sábado, maio 14, 2005

Prémio Camões 2006 - Lygia Fagundes Telles



A ociosidade, a miserável ociosidade daqueles interrogatórios. ‘Você está bem?’ O sorriso postiço. ‘Estou bem’. A insistência era necessária. ‘Bem mesmo?’ Oh Deus. ‘Bem mesmo.’ A pergunta exasperante: ‘Você quer alguma coisa?’ A resposta invariável: ‘Não quero nada.’

‘Não quero nada, isto é, quero viver. Apenas viver, minha querida, viver...’ Com um movimento brando, ele ajeitou a cabeça no espaldar da poltrona. Parecia simples, não? Apenas viver.



Extracto do conto As Pérolas, Antes do Baile Verde, 1970



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