sexta-feira, abril 20, 2007

Do diário de Florença


Um recanto do apartamento de Florença.



Sentires que não tens casa. Ou muitas. Os tectos onde dormiste e onde te deixaste. Do simples quarto à casa que tornaste tua. Onde te deste. Que aconchegaste.

Aquele quarto longínquo no anexo da pensão onde, adolescente, não dormias para usufruíres da benesse de teres um quarto só teu. Esse outro quarto em St. John’s Wood onde o parapeito exterior da janela de guilhotina te servia de frigorífico. O TCP e a nossa primeira casa onde a minúscula kitchnette nos parecia um amplo salão.

O domus que sempre construíste em ti personalizando cada tecto onde viveste.

A casa, teu huit-clos imprescindível.

A casa onde agasalhas as dúvidas, onde armazenas os sentimentos, onde sedimentas as vivências.

A casa, o invólucro do teu nada onde te preenches.

A casa, dimensão insondável do devir.


HFM - Florença, 19 de Março de 2007



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