sábado, junho 04, 2005

Mais um ano de Feira do Livro


Passado o buraco em que o “Pipi” da Câmara transformou o Marquês de Pombal e subida um pouco mais a alameda do Parque, aí está ela. Igual. Cheia. Demasiado. Com os livros em catadupa desafiando a paciência e a vista.

O encanto já não é o mesmo; talvez culpa minha, mas o sol abrasador, os empurrões, o barulho já me afastam desta feira onde vinha várias vezes por ano. Os tempos são outros. Há livrarias onde os preços desafiam os da Feira, onde os livros estão dispostos de uma forma atractiva, com locais onde os podemos desfolhar no recolhimento das palavras. Também as várias feiras anuais de livros com descontos substanciais tornam esta Feira do Livro menos atraente e apenas mais uma feira. Diga-se de passagem que os livreiros e editores se acomodam demasiado e repetem gestos passados, esquecidos que estão perante um povo que lê pouco e a quem deveriam proporcionar um espaço de prazer, procura, beleza e uma certa comodidade.

Entre os livros que comprei destaco na Poesia: Casimiro de Brito – Manuel António Pina e José Tolentino Mendonça (A Estrada Branca). Livros de Francisco José Viegas, Paul Auster e Pérez-Reverte. Um livro de Arte do séc. XX e de Pop-Art (este uma verdadeira pechincha que me valeu a ida à feira).

Não voltarei este ano à Feira do Livro.

Há, contudo, uma coisa que tenho de realçar. Aos que querem escrever e estejam falhos de motivo aconselha-se uma ida à Feira. Não pelo bulício envolvente (ajudaria, pois só ele seria matéria de escrita), mas especificamente pelas conversas laterais que se estendem alameda acima e abaixo naquele tom bem audível e português de quem gosta de ser ouvido. A enormidade das conversas e das asneiras merece anotação e daria boas crónicas e contos. Mas melhor de tudo, são os que se passeiam de telemóvel ao ouvido em intermináveis conversas sobre o cão, o gato, o Zezinho, a Lolinha e, sobretudo, as inúmeras conversas de tralhalho(?) ou de venda da “banha da cobra”; estas últimas em especial dariam um grosso calhamaço sobre agressivas técnicas de venda e de marketing de senhores de colarinho branco e engravatados, refastelados entre livros e algum copo de cerveja!

Haja paciência para tanto pacovismo!

Maio 05


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