Conversas de café
Bebiam a bica enquanto folheavam o jornal e entre si iam comentando os diversos acontecimentos. Eram habitués daquele café central da Baixa desde o tempo em que ainda trabalhavam. Ficara o vício e hoje vinham até ali, quando nenhum reumatismo ou outro achaque próprio da idade os impedia, desentorpecer as pernas e alimentar a amizade.
De repente, a calma mansa que percorria o café àquela hora foi cortada pela conversa acalorada e gesticulante da mesa ao lado onde se tinham sentado dois jovens – um rapaz e uma rapariga.
Os dois velhos olharam um para o outro e sabiam que estavam ambos a pensar na mesma coisa – no seu tempo a conversa seria outra. Um rapaz e uma rapariga num café estariam lá a discutir e a falar alto! teriam mais é que aproveitar o tempo! raio de juventude! e ainda por cima que conversa mais desconchavada.
- Com raio! – disse baixo Joaquim enquanto com a cabeça fazia um sinal na direcção da mesa do par jovem!
- Percebes alguma coisa? Português é mas há palavras que mais parecem chinês – acrescentou Alexandre, um pouco mais alto, acusando um ouvido mais deteriorado. - Será código ou serão extra-terrestres?
Entretanto na cara de Joaquim tinha-se perfilado um enorme sorriso e com aquele ar entre o matreiro e o gozão que todos que o conheciam lhe sabiam familiar, acrescentou:
- São tlebeiros, pá!
HFM - Lisboa, 6 de Dezembro de 2006
Etiquetas: Escritos
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