Quando conheci Michel Foucault, em 1966, em Paris, no 15ème arrondissement
Vinha na rua com um amigo, professor em Nanterre, quando, de repente, ele me dá uma ligeira cotovelada e baixinho murmura:
- Aquele que aí vem é o Michel Foucault!
- Conhece-lo?
- Sim.
- Apresenta-mo.
Pierre olhou para mim incrédulo quando Michel Foucault se aproximava.
- Bonjour, Pierre.
- Olá, Michel, estás bom ?
- Muito atarefado com o meu retorno de Clairmont-Ferrand e a partida para Túnis.
E o teu trabalho?
- Vai andando, como é possível no caos de Nanterre! Já agora apresento-te H., uma amiga minha portuguesa.
- Prazer – disse Foucault olhando-me – também é professora em Nanterre?
- Não, estou apenas em Paris a passar uns dias. Foi um prazer conhecê-lo.
- Conhecer-me? A gente nunca se conhece.
- Bom, se quiser, falar-lhe. Já viu o que no meu país isso pode contribuir para o meu currículo?
Quando acabei a frase já tinha uma cotovelada de Pierre e Michel Foucault dizia.
- Você é rija, de resposta pronta!
- Descarada, se quiser! Talvez seja a única maneira de convivermos, nós os comuns mortais, com as figuras públicas!
- Figura pública? Ainda falta muito para o vir a ser. Mas esteja confiante, pois sê-lo-ei. Já agora quer um autógrafo? pode vir a dar-lhe dinheiro!
- Não, preferia que me enviasse um livro seu autografado, pode ser aquele sobre a loucura. É que loucos somos todos nós!
- É engraçada a tua amiga! digamos um pouco desbocada! Pode estar certa que através do Pierre o livro há-de chegar-lhe às mãos!
- Enchantée! Um dia ficarei rica por conta dele!
- Isso é que você não sabe!
- Se me garantiu que um dia há-de ser um figura pública e como eu sou mais nova... aí tem!
- Elle a une verve! Como se chama ?
- Phantôme!
- Phantôme? mais vou plaisantez!
Larguei-me a rir. Como eu gozava comigo própria quando inventava estes diálogos impossíveis!
Lisboa, 12 de Abril de 2005
Etiquetas: Escritos
<< Home