terça-feira, abril 29, 2008


Sentou-se à mesa para pensar no mundo, na vida, enfim em si própria.

Na sua frente várias folhas em branco e silêncio a envolvê-las. Um lápis na mão. Pensar não se coaduna com a rapidez e limpeza de um processador de texto. Colocou a cabeça entre as mãos. Fechou os olhos. Esperou a chegada dos pensamentos.

Quando acordou a única coisa que viu escrita no ar foi uma tarde perdida.


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quinta-feira, abril 24, 2008

Tónus


É o sol invadindo os póros e todos os sentimentos. Sedimentos de areia enredam-se na maresia e o azul domina o olhar. Espraia-se a liberdade na pele da secura. Assim espero ficar por uns dias.

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terça-feira, abril 22, 2008





Só um sinal cruzando o infinito. Inenarrável. Impreciso. Uma fuga. Ou será apenas o mar chamando por mim?


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sábado, abril 19, 2008


desabou a chuva
num equinócio de agonia
lavando a areia
e o tédio

cresceram nas cisternas
as promessas.


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sexta-feira, abril 18, 2008

Hiato



Não somos senão um hiato entre futuro e passado a que chamamos momento. Momento inexistente pois que sempre passado. Assim flutuamos. Presos a uma liana saltando de galho em galho. Voláteis. Imprecisos. Sem contornos. Sempre em fuga. Numa eterna esperança de presente que se quer futuro mas que sempre é só e tanto – passado. Somos, outrossim, uma amálgama de momentos – um palimpsesto onde, de certeza, temos apenas o passado. Talvez por isso nos projectemos no futuro, na incerteza, no desejo de eternizarmos esses hiatos que, de tão assíduos, os julgamos imutáveis, prisioneiros dos nossos próprios impulsos.

Somos a referência do que passou – futuro sempre adiado – escrito num vento sem fronteiras.


HFM - Lisboa, 16 de Abril de 2008

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quarta-feira, abril 16, 2008

Invocando Alice


Não se uniram as cartas; desemparelhadas formaram um estranho baralho – como um aqueduto retendo a água. Tudo ao contrário. Ou seria apenas a fantasia, uma outra correlação de forças? Ou apenas como Alice um outro mundo?

Inquebrável prosseguia o emaranhado das cartas, só que os reis tinham perdido a coroa mas não a retórica, a rainha perdido o fausto associara-se aos sindicatos e o valete, que em tempo dera cartas, continuava a afirmar que, por ter sido professor há 17 anos, sabia muito do que falava.

Assim ia a corte naquele país de Maravilhas. E a plebe esquecia-se de que o século já tinha virado.

Gritar por Alice? Gesticular? Ou pôr uma velinha a um qualquer santo (se acreditasse neles) pedindo que o bom senso descesse sobre Governo e governados?


HFM - Lisboa, 15 de Abril de 2008



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segunda-feira, abril 14, 2008


por cada nova folha chegada
apenas te asseguro o passado
mãos cerzindo memórias
e os dias depurados

assim saberás como te amo.


HFM - Lisboa, 10 de Abril de 2008



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sábado, abril 12, 2008

Do diário


Olho a cidade do alto onde o horizonte já é gente e sinto que é de solidão que falo. Duma solidão fraternal. Necessária. Humana. A solidão dos que não estão sós. A solidão que inunda e afasta, em nós, os preconceitos e todas as ideias desgastadas. A solidão das memórias.

fotografia de HFM

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quinta-feira, abril 10, 2008


o sol veio ampliar
os últimos fragmentos
focalizando as cores
entranhando os verdes
esmaecendo a nostalgia

puzzle de sentimentos tão contraditórios!


HFM - Londres, 25 de Fevereiro de 2008



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quarta-feira, abril 09, 2008

Sem título


Quando se cerram todas as palavras
instala-se o vento no labirinto

um mantra talvez me devolva o fio.


HFM - Lisboa, 29 de Fevereiro de 2008



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segunda-feira, abril 07, 2008


Os livros que não tem para nós sentido quando somos jovens podem vir a ser os nossos melhores companheiros quando a vida abre a alma e deixa que os seus olhos espreitem o insondável. Mesmo sem percebermos sabemos de outras vivências e aconchegamo-nos na sombra das palavras.

São estes os livros que só devem ser lidos quando no silêncio, mesmo incompreensíveis, as palavras fazem sentido.

Os livros onde aprendemos que as palavras têm um pulsar que nunca tínhamos ouvido, têm uma vida própria, a vida que cada um carrega dentro de si.


HFM - Lisboa, 4 de Abril de 2008



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sábado, abril 05, 2008

Sem título


Cala-te e sossega
acabou-se o tempo das dúvidas
recolhe a melodia
do silêncio
inalterável
cruel


única.


HFM - Lisboa, 7 de Março de 2008



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sexta-feira, abril 04, 2008

Como diz alguém na blogosfera


eu hoje acordei assim.





Sendo que San Francisco pode ser qualquer outro lugar - algures, nenhures, com mar, com montanha, com rio, planície. Precisa é de espaço, de céu e das flores, de preferência, no seu lugar certo. O paraíso de cada um.


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quarta-feira, abril 02, 2008

Do diário


Quando o lugar não é a presença todos os medos se adensam. E as interrogações. Não há palavras. Só os teus dedos afastando a poeira. Mas a poalha continua a cair na ânsia - uma pedra milenar servindo de arma. Estilhaçando, com despudor, a alma.

Sei-me obreira deste estado. Irritas-me - e este me sou eu, a outra. A dupla que una tudo corrói.

Inclino a cabeça e o teu ombro é aquele porto de abrigo sempre esperado.


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