Para o nosso Natal
Boas FestasHoje deixo-vos aí em baixo 5 textos – o meu contributo neste Natal para todos que aqui têm vindo, para todos os amigos dos blogs que se encontram na coluna da direita, para os amigos do
Letras e com um duplo agradecimento para aqueles que me facultaram os dois primeiros textos e uma dedicatória especial e particular para aqueles a quem são dedicados os três últimos excertos.
Bom Natal e que o espírito da paz possa descer sobre o nosso pobre país!
Com um grande obrigada a Tecum do
TexereAMIZADE
De mais ninguém, senão de ti, preciso:
Do teu sereno olhar, do teu sorriso,
Da tua mão pousada no meu ombro.
Ouvir-te murmurar: - "Espera e confia!"
E sentir converter-se em harmonia,
O que era, dantes, confusão e assombro.
Carlos Queirós, in 366 poemas que falam de amor, uma antologia organizada por
Vasco Graça Moura
Com um grande obrigada a Paiva Raposo do
Antes de TempoO fio da fábulaO fio que a mão de Ariadne deixou na mão de Teseu (na outra estava a espada) para que este se aventurasse no labirinto e descobrisse o centro, o homem com cabeça de touro ou, como pretende Dante, o touro com cabeça de homem, e o matasse e pudesse, já executada a proeza, decifrar as redes de pedra e voltar para ela, para o seu amor.
As coisas aconteceram assim. Teseu não podia saber que do outro lado do labirinto estava o outro labirinto, o do tempo, e que num lugar já fixado estava Medeia.
O fio perdeu-se, o labirinto perdeu-se também. Agora nem sequer sabemos se nos rodeia um labirinto, um secreto cosmos ou um caos ocasional. O nosso mais belo dever é imaginar que há um labirinto e um fio. Nunca daremos com o fio; talvez o encontremos e o percamos num acto de fé, num ritmo, no sono, nas palavras que se chamam filosofia ou na mera e simples felicidade.
Cnossos, 1984.
J. L. Borges in Os Conjurados, 1985.
Para o meu amigo das pegadasHá um limite para se ser profundo. Há um limite para se ser subtil. Há um limite para se ser bom observador. Nós temos de nos mover num mundo de limites para a viabilidade de se ser. O limite da profundeza é a escuridão. O da subtileza é o do filamento invisível. O da observação é o do microscópio electrónico. Mas tudo no homem é assim. Para lá de certos limites é a confusão, a gratuidade, a loucura. Assim o grande amor se reconhece na morte ou o excesso da razão na confusão ou sofisma ou absurdo ou impensável ou gratuito. Todo o excessivo no homem é desumano ou degenerescência ou vazio. Mas que há de grande no homem senão o excesso de si? E é decerto aí que mora Deus. Ou mais para lá.
Vergílio Ferreira
Para António Baeta Oliveira do
Local & BlogalREGRESSOfoste-te, e foi contigo
o sono dos meus olhos,
regressaste, e assim mo devolveste.
quem trouxe a boa nova
pediu-me alvíssaras:
o meu coração foi o que te dei
pedindo desculpa do pouco que valia.
Al-Mu’Tamid, Poeta do Destino, Adalberto Alves
Para a
Carla de ElsinoreYOU ARE WELCOME TO ELSINOREEntre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos a morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmos só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar
Mário Cesariny, Pena Capital
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