terça-feira, outubro 31, 2006

Sem título


resiste a vidraça à palavra
assobia ao vento a lágrima
nas emendas da vida
nos restos de ternura
nos afluentes do tempo
nos ocasos do eco

soltam-se do olhar as transparências.


HFM - Lisboa, Outubro 2006



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segunda-feira, outubro 30, 2006

Repousando o olhar



Parque das Conchas


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sábado, outubro 28, 2006

Mais vale tarde do que nunca


Só quando mão amiga mo fez chegar descobri este conto quase irreal de Balzac - A Obra Prima Desconhecida. Imperdível.


"A Obra Prima Desconhecida é um daqueles textos que surpreendem pela capacidade de serem actuais em diversas épocas. Desde a sua primeira publicação, em 1831, que pensadores e artistas se debruçaram sobre os enigmas que constrói. No século XX foi objecto da atenção de Picasso, que dele fez ilustrações, deu lugar a leituras determinadas por diferentes perspectivas, como as de Hubert Damish, Georges Didi-Huberman ou Hans Belting, e susciptou a Jacques Rivette o título do seu filme La Belle Noiseuse. Tão renovado interesse por este conto para a reflexão da arte decorre quer das questões que coloca na sua problematização da representação em pintura - o modelo e a recusa da cópia, a paixão do artista, a relação com o invisível, o inacabamento -, quer o facto de ser um bom exemplo daquelas."



Honoré de Balzac, A Obra Prima Desconhecida, Edições Vendaval, 2002

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sexta-feira, outubro 27, 2006

Sem título


caminho ao encontro do mar
onde me cumpro.


Lisboa, Outubro 2006



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quarta-feira, outubro 25, 2006

A caixa


A caixa era linda, em porcelana de Limoges – assim estava escrito em baixo – decorada com flores em tons vermelhos guarnecidas a ouro.

Maria sempre gostara muito daquela caixa que Rodolfo trouxera de casa de sua mãe quando esta morrera. Ficava mesmo bem em cima da alta escrivaninha, própria para se escrever de pé, que também tivera a mesma proveniência. De um lado um tinteiro antigo de cristal encimado por uma peça de prata lavrada, do outro lado – a caixa. Maria só não gostara da obsessão de Rodolfo quando a obrigara a colocá-la em cima da mesa da casa de jantar nos natais em que a família ali se reunia. Que não era uma caixa para estar numa mesa de festa, dizia Maria. Mas é assim que eu gosto, replicava Rodolfo, e também tenho voto na matéria ou não será assim?

Um dia, largos anos passados, João, o filho mais velho, ouvindo pela enésima vez a história do põe caixa, tira caixa, perguntou ao pai a razão daquela mania. Que quando tivesse dezoito anos lhe diria, respondeu o pai. João encolheu os ombros e pensou de si para consigo – o velho ‘tá pirado!

No Natal seguinte aos dezoito anos de João e quando este já se tinha esquecido da promessa, perante a indiferença de Maria que já pouco ligava à caixa, Rodolfo levantou-se com um copo de champanhe na mão e perante o olhar de espanto de toda a família, disse:

- Um bom Natal para todos os vinte e três aqui presentes!

Enquanto se levantavam para fazer o costumado brinde, Maria disse:

- Meu velho, já não sabes contar, somos só vinte e dois!

- Enganas-te - respondeu Rodolfo. Ao longo destes anos, todos os dias e particularmente no Natal, a minha mãe tem estado connosco - e apontando para a caixa, concluiu – no fundo falso desta caixa encontram-se as suas cinzas.



HFM - Lisboa, Novembro de 2003



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terça-feira, outubro 24, 2006

Sem título


Leve é o momento que renasce
todas as manhãs
sem angústias de compreensão.


HFM - Lisboa, Outubro 2006



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segunda-feira, outubro 23, 2006




Quando é de ferro a insónia nem o vendaval a acorda. Como companhia as palavras – despidas, bailando em pontas como se tudo o mais fosse chuva que passa.

HFM - Outº 06

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domingo, outubro 22, 2006

Anoitecidos


Não se encerra na noite o silêncio. Estratifica-se nos sons das palavras. Cava um estranho ritual. Sacode, como se fora um grito, todas as insolvências. Espreita cada fresta e assenta dominando os espaços. Matreiro, encolhe-se e quando o julgamos afastado percebemos que é dentro de nós que ele habita. Tal a noite.

HFM-Outº 2006



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sábado, outubro 21, 2006

Visitando São Carlos com o Centro Nacional de Cultura


Ontem o São Carlos abriu-me as portas daquilo que eu não conhecia. Voltei ao foyer, à sala mas o que realmente ali me levou foi conhecer o que está por detrás de... o Salão Nobre, antigo salão das Oratórias onde na Quaresma era tocada música sacra imprópria para ser ouvida na sala onde peças "menos próprias" eram tocadas e ouvidas habitualmente. Um belo espaço apesar dos seus demasiados dourados, para meu gosto. Dali seguimos para a parte mais alta do edifício por cima da chaminé que está no centro da sala onde se encontra o lustre e que serve para escoar todos os fumos. Uma intrincada sucessão de traves de madeiras suspensas por grandes vigas de ferro(?). Ao lado, por detrás de uma grande porta corrida em ferro - a teia. O local onde são suspensos todos os cenários e tudo o que se encontra suspenso no palco e onde ainda se encontra a cortina de ferro. Daqui seguimos para o guarda-roupa - um amontoado de fatos, chapéus e todos os adereços inimagináveis. Sempre pensei que estivessem arrumados e bem tratados. Foi-nos dito que eram frequentemente escovados e tratados mas impressionou-me aquela amálgama sobreposta de tantos adereços que abrilhataram ballets, óperas e tantos outros espectáculos.



o guarda-roupa único local que nos foi possível fotografar



a amálgama de chapéus e outros adereços


Como nota apenas dizer que o São Carlos foi construído em 1792 em comemoração da gravidez da mulher do Príncipe D. João - Carlota Joaquina - que se encontrava grávida e, portanto, para comemorar a descendência. Mais estranho e quase inacreditável o São Carlos foi construído em seis meses!!! e o seu arquitecto José da Costa Silva. Outro pormenor que me fez pensar - os actos das óperas da altura era pequenos pois não podiam exceder o tempo que duravam as velas que eram, então, substituídas para o acto seguinte.

Esperava bastante mais desta visita pois, seguramente, muito ficou por ver em especial os camarins.

A saída foi feita junto ao palco que pudemos visitar e constatar aquilo que sempre soubera - a grande inclinação do palco - o que sempre ampliou o espanto dos saltos que ali vi dar a Nureyev.


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quinta-feira, outubro 19, 2006

Notas de viagem - 22 - 2ª parte


Do Mont-de-Saint-Michel há apenas um aspecto extremamente negativo - a quantidade de turistas que se aglomeram pela rua principal e no caminho até à Merveille. Demasiados.

Seguem-se as fotografias tiradas no Monte.

Aqui encontram-se alguns esboços que por lá fiz.





A Merveille vista do sopé do Monte



Um dos lados do monte podendo-se ver a água que a maré deixou ficar



O pequeno Monte que fica por detrás da Merveille na direcção de Avranches



Nos jardins da Merveille



Os degraus que dão acesso à abadia



Alguns dos edifícios que formam o conjunto abacial



Dentro da Merveille - o local onde se davam esmolas



pormenor do claustro onde o jogo das colunas está de tal maneira concebido que, por vezes, se vê apenas uma fila de colunas como se pode constatar à direita.



outro pormenor do claustro - ao fundo a grande janela sobre a baía



sala das grandes colunas - construída para suportar o peso da igreja que lhe fica por cima



o scriptorium



A grande roda accionada pelos prisioneiros que, dentro dela, a faziam rodar para trazer encosta acima diferentes materiais e víveres



a rampa por onde subia o carrinho puxado pela grande roda



Para quem estiver interessado a internet está cheia de fotografias e de informações sobre o local. Depois disto resta-me desejar que todos visitem este local.

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terça-feira, outubro 17, 2006

Notas de viagem - 22 - 1ª parte


Estou a chegar ao fim da viagem à Bretanha; digamos mesmo que estou na fronteira entre a Bretanha e a Normandia na linha em que o rio Couesnon as separa.

Le Couesnon dans sa folie mît le Mont en Normandie diz o ditado popular.

Daqui para a frente foi a "papar" quilómetros para chegar a Lisboa.

Falemos, então, duma das jóias da coroa - o Monte de St. Michel. Esse mítico e místico monte onde sempre me perco e chego a fazer 300km para por lá passar. Já perdi a conta às vezes que lá fui. Obrigatório chegar num dia, passar a noite (há qualquer coisa de místico quando a noite se abate sobre o monte) e no outro dia visitá-lo com os vagares de viajante. No dia em que chego não deixo de passar na pequena terra de St. James (a vinte e tal quilómetros) onde há a pequena loja das malhas de St. James que podem ser compradas por toda a Bretanha especialmente em Beauvoir na estrada que conduz ao monte. Só que ali, apesar de uma menor escolha, os preços também são menores. Gosto daquelas lãs e do seu design.


O MONTE DE SAINT-MICHEL




o monte ao longe



vista parcial do Monte a partir do parque de estacionamente. Pode ver-se até onde chega a maré actualmente



A longa história do Mont-Saint-Michel terá começado em 708 quando Aubert, bispo de Avranches, mandou edificar sobre o Mont-Tombe um santuário em honra do arcanjo. O monte tornou-se rapidamente um local de peregrinação de grande importância. No séc. X os beneditinos vieram instalar-se na abadia, tendo-se desenvolvido uma aldeia no sopé. Esta estendeu-se até à base do rochedo durante o sec. XIV. Praça forte impenetrável durante a Guerra dos Cem Anos, o Mont-Saint-Michel é, também, um exemplo de arquitectura militar. As suas muralhas e fortificações resistiram a todos os assaltos ingleses e fizeram do Monte um local simbólico da identidade nacional.

Após a dissolução da comunidade religiosa na altura da Revolução e até 1874, foi objecto de grandes restauros. Desde então, os trabalhos não foram interrompidos no conjunto do local. Permitem aos visitantes reencontrar o esplendor da abadia que os homens da Idade Média viam como uma representação da Jerusalém celeste sobre a terra, imagem do Paraíso.

Desde 1979, o Mont-Saint-Michel encontra-se inscrito na lista do património mundial da UNESCO.


A abadia do Mont-Saint-Michel é um monumento único na sua concepção não pode ser comarada com a de qualquer outro mosteiro. Tendo em conta a forma piramidal do monte, os mestre de obra da Idade Média envolveram a rocha granítica com edifícios.

A igreja abacial, situada na parte superior, repousa sobre criptas que criam uma plataforma capaz de suportar o peso de uma igreja de 80 metros de comprimento.

A construção da "Merveille" (assim ela é conhecida), frequentemente evocada como o florão da arquitectura da abadia, é a testemunha da mestria arquitectónica dos construtores do sec. XIII que conseguiram apoiar sobre o declive do rochedo dois corpos edificados com três pisos. Disposições técnicas precisas permitiram esta realização. No rés-do-chão, a estreita colateral do celeiro tem um papel de contravento. Em seguida, os suportes dos dois primeiros níveis do edifício ocidental sobrepõem-se. Por fim as estruturas são cada vez mais leves, à medida que se vai progredindo para cima. No exterior, o edifício é sustentado por poderosos contrafortes. Os grandes princípios da vida monástica também influenciaram a organização e a arquitectura das edificações. A regra de São Bento, que regia os monges do Monte, previa que estes pudessem consagrar o seu dia à oração e ao trabalho. Os espaços foram organizados em torno destas duas actividades, respeitando o princípio da clausura, ou seja, do espaço reservado aos monges. Assim, fiéis a este princípio, os espaços destinados a receber os laicos foram instalados no rés-do-chão da "Merveille". Houve dois grandes imperativos que prevaleceram na construção da abadia do Mont-Saint-Michel: as exigências da vida monástica e as limitações topográficas.

Fonte: desdobrável cedido no local


O Monte esteve durante séculos rodeado por água aquando das marés ficando, assim, isolado durante horas do continente.

A certa altura, contudo, foi construida uma estrada por onde também passava um comboio fazendo com que a ligação ao continente existisse sempre. Havia, no entanto, de ter cuidados pois alguns locais eram subitamente invadidos pela maré que neste ponto chega a subir cerca de 14 metros.

A primeira vez que visitei o Monte ao entrar no parque onde se deixam os carros tive de dizer a que horas pretendia sair para que os funcionários me indicassem o local onde podia deixar a viatura e, pude constatar ao regressar, que grande parte do que era a área do parque se encontrava submersa. Hoje em dia isso já não acontece. As marés foram "domesticadas". Pude, contudo, verificar este ano que se está a proceder a uma nova reorganização para que o Monte volte a ficar como era no início. Os carros vão ficar longe e as pessoas serão levadas por "navettes" ou irão a pé quando a maré o permitir. Está em marcha uma grande obra de engenharia para devolver o local ao seu estado primitivo.


Os escritores falam do Monte:

l'abbaye escarpée, poussée là-bas, loin de terre, comme un manoir fantastique, stupéfiante commeun palais de rêve, invraisemblablement étrange et belle Guy de Maupassant

Le Mont-Saint-Michel apparaît (...) comme une chose sublime, une pyramide merveilleuse. Victor Hugo


seguir-se-ão outras fotografias.

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segunda-feira, outubro 16, 2006


Como dói a mão presa na hora
esperando
só o vento a acompanha
em voo rasante
trilhando o pôr-do-sol

grita no mar a onda
e a tua voz.


Ericeira, 13 de Outubro de 2006



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domingo, outubro 15, 2006

Citando # 162


Inclina-te como a rosa, só quando o vento passe.

Eugénio de Andrade



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sexta-feira, outubro 13, 2006

Notas de viagem - 21


Já vamos a meio do outono e eu ainda falo de uma viagem feita em Junho... são, contudo, bem gratas as recordações.

Hoje vou-me deter no Dol de Bretagne pequena cidade onde permaneci uma semana. Fica bem situada a uns escassos quilómetros de San Malo e bem perto do Monte de S. Michel. A cidade é acolhedora e não fora as suas casas antigas e belas estarem pejadas de publicidade e cartazes luminosos e o centro histórico dominado por carros quase a diria perfeita. Bem junto a ela fica o Mont Dol um dos poucos relevos da região e com uma vista soberba em 360º

Do Dol falarei da catedral de Samson não só pela sua beleza mas pelos vários momentos que ali passei na sua frescura enquanto tentava captar em traços algumas das suas linhas - aqui.

Falarei ainda da pequena brasserie na esquina da praça com a rua principal onde abancava para um café, um Diablo au menthe ou ainda um khir. Ali não havia estrangeiros e eu gosto de me misturar com os locais.

Segue um poema escrito na catedral e em baixo as fotografias que por si falarão.



EM SAMSON

Fala a pedra
o fresco desperta a viajante
saciando suas sedes
de água e de passado
da História que goteja
colunas abaixo
num jogo de sons
num labirinto de paciência
numa exigência de peregrino
melodias que o olhar volteia
quando transfigura os vitrais
do transepto
numa cena de cavalaria
e a lança por estes verdes solitários
dando-lhe guarita no alto do Mont Dol
onde os cavaleiros assentam arraiais
na defesa do Mont St. Michel
que lhes fica à direita
esfumado nessa bruma
de tempo e lenda
que cobre as pedras do rio
encalhando na lama da baía
aos pés da “Merveille”
onde os monges acolherão
estes cavaleiros sem rosto
unidos por uma fé guerreira
transmutando Jerusalém
para este Monte misterioso
e mítico
feito de mar e de silêncio
onde por detrás de cada fenda
poderá surgir
não o guerreiro
mas a face etérea de uma donzela
que lhes trará abrigo.


Então, das calendas da noite,
ouvirei o grito dos pássaros
recitando-me este novena de cavalaria
que aqui começou
na nave central
da Catedral de Samson
onde viajante me distendo
silenciosa
nesta tarde de calor
refugiando-me do barulho
e do turismo
colhendo a minha recompensa –
a paz do silêncio
a frescura das ogivas
e este encontro comigo.

Dol de Bretagne, Catedral de Samson, 16 de Junho de 2006





parte da frente da catedral



a parte lateral da catedral



o outro lado da catedral



ruas laterais da catedral



AS CASAS












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no alto do Mont Dol



ainda no Mont Dol



a capelinha do Mont Dol


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quinta-feira, outubro 12, 2006

Do diário


Na madrugada soltam-se as palavras na liberdade do silêncio. Não há travões. Nem censura. Livres percorrem o espaço sem limitações temporais. Devaneiam. Engrossam. Apagam-se. Criam-se.

Depois, extenuadas, aportam ao papel e, resignadas, esperam que a mão as altere na cíclica estreiteza do autor.


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quarta-feira, outubro 11, 2006

De volta


e espero que agora em definitivo. O computador esteve nos cuidados intensivos e sem direito a visita mas agora parece que, dentro da sua idade, se está a comportar bem e muito contente por ter voltado para casa.

A todos que aqui vieram - um muito obrigada. Deixo um pequeno poema.



Leve é o momento que renasce
todas as manhãs
sem angústias de compreensão.

hfm - Lisboa, Outº 2006



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sábado, outubro 07, 2006

À boleia


de computador conhecido venho apenas dizer que estou sem o meu computador por tempo indeterminado; quando tudo estiver de novo reposto voltarei aqui e ao vosso contacto.

Até um dia destes que espero breve.


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