segunda-feira, dezembro 26, 2005

Obrigada


a todos que por aqui deixaram o seu comentário e a todos que aqui vieram. Se, nos próximos dias esta página não for actualizada a culpa é da netcabo pois parece que ela não quer festejar as Festas comigo. Acabaram agora de sair daqui os técnicos mas o problema parece ser do prédio; assim vou aproveitar para navegar um pouco enquanto isto der. Espero regressar em breve, entretanto, deixo-vos um dos muitos poemas que me fizeram crescer - do Sr. Fernando Pessoa, obviamente.


O Andaime



O tempo que eu hei sonhado
Quantos anos foi de vida!
Ah, quanto do meu passado
Foi só a vida mentida
De um futuro imaginado!



Aqui à beira do rio
Sossego sem ter razão.
Êste seu correr vazio
Figura, anônimo e frio,
A vida vivida em vão.



A 'sp'rança que pouco alcança!
Que desejo vale o ensejo?
E uma bola de criança
Sobre mais que minha 's'prança,
Rola mais que o meu desejo.



Ondas do rio, tão leves
Que não sois ondas sequer,
Horas, dias, anos, breves
Passam - verduras ou neves
Que o mesmo sol faz morrer.



Gastei tudo que não tinha.
Sou mais velho do que sou.
A ilusão, que me mantinha,
Só no palco era rainha:
Despiu-se, e o reino acabou.



Leve som das águas lentas,
Gulosas da margem ida,
Que lembranças sonolentas
De esperanças nevoentas!
Que sonhos o sonho e a vida!



Que fiz de mim? Encontrei-me
Quando estava já perdido.
Impaciente deixei-me
Como a um louco que teime
No que lhe foi desmentido.



Som morto das águas mansas
Que correm por ter que ser,
Leva não só lembranças,
Mas as mortas esperanças -
Mortas, porque hão de morrer.



Sou já o morto futuro.
Só um sonho me liga a mim -
O sonho atrasado e obscuro
Do que eu devera ser - muro
Do meu deserto jardim.



Ondas passadas, levai-me
Para o alvido do mar!
Ao que não serei legai-me,
Que cerquei com um andaime
A casa por fabricar.


Cancioneiro



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