sexta-feira, dezembro 30, 2005


Por outras mãos esculpidas
esta "noite antiquíssima e idêntica"
vem do frio e do silêncio
desprotegendo as guardas da ponte
com que em 2006 prolongarei
o palimpsesto de mim.

Vem noite, na pacificadora dor
da universal transmutação.



UM BOM ANO PARA TODOS


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segunda-feira, dezembro 26, 2005

Obrigada


a todos que por aqui deixaram o seu comentário e a todos que aqui vieram. Se, nos próximos dias esta página não for actualizada a culpa é da netcabo pois parece que ela não quer festejar as Festas comigo. Acabaram agora de sair daqui os técnicos mas o problema parece ser do prédio; assim vou aproveitar para navegar um pouco enquanto isto der. Espero regressar em breve, entretanto, deixo-vos um dos muitos poemas que me fizeram crescer - do Sr. Fernando Pessoa, obviamente.


O Andaime



O tempo que eu hei sonhado
Quantos anos foi de vida!
Ah, quanto do meu passado
Foi só a vida mentida
De um futuro imaginado!



Aqui à beira do rio
Sossego sem ter razão.
Êste seu correr vazio
Figura, anônimo e frio,
A vida vivida em vão.



A 'sp'rança que pouco alcança!
Que desejo vale o ensejo?
E uma bola de criança
Sobre mais que minha 's'prança,
Rola mais que o meu desejo.



Ondas do rio, tão leves
Que não sois ondas sequer,
Horas, dias, anos, breves
Passam - verduras ou neves
Que o mesmo sol faz morrer.



Gastei tudo que não tinha.
Sou mais velho do que sou.
A ilusão, que me mantinha,
Só no palco era rainha:
Despiu-se, e o reino acabou.



Leve som das águas lentas,
Gulosas da margem ida,
Que lembranças sonolentas
De esperanças nevoentas!
Que sonhos o sonho e a vida!



Que fiz de mim? Encontrei-me
Quando estava já perdido.
Impaciente deixei-me
Como a um louco que teime
No que lhe foi desmentido.



Som morto das águas mansas
Que correm por ter que ser,
Leva não só lembranças,
Mas as mortas esperanças -
Mortas, porque hão de morrer.



Sou já o morto futuro.
Só um sonho me liga a mim -
O sonho atrasado e obscuro
Do que eu devera ser - muro
Do meu deserto jardim.



Ondas passadas, levai-me
Para o alvido do mar!
Ao que não serei legai-me,
Que cerquei com um andaime
A casa por fabricar.


Cancioneiro



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quarta-feira, dezembro 21, 2005

BOAS FESTAS

para todos os amigos e habituais frequentadores e ainda para os que por aqui passem. Com o espírito natalício da Linha Cabotagem deixo-vos o poema de Natal que mais me tocou ao longo dos anos de David Mourão-Ferreira.


Natal, e não Dezembro
(1962)


Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.


Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.


Cancioneiro de Natal, Editorial Verbo, 2ª edição, p.19



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Citando # 151


Les yeux seuls sont encore capables de pousser un cri.

René Char



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terça-feira, dezembro 20, 2005

BOAS FESTAS




quando nos sobram as palavras
cala-se o silêncio
fica a mudez


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segunda-feira, dezembro 19, 2005

Do Diário # 11

BOAS FESTAS





Apenas um olhar sobre o tímido sol que tenta invadir Lisboa e desperta energias e sensações. Um olhar de passos que se projectam no infinito. As mãos desencostam a inércia e seguem nos passos as notas de jazz que vão construindo.

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domingo, dezembro 18, 2005

Sem título


tão leve a presença
passando em surdina
por entre a ausência


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sexta-feira, dezembro 16, 2005

Há muito que aqui o deveria ter colocado


Há algumas semanas ofereceram-me este precioso livro que infelizmente não tem data mas deve ser bem velhinho. Entre as suas peculiaridades destaco o nome, a contracapa onde está um pequeno texto sobre a Maneira de Pintar a Aguarela e as folhas em branco a seguir a cada gravura para que o pequeno pintor pudesse copiar (era grande a exigência!).

A dedicatória que acompanhava o livro tocou-me ainda mais pois diz: "Só podia ser para ti". Há preciosidades que tocam profundamente. Esta foi uma delas.














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quinta-feira, dezembro 15, 2005

Anoitecidos


Só uma nota vibra na noite. Singular. Única. Esvoaçando por entre as brasas que se apagam na lareira. Uma nota que brinca e ginga como num solo de jazz. A minha nota. Dissonante.

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terça-feira, dezembro 13, 2005

Magoa-me dos mortos o peso


Magoa-me dos mortos o peso
quando de noite se sentam
na borda da vida e do luar
desfiando as horas inertes
apontando-me os momentos
e as sombras que a ausência
passeia na parede e em mim.
São os meus e os outros
num peso de mármore
que nenhuma manhã branqueia.
Vêm despojados mas arrastam
no desfiar das horas
as memórias e as palavras
jogam comigo às recordações
e salteiam de cor as brancas
que não querem ver apagadas.


Magoa-me dos mortos o peso
nos diálogos noite fora
acrescentando-me dúvidas
baralhando-me os gestos
incontados.


Magoa-me dos mortos o peso
quando os sento à mesa
num jeito martelado de ausências.


Lisboa, 4 de Dezembro de 2005



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segunda-feira, dezembro 12, 2005

Viagens na minha terra - Lisboa


Tenho cá tido um amigo austríaco e com ele tenho revisitado a minha cidade, alguns museus e espectáculos. Na 6ª f. andámos a pé pela Baixa, Chiado, Bairro Alto onde o levei a almoçar no Fogareiro. A casa, sala em particular, já não é o que foi; foram obrigados a largar o ar entre Taberna e Casa de Pasto e está, hoje, uma asséptica sala sem história. Felizmente o proprietário - o Sr. Manuel - continua o mesmo e a D. Maria continua bem instalada na cozinha fazendo umas batatas fritas às rodelas, não muito finas, como só a minha mãe fazia. Gosto muito de lá ir pelo sorriso e bom trato com que sou recebida e pela comida caseira e sempre fresca. O meu amigo adorou e pediu-me para desenhar a ementa - única - um dos papéis que cobre a mesa afixado no vidro da janela.








Dali seguimos Calçado do Combro abaixo não sem antes nos determos no elevador, no miradouro de Santa Catarina e depois virámos à direita para o Convento de Jesus. Tudo revolto e em obras - sina desta cidade. Como não nos foi possível visitá-lo seguimos à esquerda e descemos as escadinhas que conduzem às Cortes. O meu amigo fotografava exaustivamente casas, azulejos, águas-furtadas, a imponente árvore que está antes da agora exígua entrada do antigo liceu Passos Manuel e tantas outras coisas. No alto das escadinhas pediu-me para desenhar o que se via das Cortes; o escasso tempo e a dificuldade do assunto só deram isso (acabo de passar no scanner pois prometi arrancar as folhas e dar-lhas).








Depois seguimos à Praça das Flores, Príncipe Real e acabámos no Rato. Gosto destes passeios a pé por Lisboa, por estas ruas com história onde, a cada instante, descubro algo de sedutoramente novo e onde o barulho da cidade não cai abruptamente sobre nós. Na 6ª feira Lisboa oferecia-nos a sua magnífica luz que tanto impressiona os estrangeiros.


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domingo, dezembro 11, 2005

Notícias de Cabotagens


Durante uns tempos hesitei em tornar a rever os meus links; pensei mesmo em apagá-los. É que não é simples estar sempre a tirar uns (entretanto desaparecidos) e a colocar aqueles que vou descobrindo. Pensei, como disse, acabar com os links e ir dando conta daqueles que vou visitando frequentemente. Mas a política da casa foi a de ter links e, nisto, gosto de ser conservadora. Assim, seguem abaixo e na coluna da direita os meus novos links - blogs a que acedo diariamente ou com uma regularidade interessada. São diferentes nos seus objectivos, escritas e pensamentos mas todos eles econtram diferenciados ecos dentro de mim. Gosto de os partilhar.



Aldrabas, Batentes e Fechaduras

AQUI

Le blanc-seing

Bombyx-mori

Depianissimo

Estepes Poliliterárias

Geosapiens

A Idade das Pedras

Ilha dos Mutuns

Impressões e Intimidades

A Invenção de Morel

A Mahn'ser

Noctívago

Nu Singular

Por um fio

Realidade Relativa

Tabacaria

Tugazombi

Xanax


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sábado, dezembro 10, 2005


Falar de ti? Não são as palavras que te cobrem. É este quotidiano que de tão nosso é arredio dos outros. Não sais da bruma. Nela permaneces na candura dos momentos cumpridos.

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sexta-feira, dezembro 09, 2005

Anoitecendo


Tirando os do mês de Setembro estes são os anoiteceres mais belos da Ericeira. Fugas cruzadas no infinito.





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quinta-feira, dezembro 08, 2005

Do diário # 10


Continuo a lutar com a palavra, não com a sua pureza mas com as interligações que ela toma quando junto a outras. Não a quero descarnada. Não a quero repetitiva. Não a quero slogan. Não a quero enganosa. De momento, apenas sei como a não quero.

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quarta-feira, dezembro 07, 2005

Salão de Convívio 2005


Foi ontem, ao início da noite, inaugurado o Salão de Convívio 2005 - exposição anual dos sócios da Sociedade Nacional de Belas Artes - patente ao público até 30 de Dezembro.

Uma boa maneira de rever amigos, conhecidos e de descobrir novos cores, pinceladas e traços.

Tenho lá este desenho a tinta da china, devidamente emoldurado. Ontem era impossível tirar fotografias pois como antes tinha sido a Assembleia Geral dos Sócios para aprovação dos corpos gerentes havia muito mais público do que é habitual.


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terça-feira, dezembro 06, 2005

Do diário # 9


Escasseiam palavras no tempo e na manhã. Nos dias. Há-de haver uma razão. Mesmo sem lógica. Não sei se é do desgaste se do desconhecimento. E a imaginação não ajuda ao encadeado. Está tudo dito. Logo, ou se cria ou se recria. Nada pode ser igual. O sentido não pode ser finito e há que acrescentar, na posição que a palavra toma, outro significado, outra luz, outro sentido. Se não, melhor é estar calada.


Lisboa, 4 de Dezembro de 2005



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segunda-feira, dezembro 05, 2005

Dos pontos e da trama


Teço o ponto e oiço
o silêncio que o sol desperta
há uma calma com tempo
alisando a manhã
fantasiando-a de cores que enchem
a trama que teço, qual Ariadne,
sonhando que um dia,
alguém pegará nesta lã grosseira
e tornará o labirinto
num infinito com futuro

solta-se-me dos olhos a esperança
em ti, Teseu, prometido.


Ericeira, 19 de Setembro de 2005





antes



depois


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sábado, dezembro 03, 2005

Cavalos portugueses




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sexta-feira, dezembro 02, 2005

Citando # 150


La gloire d'un grand mort ne dépend pas autant qu'on le suppose du caprice des vivants. Un peu plus tôt, un peu plus tard, les noms qui méritent de survivre émergent de l'oubli pour s'ancrer dans la mémoire des hommes.

Charles Cros


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Citando # 149



Representas algo ou és a coisa representada?

Friedrich Nietzche



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quinta-feira, dezembro 01, 2005

Sem título


não é a frase
é o som das palavras
e o infinito


Lisboa, 27 de Novembro de 2005



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