Do caderno de capa preta # 1
- Ganhei a sorte grande!
- Tás a gozar!
- Verdade, estou feliz; feliz como não o estava há muito tempo.
- Sortudo!
- Podes crer.
- E quanto, pode saber-se?
- Quanto o quê?
- Tás parvo! quanto ganhaste?
- A sorte grande!
- Isso já eu sei, se não queres dizer, tudo bem, eu compreendo, mas não estejas com evasivas. Não te aflijas que não te vou pedir dinheiro.
- Quem estás parva és tu, de que estás a falar?
- Subiu-te a sorte grande à cabeça ou estás com febre?
- Febre?!...
- Deixa-te de desconversar, quanto ganhaste? em metal sonante, em euros?
- Metal sonante, euros? Mas eu não te falei disso.
- Não, então o que é para ti a sorte grande?
- A minha dona ter-me ido buscar ao armário, acariciar-me e começar a escrever, com a sua letra miudinha e perfeita, o seu diário. Estava para ali atirado há anos e finalmente vou estar ocupado e andar com ela para todo o lado. E não foi o impulso de um só dia, já leva uma semana; não é isto a sorte grande?
Lisboa, 18 de Outubro de 2005
Etiquetas: Escritos
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