Notas de viagem - 21
Já vamos a meio do outono e eu ainda falo de uma viagem feita em Junho... são, contudo, bem gratas as recordações.
Hoje vou-me deter no Dol de Bretagne pequena cidade onde permaneci uma semana. Fica bem situada a uns escassos quilómetros de San Malo e bem perto do Monte de S. Michel. A cidade é acolhedora e não fora as suas casas antigas e belas estarem pejadas de publicidade e cartazes luminosos e o centro histórico dominado por carros quase a diria perfeita. Bem junto a ela fica o Mont Dol um dos poucos relevos da região e com uma vista soberba em 360º
Do Dol falarei da catedral de Samson não só pela sua beleza mas pelos vários momentos que ali passei na sua frescura enquanto tentava captar em traços algumas das suas linhas - aqui.
Falarei ainda da pequena brasserie na esquina da praça com a rua principal onde abancava para um café, um Diablo au menthe ou ainda um khir. Ali não havia estrangeiros e eu gosto de me misturar com os locais.
Segue um poema escrito na catedral e em baixo as fotografias que por si falarão.
EM SAMSON
Fala a pedra
o fresco desperta a viajante
saciando suas sedes
de água e de passado
da História que goteja
colunas abaixo
num jogo de sons
num labirinto de paciência
numa exigência de peregrino
melodias que o olhar volteia
quando transfigura os vitrais
do transepto
numa cena de cavalaria
e a lança por estes verdes solitários
dando-lhe guarita no alto do Mont Dol
onde os cavaleiros assentam arraiais
na defesa do Mont St. Michel
que lhes fica à direita
esfumado nessa bruma
de tempo e lenda
que cobre as pedras do rio
encalhando na lama da baía
aos pés da “Merveille”
onde os monges acolherão
estes cavaleiros sem rosto
unidos por uma fé guerreira
transmutando Jerusalém
para este Monte misterioso
e mítico
feito de mar e de silêncio
onde por detrás de cada fenda
poderá surgir
não o guerreiro
mas a face etérea de uma donzela
que lhes trará abrigo.
Então, das calendas da noite,
ouvirei o grito dos pássaros
recitando-me este novena de cavalaria
que aqui começou
na nave central
da Catedral de Samson
onde viajante me distendo
silenciosa
nesta tarde de calor
refugiando-me do barulho
e do turismo
colhendo a minha recompensa –
a paz do silêncio
a frescura das ogivas
e este encontro comigo.
Dol de Bretagne, Catedral de Samson, 16 de Junho de 2006
parte da frente da catedral
a parte lateral da catedral
o outro lado da catedral
ruas laterais da catedral
AS CASAS
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no alto do Mont Dol
ainda no Mont Dol
a capelinha do Mont Dol
Etiquetas: Fora de portas, olhares, Poemas HFM
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