Da amizade
Do meu amigo Eduardo Graça recebi o seu livro com uma dedicatória comovente. Dele deixo dois poemas que, apesar da década de 80, são de sempre.
Não omito
Não omito nada do meu gostar
nem o sobressalto de descobrir um dia
que não queria nada do que quis.
Ofereço o tempo futuro todo
à descoberta da arte de transformar
amando o desconhecido ou quase que é
afinal o que é amar.
24/2/1981
O que eu queria
O que eu queria não posso pedir que me escapa
a sem razão de o não obter, o que eu queria era
num dia assim aberto um olhar liso e claro
na direcção do meu sorriso que espera longo.
Aguento, aguento-o dia após dia, abro e fecho
a mão, agarro o que eu queria um momento
mas no outro se me cava a ruga fundo no meio
da testa e se me enche o fundo da pele de suor.
O que eu queria não o posso dizer senão talvez
a alguém que és tu que já o sabes melhor
do que eu quando digo que não falo mais nisso.
O que eu queria me desses naquele dia maduro
era um sorriso que se fixasse para sempre
no rosto que é o resto que eu tinha posto de fé
na vida para além de mim e do que eu queria.
22/9/81
Etiquetas: Dos outros
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