quarta-feira, dezembro 21, 2005

BOAS FESTAS

para todos os amigos e habituais frequentadores e ainda para os que por aqui passem. Com o espírito natalício da Linha Cabotagem deixo-vos o poema de Natal que mais me tocou ao longo dos anos de David Mourão-Ferreira.


Natal, e não Dezembro
(1962)


Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.


Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.


Cancioneiro de Natal, Editorial Verbo, 2ª edição, p.19



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