terça-feira, outubro 17, 2006

Notas de viagem - 22 - 1ª parte


Estou a chegar ao fim da viagem à Bretanha; digamos mesmo que estou na fronteira entre a Bretanha e a Normandia na linha em que o rio Couesnon as separa.

Le Couesnon dans sa folie mît le Mont en Normandie diz o ditado popular.

Daqui para a frente foi a "papar" quilómetros para chegar a Lisboa.

Falemos, então, duma das jóias da coroa - o Monte de St. Michel. Esse mítico e místico monte onde sempre me perco e chego a fazer 300km para por lá passar. Já perdi a conta às vezes que lá fui. Obrigatório chegar num dia, passar a noite (há qualquer coisa de místico quando a noite se abate sobre o monte) e no outro dia visitá-lo com os vagares de viajante. No dia em que chego não deixo de passar na pequena terra de St. James (a vinte e tal quilómetros) onde há a pequena loja das malhas de St. James que podem ser compradas por toda a Bretanha especialmente em Beauvoir na estrada que conduz ao monte. Só que ali, apesar de uma menor escolha, os preços também são menores. Gosto daquelas lãs e do seu design.


O MONTE DE SAINT-MICHEL




o monte ao longe



vista parcial do Monte a partir do parque de estacionamente. Pode ver-se até onde chega a maré actualmente



A longa história do Mont-Saint-Michel terá começado em 708 quando Aubert, bispo de Avranches, mandou edificar sobre o Mont-Tombe um santuário em honra do arcanjo. O monte tornou-se rapidamente um local de peregrinação de grande importância. No séc. X os beneditinos vieram instalar-se na abadia, tendo-se desenvolvido uma aldeia no sopé. Esta estendeu-se até à base do rochedo durante o sec. XIV. Praça forte impenetrável durante a Guerra dos Cem Anos, o Mont-Saint-Michel é, também, um exemplo de arquitectura militar. As suas muralhas e fortificações resistiram a todos os assaltos ingleses e fizeram do Monte um local simbólico da identidade nacional.

Após a dissolução da comunidade religiosa na altura da Revolução e até 1874, foi objecto de grandes restauros. Desde então, os trabalhos não foram interrompidos no conjunto do local. Permitem aos visitantes reencontrar o esplendor da abadia que os homens da Idade Média viam como uma representação da Jerusalém celeste sobre a terra, imagem do Paraíso.

Desde 1979, o Mont-Saint-Michel encontra-se inscrito na lista do património mundial da UNESCO.


A abadia do Mont-Saint-Michel é um monumento único na sua concepção não pode ser comarada com a de qualquer outro mosteiro. Tendo em conta a forma piramidal do monte, os mestre de obra da Idade Média envolveram a rocha granítica com edifícios.

A igreja abacial, situada na parte superior, repousa sobre criptas que criam uma plataforma capaz de suportar o peso de uma igreja de 80 metros de comprimento.

A construção da "Merveille" (assim ela é conhecida), frequentemente evocada como o florão da arquitectura da abadia, é a testemunha da mestria arquitectónica dos construtores do sec. XIII que conseguiram apoiar sobre o declive do rochedo dois corpos edificados com três pisos. Disposições técnicas precisas permitiram esta realização. No rés-do-chão, a estreita colateral do celeiro tem um papel de contravento. Em seguida, os suportes dos dois primeiros níveis do edifício ocidental sobrepõem-se. Por fim as estruturas são cada vez mais leves, à medida que se vai progredindo para cima. No exterior, o edifício é sustentado por poderosos contrafortes. Os grandes princípios da vida monástica também influenciaram a organização e a arquitectura das edificações. A regra de São Bento, que regia os monges do Monte, previa que estes pudessem consagrar o seu dia à oração e ao trabalho. Os espaços foram organizados em torno destas duas actividades, respeitando o princípio da clausura, ou seja, do espaço reservado aos monges. Assim, fiéis a este princípio, os espaços destinados a receber os laicos foram instalados no rés-do-chão da "Merveille". Houve dois grandes imperativos que prevaleceram na construção da abadia do Mont-Saint-Michel: as exigências da vida monástica e as limitações topográficas.

Fonte: desdobrável cedido no local


O Monte esteve durante séculos rodeado por água aquando das marés ficando, assim, isolado durante horas do continente.

A certa altura, contudo, foi construida uma estrada por onde também passava um comboio fazendo com que a ligação ao continente existisse sempre. Havia, no entanto, de ter cuidados pois alguns locais eram subitamente invadidos pela maré que neste ponto chega a subir cerca de 14 metros.

A primeira vez que visitei o Monte ao entrar no parque onde se deixam os carros tive de dizer a que horas pretendia sair para que os funcionários me indicassem o local onde podia deixar a viatura e, pude constatar ao regressar, que grande parte do que era a área do parque se encontrava submersa. Hoje em dia isso já não acontece. As marés foram "domesticadas". Pude, contudo, verificar este ano que se está a proceder a uma nova reorganização para que o Monte volte a ficar como era no início. Os carros vão ficar longe e as pessoas serão levadas por "navettes" ou irão a pé quando a maré o permitir. Está em marcha uma grande obra de engenharia para devolver o local ao seu estado primitivo.


Os escritores falam do Monte:

l'abbaye escarpée, poussée là-bas, loin de terre, comme un manoir fantastique, stupéfiante commeun palais de rêve, invraisemblablement étrange et belle Guy de Maupassant

Le Mont-Saint-Michel apparaît (...) comme une chose sublime, une pyramide merveilleuse. Victor Hugo


seguir-se-ão outras fotografias.

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