quarta-feira, abril 11, 2007

ENCONTROS II

[Fra Angelico]


A chuva corria miudinha e leve e a brisa afagava o rosto como uma mão gélida. Um pouco cabisbaixa percorria apressada a Piazza della Signoria. Vinha dos Uffizi e dirigia-me ao Duomo; perto da loggia ouvi murmurar:

- Buona sera, Signora.

Voltei-me e, de relance, reconheci, mais pelas vestes do que pelo traço do rosto, Fra Angelico. Também ele caminhava apressado.

A meio da praça, parados à chuva e analisando um papel espesso e de lados incertos, apercebi-me das silhuetas de Duccio, Cimabue e Simone Martini. Quando passei, olhando-os, baixaram-me a cabeça.


[Cimabue]


Dois vultos cruzaram-me e um perguntou-me:

- Lei ha visto le nostre pitture?

Olhei-os e sorrindo respondi:

- Ma como no?

E nada mais acrescentei porque o meu italiano e a minha timidez não conseguiram obrigar-me a dizer-lhes o quanto os amava. Eram tão só Botticelli e Ghirlandaio.

Um pouco à frente desenhando no ar com uma mão e falando sozinho sem nada ver cruzou-se comigo Leonardo. Voltei-me e segui-o, como se segue o Mestre. Ia apressado também na direcção do Duomo. Um pouco à frente, na Via dei Servi, vi-o entrar numa casa, julgando ser a sua ia a afastar-me quando o jovem Masaccio apareceu a uma janela.


[Masaccio]


Quando retrocedia ouvi uma voz dizer:

- Sono andato a congedarmi di Michelangelo però la prossima settimana gli há fissato appuntamento vicino al Tondo doni.

[Michelangelo]


- Grazie, Signore.

- Rafaello, piacere – disse ele enquanto baixava a cabeça e se afastava.

Continuei o meu caminho enquanto, inquieta, esperava ver surgir de cada portal florentino todas as outras sombras.




HFM - Florença, 8 de Março de 2007

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