sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Porlezza




Porlezza, Lago de Lugano, Itália



- O que estás a pensar?

- Noutros horizontes.

- Em quais?

- Em Porlezza- um local mítico!

- Onde é isso?

- Em Itália no Lago de Lugano junto à fronteira com a Suíça.

- E porque te lembraste disso, agora?

- Pelos horizontes, pelo silêncio, pelo eco da trovoada nas montanhas que circundam todo o lago. Altas montanhas onde o sol se esconde, onde o silêncio abafa os sons, onde o lago espelhando a montanha projecta as sombras, onde a natureza na sua força bruta nos reduz ao essencial dando sentido a toda a solidão. Tal como na imensidão do mar ali encontrei rasgões de sublime e o encantamento mudo do que não consigo dominar. Faixas serpenteadas atravessando a montanha e nunca nos afastando do lago. E depois o eco, a trovoada latente e todas as forças estranhas com que os deuses brincam - gáudio de quem se diverte com a aparente superioridade humana! O nada da nossa pequenez face ao sublime. E nesse serpenteado todos os rasgões da nossa vida talvez, ali, encontrem algum sentido Encontram, no mínimo, o confronto com a nossa solidão e a nossa pequenez e o sentido humano do instante imaculado que nenhum betão ainda destruiu. Ecos de luz nos sentidos da vida. Êxtases que dispensam qualquer religião. Gregários instantes de uma aparente divindade. Transparências que se esfumam no branco puro que nenhuma aguarela maculou. Por isso penso nesses horizontes de infinita sabedoria.



Ericeira, 5 de Fevereiro de 2005

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