segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Sem título


foram os sinais que percorreram o dia
acinzentando a noite
dorida esperei a ressaca
e a ternura que embaciara as palavras
acrescentando os enigmas
e a finura da poalha

era aquele “universo barato”
e o prazer das horas que tornara minhas.


Lisboa, 13 de Fevereiro de 2005


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Citando # 89


De uma extrema temeridade me parecem sempre aqueles que querem fazer da inteligência humana a medida do que a natureza pode e sabe operar, enquanto, pelo contrário, não existe na natureza qualquer efeito por mínimo que seja, de que os espíritos mais especulativos possam atingir pleno conhecimento. Esta vã pretensão de tudo compreender não pode ter outro princípio que o facto de nunca ter compreendido o que quer que fosse, porque aquele a quem tenha acontecido uma única vez compreender perfeitamente uma dada coisa e sentido o gosto do saber sabe também que não percebe nada do resto.

Galileu, in Diálogo dos Grandes Sistemas

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domingo, fevereiro 27, 2005

Feira da Ladra


Ontem estive no único Centro Comercial de que gosto - a Feira da Ladra.

Tem várias vantagens - para além dos preços e da cor local a envolvência, o céu aberto, a vista sobre o Tejo, a cúpula de Sta. Engrácia, o arco lateral que dá para S. Vicente e os malabarismos necessários para se contornar o chão do campo de Santa Clara!

Entre vários livros que trouxe encontrei uma preciosidade a € 2, o romance com que Clarice Lispector se lançou - Perto do Coração Selvagem, Editora Sabiá.


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sábado, fevereiro 26, 2005

Tríade



Na tríade
das divindades
o Deus-menino
era o meu preferido

Porquê?

por ser Deus?
ou ser menino?

Simplesmente
por de tão pequenino
não saber
do seu ofício.




Lx, 21 Janº 1999

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sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Alain Resnais




Nuit et Brouillard



Ontem vi Nuit et brouillard de Alain Resnais, France, 1956. Um filme/comentário incontornável sobre os campos de concentração nazis e sobre a capacidade humana de lembrar e esquecer, um verdadeiro mergulho na memória.

Música do compositor alemão Hanns Eisler.

Um filme marcante que deve ser visto


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Citando # 88


O que perturba e alarma o homem, não são as coisas, mas as suas opiniões e fantasias acerca das coisas.

Epicuro



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quinta-feira, fevereiro 24, 2005

Anoitecidos


Havia um opaco ocultando os sentimentos. Mas na noite ofuscava-se o opaco e tudo era transparente. Líquido. Não havia recursos nem mentiras. E nada mais restava senão sentar-me e entrar dentro de mim.

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quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Sem título


enredo no tempo as mãos
e a memória
aconchego a presença
e junto ao mar
desdobro o eco dos instantes.


Lisboa, Fevereiro de 2005

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Citando # 87


There is no love that is not an echo.

Adorno

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terça-feira, fevereiro 22, 2005

Olhando-me de fora



como passarinho vais debicando entretida
entre a vontade e o sentir dispersas energias
sem rumo, num aparente desnorte
confuso é o teu saltitar
forma rubra de um sentir negado
enquanto tresloucada desdobras a corda
sem nós, sem pontos, sem amarras
cordame por onde vagueias
entre a forca e Ariadne.

Lisboa, 28 de Dezembro de 2004

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segunda-feira, fevereiro 21, 2005

As prendas


Não fazia anos mas ontem foi dia de prendas.

Primeira - a saída de cena de Pedro Santo Lopes e de Paulo Portas. Já não era sem tempo!

Segunda - o poema que recebi do meu amigo Di e que se encontra em baixo.


- Às claras, longe do dia -


(Para Helena Monteiro, amiga de Lisboa)




Às claras,
longe do dia,
sei teu poema,
escrito só de entrelinhas.

Tu me riscas, tu me rasuras
como, em prata, a lua
rasga a noite,
borda o mar.


- José P. di Cavalcanti Jr. -

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domingo, fevereiro 20, 2005

Da sabedoria popular # 3


A apressada pergunta, vagarosa resposta.

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Citando # 86


Qui a peur de son ombre attend midi pour se lever. Pendant ce temps, les autres courent.

François Mitterand

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sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Vadiando # 3 - Lisboa


Olhando os telhados e encontrando um cheirinho a província



Telhados junto à Sé - uma boa recuperação




A anarquia dos telhados de Alfama




Não me importava de ter esta água-furtada




ramos duma árvore que atravessam a rua e se estendem sobre a casa do outro lado - perto do Castelo




pormenor de uma das árvores de laranjas que circundam a Sé junto às Cruzes da Sé

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quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Vadiando # 2 - Lisboa


Azulejos – uma preciosidade – encontrados em vários sítios daquele perímetro.

Há por lá muitos mais e dignos de registo - ficam esperando a vossa descoberta.



Azulejos nas casas




azulejo representando o antigo Terreiro do Paço - capela do Miradouro de Santa Luzia




Exterior de uma casa




Hall de entrada dessa mesma casa

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terça-feira, fevereiro 15, 2005

Vadiando # 1 - Lisboa



Ontem andei a vadiar pela zona da Sé e da encosta do Castelo. Com tempo. Olhando para ver. Rabiscando palavras e formas. Encostando-me ao sol. Aproveitando para almoçar no que deve ter sido uma bela tasca e que hoje está transformada num higiénico restaurante com azulejos (tipo casa de banho) mas com um menú turístico agradável e com um nome de que gostei Papas e Pagas.

Por os próximos dias deixarei aqui algumas fotografias. A secção de hoje é dedicada às curiosidades.




Local mítico mesmo junto à muralha



Esta fotografia é dedicada à minha amiga Soledade e ao seu rio Coura



Um bom trompe l'oeil



A CE já chegou à Sé



Outro Tempo

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Sem título


Era um rosto como um rio
mutante
tinha por foz o além.


Lisboa, Janeiro de 2005

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segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Abençoados DVD's



3 belas horas!

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Uma nota solta


Há sempre uma linha a percorrer - apeia-te em qualquer lugar.

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Citando # 85


Things do not change, we change.

Thoreau

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domingo, fevereiro 13, 2005

Leonardo da Vinci # 2 - Tratado de Pintura


Não sei se daria algum bom licor mas vou experimentar os conselhos do Mestre.


Los materiales del pintor

599 (F. 96a)

El grafito se dusuelve en vino y en vinagre o aguardente, y se puede mezclar luego con cola dulce.


Leonardo da Vinci, Tratado de Pintura, Práctica de la Pintura, Akal

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Citando # 84


A pencil and a rubber are of more use to thought than a battalion of assistants.

Theodor Adorno

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sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Porlezza




Porlezza, Lago de Lugano, Itália



- O que estás a pensar?

- Noutros horizontes.

- Em quais?

- Em Porlezza- um local mítico!

- Onde é isso?

- Em Itália no Lago de Lugano junto à fronteira com a Suíça.

- E porque te lembraste disso, agora?

- Pelos horizontes, pelo silêncio, pelo eco da trovoada nas montanhas que circundam todo o lago. Altas montanhas onde o sol se esconde, onde o silêncio abafa os sons, onde o lago espelhando a montanha projecta as sombras, onde a natureza na sua força bruta nos reduz ao essencial dando sentido a toda a solidão. Tal como na imensidão do mar ali encontrei rasgões de sublime e o encantamento mudo do que não consigo dominar. Faixas serpenteadas atravessando a montanha e nunca nos afastando do lago. E depois o eco, a trovoada latente e todas as forças estranhas com que os deuses brincam - gáudio de quem se diverte com a aparente superioridade humana! O nada da nossa pequenez face ao sublime. E nesse serpenteado todos os rasgões da nossa vida talvez, ali, encontrem algum sentido Encontram, no mínimo, o confronto com a nossa solidão e a nossa pequenez e o sentido humano do instante imaculado que nenhum betão ainda destruiu. Ecos de luz nos sentidos da vida. Êxtases que dispensam qualquer religião. Gregários instantes de uma aparente divindade. Transparências que se esfumam no branco puro que nenhuma aguarela maculou. Por isso penso nesses horizontes de infinita sabedoria.



Ericeira, 5 de Fevereiro de 2005

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quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Do Moleskine


Há um risco de nuvens percorrendo o céu, por baixo o mar, ao longe o infinito e a serra abrigando os enigmas. Como som Chopin libertando-se dos dedos de Maria João Pires.

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Citando # 83


La philosophie n'est pas une illusion: elle est l'algèbre de l'histoire.

Maurice Merleau-Ponty

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quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Competência útil

Mas haverá alguma competência inútil?

Se assim fosse já não seria competência!

Como é ridícula a política à portuguesa!

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sexta-feira, fevereiro 04, 2005

Das coisas belas


suavemente
por entre sombras
o teu sorriso
o silêncio
e esta sinfonia
em staccato



Lisboa, 1 de Fevereiro de 2005

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Citando # 82


L'homme ne se construit qu'en poursuivant ce qui le dépasse.

André Malraux

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quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Da Madrugada


Na madrugada gélida
nem os coelhos saíram das tocas
nem o céu se azulou
o mar é um sopro infantil
e dos pássaros nada se ouve.

Apenas eu dialogo com a madrugada
na escuridão que só o silêncio presencia
não são habituais os gestos
- praticamente inexistentes –
não vá qualquer sopro desconexo
perturbar este infinito
e todas as vozes que em catarse
carrego dentro de mim.


Lisboa, 29 de Janeiro de 2005

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Da Sabedoria Popular # 2


Quando não chove em Fevereiro, nem prados nem centeio.

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quarta-feira, fevereiro 02, 2005

O Retorno Desejado - Saraband



Liv Ullmann - Erland Josephson


Fui ontem ver o Saraband. Direi apenas que, para além do retorno há muito desejado, o filme é Bergman no seu melhor, servido por aquele elenco de actores que ele sempre soube "arrebanhar" e por um magnífico outono.

Não sou crítica de cinema e por isso vos deixo este link onde João Bénard da Costa diz tudo o que eu gostaria de ter dito.

Um filme a rever.

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Gostei muito de ler


este Ser

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terça-feira, fevereiro 01, 2005

Diálogo


- Um livro todo preto, António? Mas quem compra isto?

- Quem estiver farto de lugares comuns!

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Citando # 81


Nunca me corrigirei? Nunca serei capaz de domesticar o eu, a mim, o meu?

José Régio

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