.
O segundo as Ribas vistas do lado sul mostram a praia quando ela era apenas a Praia dos Pescadores ainda sem molhe e sem a parte alcatroada para onde agora os barcos são arrastados. Claro que, nesta altura, também já eram puxados por tractores e não pelos bois como antigamente. Há outros pormenores que não escaparão a um olhar mais atento. De salientar o nome do barco; estes nomes ainda hoje marcam profundamente os barcos dos pescadores da Ericeira.
panorâmica da Praia do Sul e do Hotel de Turismo
As Ribas vistas de Sul
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sábado, março 12, 2005
Citando # 91
"You have two birth-places. You have the place where you were really born and then you have a place of predilection where you really wake up to reality."
Lawrence Durrell-- Blue Thirst
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sexta-feira, março 11, 2005
quinta-feira, março 10, 2005
Vasculhando o sótão - Ericeira I
Hoje três postais da Ericeira que estão datados respectivamente dos anos: 1952, s.d., 1956.
No 1º o Hotel, situado na antiga casa da família Burnay, ainda só tem um edifício.
No 2º postal o Hotel já tem 2 edifícios (hoje tem 3!). Vê-se o início da praia do Sul a que os ericeirenses dão o nome de Baleia (consta que uma baleia morta deu, em tempos, à costa). Nessa época a praia era bem maior e ainda havia barracas e toldos na Baleia excepto em Setembro aquando das marés vivas. Hoje a baleia é uma estreita faixa de areia que o mar cobre.
No 3º postal vê-se a zona das Furnas e da Praia do Sul. O morro ao fundo ainda se encontra despoluído, sendo hoje um viveiro de casas, moradias, cubos, apartamentos numa psicadélica desordenação! Também na zona das rochas há muito que já não existem os viveiros das lagostas.
Em breve seguirão mais dois postais já a cores mas ainda com datas dos anos 60.
Hotel da Ericeira - ainda só com 1 edifício
Hotel com 2 edifícios
Furnas
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terça-feira, março 08, 2005
Escolhas/Rejeições
Se eu me sentasse sozinha comigo própria, ausente de tudo, por cima de tudo onde esteja incrito o prefixo pre; ali, face a face, eu, a minha consciência e as minhas memórias. Como se estivesse ao espelho - um espelho que me duplicasse tal como sou, não uma imagem invertida. Aí, poderia ousar olhar nos dois sentidos: para trás, para o hoje e pensar-me.
Ausente de todos os pré(s), desfiaria as memórias e talvez conseguisse perceber melhor a sucessão de factos que foi a minha vida. De factos. Mas mais importante ainda, de escolhas. Ou talvez ainda melhor –, de rejeições. Não é isso a escolha?
Depois dessa análise isenta (permitam-me que duvide que alguma vez alguém conseguisse ser isento mesmo sentado consigo próprio num diálogo de vida), o mais importante seria pegar nos factos e nas escolhas ou rejeições que se lhe seguiriam e inverter-lhes a ordem, isto é: escolhi isto, rejeitei isto, então da rejeição faria escolha e da escolha rejeição... abrir-se-iam muitos caminhos, novas escolhas que, se já em nada alteravam a minha vida, pelo menos levar-me-iam por caminhos que poderiam ajudar nas futuras escolhas/rejeições e, seguramente o mais importante, se eu soubesse escrever, que belo romance não dariam – A Alternância das Escolhas/Rejeições!
Se eu me sentasse sozinha e me despojasse deste palimpsesto que sou, talvez a escrita fosse simples e as palavras celebrassem uma aleatória sucessão de escolhas/rejeições onde haveria sempre, por mais escondido que estivesse, um brilho de verdade.
Se ao menos eu conseguisse sentar-me sozinha, despida de mim e desta que me habita, se ao menos a memória me não traísse e os factos fossem lineares, se as ideias regessem a orquestra das palavras que cá dentro giram como num poço da morte, que belo romance eu poderia escrever!
Lisboa, 3 de Março 2005
Etiquetas: Escritos
segunda-feira, março 07, 2005
Um momento de nostalgia
Guerra e Paz
(...)Assim, pois, a ideia que fazemos da liberdade e da necessidade de um acto diminui ou aumenta gradualmente segundo são maiores ou menores a conexão com o mundo exterior, a perspectiva do tempo e a dependência das causas do fenómeno da vida do homem que estudamos.
(...)
Mas supondo mesmo que imaginávamos um homem completamente livre de toda a influência, apenas encarando um seu acto momentâneo e partindo do princípio de que esse acto não era determinado por causa alguma, se admitirmos o resto infinitamente pequeno da necessidade igual a zero, nem sequer então chegararíamos ao conceito da liberdade completa do homem, pois o ser que não aceita as influências do mundo exterior, que está fora do tempo, e não depende das causas, já não é homem sequer.
Mesmo assim, nunca poderemos representar-nos os actos de um homem submetido apenas à lei da necessidade sem intervenção da liberdade,
Guerra e Paz, Leão Tolstoi
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domingo, março 06, 2005
sexta-feira, março 04, 2005
quinta-feira, março 03, 2005
Centenário do nascimento de Sartre-1905/1980
Sartre
Ontem no final da tarde estive na Gulbenkian numa comemoração sobre o Centenário do nascimento de Sartre.
Foi exibido o documentário Portraits Croisés – um deambular pelos dias, locais e quotidianos de Sartre e de Simone de Beauvoir apoiado por testemunhos destes a perguntas que lhe são feitas. O documentário é de Madelaine Gobel-Noëll da TV Canadiana, documentário que, a pedido de Sartre, esteve impedido até há bem pouco tempo de correr na Europa. Já o tinha visto na televisão.
Seguidamente falaram sobre Sartre a própria Madelaine e Annie Cohen Solal – sua biógrafa, Eduardo Prado Coelho e Eduardo Lourenço.
Gostei particularmente das intervenções de Annie Cohen Solal e Eduardo Lourenço embora me tenham sabido a pouco. De Eduardo Lourenço retive duas frases sobre Sartre – uma bússola ética e um mestre que sempre recusou a maîtrise (estou citando de cor).
Esperava um pouco mais mas de facto não sei se valerá a pena pois as pessoas rapidamente se cansam e começam a sair a meio das intervenções. Somos ainda muito “pobrezinhos”. Penso que há muita gente que vai a estas coisas mais para se mostrar e ser visto do que para ouvir, discutir e aprender.
Por mim lamento não poder ir amanhã ao Instituto Franco-Português onde continuam as comemorações com a passagem de dois filmes com as entrevistas, agora em separado, a Sartre e a Simone de Beauvoir.
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quarta-feira, março 02, 2005
terça-feira, março 01, 2005
José P. di Cavalcanti Jr.
Durmo em paz
(A ti)
Não oro ao adormecer.
Recito-te.
*** * ***
Não chores
Fatal, esta lágrima tua...
sou aquarela.
*** * ***
Conhecimento
Já me sabia,
cedo, muito cedo,
tristeza de depois...
José P. di Cavalcanti Jr.
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