quarta-feira, fevereiro 01, 2006

A estátua


Fernando Pessoa afasta-se. Num pequeno passo escapa-se aos humanos envolventes. Ali ficou a estátua. Outro ainda. Não ele.

Sorrateiramente afastou-se da balbúrdia. Daquelas hordas que o não deixam em paz. Daquela mesa sempre ocupada. Do barulho. Dos flashes. Das eternas mãos que o afagam.

- Who’s he?

- Cara, guarda è Fernando Pessoa.

- As-tu lu le Bureau de Tabac? Tu pourras le lire chez Le Club des Poètes.

- Fernando Pessoa is the man seated over there. The sculpture, there on the top. Do you remember? I’ve spoken about him on my last paper.

- Si, Alvaro de Campos, niña.

E a estátua permanece firme. Incólume. Na esfíngica postura que lhe talhou o escultor.

Os outros? Andam por aí perdidos. Melhor, encontrados pelo seu proprietário. Reflectindo os contornos inimagináveis do ser que lhes dá vida.

Na cidade os turistas passam na algazarra do descomprometimento.

Férias escorridas onde aquela Pessoa, por momentos, é o personagem.


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