terça-feira, fevereiro 28, 2006


Quero revelar-lhes um segredo. Aproximem-se. Não lemos e escrevemos poesia porque é giro. Lemos e escrevemos poesia porque fazemos parte da raça humana. E a raça humana está impregnada de paixão.

Medicina, Direito, Gestão, engenharia, são actividades nobres, necessárias à vida. Mas a poesia, a beleza, o romance, o amor, são as coisas para que vale a pena viver.

Citando Whitman;

Oh eu, oh vida das perguntas sempre iguais
Dos intermináveis comboios dos descrentes
Das cidades abarrotadas de idiotas
O que há de bom no meio disto oh eu, oh vida?
Reponda:
Estás aqui
A vida existe e a identidade
A pujante peça continua
e podes contribuir com um verso


Qual será o vosso verso?


O Clube dos Poetas Mortos, extracto das palavras do professor John Keating



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domingo, fevereiro 26, 2006

Não são máscaras






embora só o prisma lhes dê cor




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sexta-feira, fevereiro 24, 2006







Retirou a máscara. Olhou-se ao espelho. Estranho. Não era ainda ele. Tal como as múltiplas capas de telemóvel, diferentes máscaras tinham-se-lhe colado à pele.


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quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Altered books # 1







Falou dos homens que tinham vivido que passam anos sem falar que morriam e que acreditam que os livros em branco formavam uma constelação indecifrável.



Nota: Como não consigo aumentar as letras e a foto está nos seus limites máximos vou passar a escrever ao lado as palavras destacadas no texto.

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quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Sem título


uma linha
pura anónima
desbravando labirintos

a vida.


Lisboa, 15 de Fevereiro de 2006



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terça-feira, fevereiro 21, 2006

Citando # 152


Uma linha é um ponto que foi passear.

Paul Klee



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domingo, fevereiro 19, 2006

Nos trilhos de Monet





Manchei de bruma o mar da Mancha
e sentei-me junto aos albatrozes
era o começo da manhã
o silêncio acompanhava o sentimento
na aridez rude da falésia.
Não encontrei Monet
só os rochedos esperavam por mim
iguais eternos
naquele pórtico natural
onde se destaca o rochedo.
Abençoei a hora e o local
o mar e a falésia
e a certeza de que existem espaços
onde os humanos se vão apenas mostrar.

Ficaram sem voz os sonhos em Etretat
e eu recriei o espaço no pouco de mim.


Etretat, 29 de Agosto de 2002



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sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Murmuram palavras na orelha do sonho


Quando os sonhos automatizam a palavra
e os enchem de movimento e som
há um bailado de Pina Bausch em cada sílaba
e a harmonia de uma melodia de antanho
circunscrita no arrepio vulcânico da música
de Pierre Boulez. E o sonho envolve o sono
e o descanso e o belo
centrifugando em espiral
o concretismo da ideia na ausência da gravidade.


2003



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quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Para lá da janela


entre o sol e a bruma
um incerto percurso
desfazendo rotinas
só o tojo desponta
num amarelo esverdeado
Van Gogh aproveitá-lo-ia
e com intencionais pinceladas
ultrapassaria a tela
plasmando-nos em cor

imagens em palavras resistindo a oxidações.


Ericeira, 14 de Fevereiro de 2006



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terça-feira, fevereiro 14, 2006

Do diário # 14


São leves estas manhãs de sol quando o corpo invadido pelo frio se arruma em cada raio e dele extrai o silêncio.

São de demanda estas horas que nos pacificam.


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segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Contemplando um quadro


Este poema já o coloquei aqui mas só há pouco tempo me ofereceram um livro com quadros da Gulbenkian onde encontrei o que aqui cito.






E tu existes Sara Andriesd
do fundo do quadro me contemplas
revelando no teu gesto
a saudade que te comprime
e nos olhos o pedido
do retorno à Holanda
ou a Deus que apertas no livro sacro.




Lx, Gulbenkian, 3 de Agosto de 2001

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sábado, fevereiro 11, 2006

Passos Perdidos


Nos Passos Perdidos não perdi os meus passos porque felizmente não encontrei nenhum paralamentar, só obras de arte.





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sexta-feira, fevereiro 10, 2006

O poder da arte - Serralves na Assembleia da República


Fui esta semana ver a exposição à Assembleia da República.

Recomendo-a vivamente. Primeiro porque se percorrem algumas escadarias, salas e exteriores do antigo convento, hoje a Assembleia da República, e que valem a pena pela sua beleza, grandiosidade e pelo mobiliário aí existente.

Seguem-se as obras de arte a que não podemos ficar indiferentes apesar da corrida da visita. A nossa durou quase uma hora e meia e, mesmo assim, ficou tanto para ver! Olhámos; mas ver implica outro tempo, o de cada um, e um olhar perscrutador e atento que não se pode confinar numa corrida contra o tempo.

Tivémos uma guia muito dinamizadora e com um jeito enorme para o teatro e que assim conseguiu cativar o interesse mesmo para certas obras mais polémicas.

Penso voltar pois não é todos os dias que temos acesso a um acervo tão grande e ainda por cima de entrada gratuita.

Este ano de 2006 trouxe a Portugal uma lufada de ar fresco no campo das artes.

Só para despertar a curiosidade deixo alguns pequenos exemplos.












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quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Sem título


não te darei os lírios
secaram os campos
na mudez dos rouxinóis

no silêncio alcançarás a primavera.


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terça-feira, fevereiro 07, 2006

Passeio CNC - II Parte - Convento de Santos-o-Novo


Depois do Convento dos Barbadinhos seguimos para o Convento de Santos-o-Novo para onde as Comendadeiras (título concedido por D. Afonso Henriques a senhoras parentes dos cavaleiros de Santiago da Espada) passaram em 1475.

O Convento foi alargado ao longo dos anos e ainda hoje alberga, no piso térreo, senhoras de alguma maneira ligadas aos militares e nos dois últimos pisos foi criada a Residência Prof. José Pinto Peixoto onde residem estudantes universitários.

O Convento está presentemente sob a tutela dos Serviços Sociais do Ministério da Educação.

O Convento desenvolve-se nos quatro lados do claustro e na parte oriental deste situa-se a sua belíssima igreja. Há que destacar para além do claustro a sua preciosa azulejaria, as capelas de talha dourada e a Igreja.




Ângulo exterior do Convento



Claustro - de uma grande área ladeado por três andares sendo os dois primeiros ornados de treze arcos em cada lado.


Capela de Nossa Senhora da Encarnação

Esta capela constitui um interessante testemunho religioso e artístico da época barroca devendo ser vista, pela qualidade e diversidade dos seu programa decorativo, como uma obra de arte total. Das diversas manifestações artísticas utilizadas na ornamentação desta capela (lambris de azulejos figurativos, oito telas pintadas, pintura de brotesco na cobertura, imaginária, etc.) a obra de talha desempenha um papel principal. *



pormenor do tecto



apesar da falta de luz coloco aqui esta fotografia onde se pode ver um pouco da "obra de arte total", entre outras, talha dourada, azulejos e telas.



Alguns pormenores que se encontram nas arcadas do piso inferior e do primeiro piso


Entrada para uma antiga capela hoje a sala de estar dos estudantes.



um dos muitos azulejos que cobrem as paredes



apesar da má qualidade da fotografia também aqui a coloquei por ter achado enternecedora esta imagem de Santa Isabel de bengala



Igreja conventual

Exceptuando alguns acréscimos posteriores ao terramoto de 1755, a talha de todo o Templo é realizada na década de 1740 e adopta o Barroco Joanino. Ocorre na sequência de uma só campanha de obras, merecendo realce a sua qualidade artística. *



A entrada exterior da Igreja que existe sempre nos conventos femininos. O convento desenrola-se para o lado esquerdo da fotografia.



Um pequeno pormenor da igreja junto ao púlpito. A igreja é forrada a azulejos. Todos os interiores tinham muito pouca luz daí a má qualidade destas fotografias.




*Informação da História breve do Convento de Santos-o-Novo que nos foi fornecida.

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domingo, fevereiro 05, 2006

Passeio CNN - I Parte – Igreja da Porciúncula


Ontem fui a mais um passeio do Centro Nacional de Cultura. Desta vez em Lisboa onde tenho tanto para descobrir! O passeio de ontem abarcava o edifício do antigo Convento dos Barbadinhos, a sua igreja e terminava no Convento de Santos-o-Novo.

Neste primeiro post falarei da primeira parte do passeio – o antigo Convento dos Barbadinhos Italianos.

“Antiga sede do Convento dos Barbadinhos Italianos, a igreja de Nossa Senhora da Porciúncula é um templo joanino concluído em 1742. Exteriormente realça-se a galilé que antecede a entrada na igreja, com três aberturas para o exterior todas gradeadas. No interior, a característica mais singular é a total ausência de talha dourada em benefício da talha escura executada com madeira do Brasil. Depois de extintas as Ordens religiosas, este templo passou a ser a sede da paróquia de Santa Engrácia, ao contrário do antigo convento a que pertenceu, cuja propriedade está hoje dispersa por várias entidades e privados.”

IPPAR



O convento fica situado na Calçada dos Barbadinhos que desconhecia. Terei de voltar a esta zona de Lisboa para percorrer as suas sinuosas e íngremes ruas e admirar o Tejo que se estende ao fundo por entre casario rasteiro e antigas árvores de grande porte. Terei ainda de voltar para ir ver o Museu da Água de Manuel da Maia que se encontra instalado na antiga Estação elevatória a Vapor dos Barbadinhos, inaugurada em 1880 por D. Luís para permitir o aumento do caudal fornecido a Lisboa.

O convento não se visita pois encontra-se em mãos particulares perdendo-se assim a indispensável visita ao seu claustro.

No interior da igreja há a realçar a sobriedade que lhe vem da madeira do Brasil não coberta a ouro podendo-se apreciar a qualidade da madeira, dos seus veios e do seu trabalho. De realçar um belo púlpito e o altar onde está a imagem de prata de Santa Engrácia. Sobre esta Santa comprei um pequeno opúsculo datado de 1898 que o senhor padre vendia como se fossem quaisquer folhas de um computador. Pela leitura em diagonal que lhe dei encontrei algumas preciosidade que aqui irei colocar pois parece que a imagem andou em bolandas e foi muito requisitada por vários organismos.

Sobre o termo Porciúncula este vem do italiano e quer dizer pequena coisa. Lembrar que o convento era de franciscanos italianos, ordem de pobreza. A Igreja da Porciúncula foi a primeira criada por São Francisco perto de Florença, ao que nos disse a guia, mas nas investigações que fiz encontrei que este era o nome do primeiro convento criado por S. Francisco em Assis.




A sóbria fachada da igreja.




Ainda a fachada da igreja onde se pode ver a torre sineira e a imagem de Nossa Senhora da Porciúncula.




O brasão joanino, bem situado no centro da fachada, com toda a sua pompa quer em tamanho quer em pormenores, muito ao estilo do barroco.



Nota: do interior não coloco imagens pois as luzes eram tão fracas e a manhã ainda ia no início que todas as fotografias ficaram demasiado escuras e sem qualquer interesse.

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sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Sussurro Matinal


Dir-te-ei do nevoeiro que adensa as palavras
das fugas perpendiculares às esquinas
quando a criança afirma a vontade
e o dia esmaece na rotina multiplicada.
Dir-te-ei das sementes que se afogam
na insalubre carapaça onde os homens
derretem a primeva pureza.
Dir-te-ei da cor que cobre a terra
e das folhas acumulando-se nas promessas.
Dir-te-ei desta pendular insaciedade


nas tuas mãos plasmada.


Lisboa, Fevereiro de 2006



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quarta-feira, fevereiro 01, 2006

A estátua


Fernando Pessoa afasta-se. Num pequeno passo escapa-se aos humanos envolventes. Ali ficou a estátua. Outro ainda. Não ele.

Sorrateiramente afastou-se da balbúrdia. Daquelas hordas que o não deixam em paz. Daquela mesa sempre ocupada. Do barulho. Dos flashes. Das eternas mãos que o afagam.

- Who’s he?

- Cara, guarda è Fernando Pessoa.

- As-tu lu le Bureau de Tabac? Tu pourras le lire chez Le Club des Poètes.

- Fernando Pessoa is the man seated over there. The sculpture, there on the top. Do you remember? I’ve spoken about him on my last paper.

- Si, Alvaro de Campos, niña.

E a estátua permanece firme. Incólume. Na esfíngica postura que lhe talhou o escultor.

Os outros? Andam por aí perdidos. Melhor, encontrados pelo seu proprietário. Reflectindo os contornos inimagináveis do ser que lhes dá vida.

Na cidade os turistas passam na algazarra do descomprometimento.

Férias escorridas onde aquela Pessoa, por momentos, é o personagem.


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