quarta-feira, abril 27, 2005

Visitando a casa de Neruda em Santiago - um poema de Eneida Leite



Aguarela de Dafni Amecke Tzitzivakos


Pena Verde

Não importa
que a cordilheira
o separe do mar.

Não importa
a rua sem saída,
a casinha modesta.

(Construíste um farol,
mesmo assim)

Importa a noite longa, e os
navegantes, muitos,
precisando de luz.

Importa o leão,
da distante África,
vivendo em suas costas,
a perscrutar o caminho
de volta para casa.

Para o leão,
sonhando voltar,
Para o marinheiro ,
ousando viver:
tua porta
sempre aberta.

Importaste de Murano
as taças de cristal,
coloridas.
Amarelas, vermelhas,
verdes, azuis.
O arco-íris
sobre tua rústica mesa
de madeira do teu sul.

Dizias
que o espírito do vinho
muda
pela graça das cores das taças.
E muda-
va o vinho.
E muda-
va as taças.
Repletas, todas
Com o teu melhor néctar
Para ofertá-las.
E isso, importava.
Im-
Porta.

Whitman,
teu faroleiro onipresente,
guarda
s caminhos
seguros
de entrada
ou de saída.

Quem convencerá Maiakovski,
Poe,
Vinicius e os outros
a saírem de teu bar?

Com a pena verde,
cor do mar que sonhavas,
escreves palavras,
todas portas,
Liberdade.
Plumas de esperança,
a nos fazer
flutuar.


Eneida Leite



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