sábado, novembro 18, 2006


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O QUE ELE PODERIA TER FEITO

se a vida lhe tivesse sorrido para além desses escassos 31 anos.

Estou a referir-me a Amadeo de Souza-Cardoso mas, neste lamento, englobo também Cesário Verde em quem pensei enquanto percorria extasiada as obras de Amadeo.

Fui hoje, 6ª feira, fazer a primeira abordagem à exposição. Não consigo ver arte a metro; e, tal como num Museu, onde chego a percorrer uma série de salas sem parar, para me deter naquelas obras que previamente seleccionei e que procuro observar e ver com a calma e o tempo que toda a arte necessita, também aqui resolvi fazer uma primeira abordagem e deter-me apenas em Amadeo ficando os seus amigos e contemporâneos para outra visita.

Estou a escrever estas linhas ainda sob o encanto que as suas cores e formas deixaram em mim. Uma pintura onde sobressaem as cores – os verdes, os vermelhos, os azuis, os ocres – e, sobretudo, a colocação destas umas em relação às outras que nada tem de aleatório. Tudo vibra na sua obra mesmo numa paisagem aparentemente serena.

No piso inferior, para além da qualidade dos desenhos, o que mais me impressionou foi ver nos retratos – pequeno formato – a utilização de técnicas antigas de afastamento versus aproximação com expressão moderna e com cores que nada têm a ver com as da antiga técnica.

Os quadros que não conhecia, fizeram desta manhã ali passada, uma constante surpresa como se tivesse mergulhado num caleidoscópio matizado de pintura.

E sucessivamente vinham-me à cabeça versos de Cesário Verde e a certeza de que muito perdemos por estes dois homens terem morrido demasiado cedo.

O que eles não teriam feito!


Lisboa, 17 de Novembro de 2006



* Entrada, óleo com colagem, 93,5 x 76 cm - CAM, Lisboa

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