sexta-feira, agosto 31, 2007

Ausentando-me


como um soluço
a paragem
nem os outros a pressentiram
nem o tempo a registou
só dos dedos a inércia
e do olhar o veludo

um hiato entre o instante e o segundo.


HFM - Lisboa, 27 de Agosto de 2007



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quarta-feira, agosto 29, 2007

Sem título


onde estão os ângulos
que projectavam o olhar?

continuo a encontrá-los no sol
ao fim da tarde
quando mergulha no infinito
e reacende no silêncio
todas as possibilidades.


HFM - Lisboa, 2 de Agosto de 2007



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terça-feira, agosto 28, 2007

Bons Tempos Hein!





e por esta Medalha de Ouro os meus parabéns a Nelson Évora e ao meu amigo JRD (ele sabe bem porquê) a quem roubei o título do seu blog.

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segunda-feira, agosto 27, 2007

Citando # 176


J'ai des souvenirs de villes comme on a des souvenirs d'amour".

Valery Larbaud



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sábado, agosto 25, 2007


era a mão na aflição da criança. quase medo. entre a verdade e a mentira que a verdade já lhe trouxera tabefes e, no silêncio das perguntas, aprendera a mentira. assim lho diziam. mas ela sabia que não era assim. invenção, sim. fuga da verdade também. que esta já lhe valera tabefes. parece que os adultos não se davam bem com a verdade. e de invenção em invenção sentava-se no canto e fazendo muito força com o lápis desenhava, com letra bicuda, palavras que diziam não ter qualquer nexo. nexo? o que seria isso? não percebiam?! tão bronquinhos que eram! ela só desenhava da sua invenção as estórias.


HFM - Lisboa, 24 de Agosto de 2007



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sexta-feira, agosto 24, 2007

Anoitecidos


Perturbam-se as horas e o sono quando a angústia se infiltra nas margens da noite adensando mistérios que movimentam pesadas interrogações a que a manhã não dá resposta.

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quarta-feira, agosto 22, 2007

Sem título


e eu que das árvores não sei o nome
soletro-lhes as folhas

como numa impressão digital.


HFM - Lisboa, 20 de Agosto de 2007



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domingo, agosto 19, 2007

Da madrugada


Quando a mão se recusa a escrever
prisioneiras tornam-se as palavras
rentes ao pensamento
acoitam-se em surdina
crescendo
como num exercício de cello
até que fatigada
a mão
tenha de obedecer


precárias
soltam-se na madrugada.


HFM - Lisboa, 12 de Agosto de 2007



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sábado, agosto 18, 2007

Arezzo




Uma das minhas melhores descobertas de que a fotografia revela apenas uma pálida imagem. Um pouco à frente os célebres frescos de Piero della Francesca; no outro sentido a razão primeira da minha ida a Arezzo - o Cristo de Cimabue.

Uma cidade de visita obrigatória desde que com tempo para nos perdermos nas ruas, nas vielas e na vista do jardim que fica no topo da cidade.


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sexta-feira, agosto 17, 2007

ONDE


Ó caminhos das ausências
onde encontrarei o sorriso
e o afago?
onde as harmonias
e a ternura?
onde a singular liberdade
e a voluntária dependência?

onde? onde?

só o luar sobre o sal
destruirá do quotidiano as barreiras.


HFM - Lisboa, 16 de Agosto de 2007



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quinta-feira, agosto 16, 2007

Sem título


quando da claridade
ressaltarem as sombras

no deserto ecoará o grito.


HFM - Lisboa, 16 de Agosto de 2007



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terça-feira, agosto 14, 2007

Citando # 175


La mélancolie n'est que de la ferveur retombée.

Gide, André, Les Nourritures terrestres



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segunda-feira, agosto 13, 2007


Cara Berer





Quando o silêncio apaga na penumbra o calor recolhe-se nas palavras o rasto da ineficácia dos dias.

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domingo, agosto 12, 2007

Centenário - Miguel Torga





Requiem por mim

(Coimbra, 10 de Dezembro de 1993)



Aproxima-se o fim.
E tenho pena de acabar assim,
Em vez de natureza consumada,
Ruína humana.
Inválido do corpo
E tolhido da alma.
Morto em todos os órgãos e sentidos.
Longo foi o caminho e desmedidos
Os sonhos que nele tive.
Mas ninguém vive
Contra as leis do destino.
E o destino não quis
Que eu me cumprisse como porfiei,
E caísse de pé, num desafio.
Rio feliz a ir de encontro ao mar
Desaguar,
E, em largo oceano, eternizar
O seu esplendor torrencial de rio.




Memória

(Coimbra, 1 de Novembro de 1983)



De todos os cilícios, um, apenas,
Me foi grato sofrer:
Cinquenta anos de desassossego
A ver correr,
Serenas,
As águas do Mondego.




Chaves, 4 de Setembro de 1980 – Bem gostava de o ouvir com outros ouvidos e acreditar nas suas apreciações generosas. Mas não. Infelizmente, em matéria literária, ninguém me pode dar segurança. Insegurança, sim. Agora tirar-me deste inferno em que me deixa cada obra literária editada, só a morte. A publicação de um livro é um jogo em que o autor se arrisca eternamente numa roleta diabólica, sem nunca chegar a saber se ganhou ou perdeu. E como precisamente desafio neste momento, mais uma vez, os azares do prelo, é já esse sentimento de réu em perpétuo julgado que me dilacera. Cada palavra propícia que eventualmente chega até mim, em vez de consolo, dá-me a impressão de ficar com a sorte agravada. À mercê do futuro e empenhado ao presente.



Miguel Torga, Diário XIII, Coimbra, Edição do Autor, 1983



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sexta-feira, agosto 10, 2007


O que te posso dar quando no calor se afogam os gestos?

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quarta-feira, agosto 08, 2007

Sem título


na indolência dos dias
o desperdício

aconchego-me noutras fronteiras.


HFM - Lisboa, 7 de Agosto de 2007



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terça-feira, agosto 07, 2007

Anoitecidos


A noite não aquecia Agosto, esfriava os labirintos das memórias onde o calor era presença assídua. Vastos campos onde se acendem lembranças escorrendo por os fios que Ariadne já não possui.

Ventos contrários ligando no presente todas as ausências. Uma linha ligando passado e futuro.


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segunda-feira, agosto 06, 2007

Siena




A saudade e os labirintos das pequenas passagens e dos portais - tudo o mais é a História e o sublime.

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sábado, agosto 04, 2007

Notícias de Cabotagem


Há tempo que não dava destas notícias mas, quando as palavras têm o som da melodia e a imagem pictórica de um quadro como não as destacar?


Aqui - O Verão e aqui - Noite.

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quinta-feira, agosto 02, 2007

Sem título


pergunto com os olhos
com os dedos
com a postura
só a voz se cala
no silêncio de todas as perguntas

nunca há resposta


HFM - Lisboa, 31 de Julho de 2007



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quarta-feira, agosto 01, 2007

Irrepetíveis








Revemo-los nas suas obras.


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