sábado, outubro 11, 2008

Citando # 193


Em Finita, Maria Gabriel Llansol dá-nos uma chave preciosa: ”Interesso-me por uma frase, por um fragmento do texto, e, muito raramente, por todo um livro que leio lentamente.” Está aqui a diferença. Eu não posso ler Llansol “como se lê um romance” – na precipitação ofegante de chegar ao fim. Leio Llansol de lápis na mão, porque é o lápis que me impõe a demora, que me entrava no texto. Isto é, detém-me, contém-me diante da palavra seguinte, obriga-me a voltar atrás, a enredar-me no desenho da escrita. Para mim, há dois tipos de livros muito diferentes: aqueles que se lêem sem lápis na mão, e os outros. Esta distinção não é homóloga à distinção poesia-e-ensaio/ficção. Como é óbvio, eu só posso ler Diderot, Thomas Mann, Musil, Kundera ou Agustina, com um lápis. (Pergunto-me: quantos críticos portugueses sabem ler com um lápis na mão?).


Eduardo Prado Coelho – tudo o que não escrevi – vol. I



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