Diurnos
Só uma poalha esconde o mar mas não o seu rugido que agiganta as lendas e os temores. O sol quebra-se com este frio que vem carregado de poalha e de humidade. Mas nada esconde a serenidade do dia que se acaba. Nem o silêncio. Nem o Cabo que não alcanço através da cortina da poalha. Só o sei. E afirmo-o.
Para o delá dos verdes as danças de roda e toda a sonoridade da infância quando este local, que agora habito, era inóspito e vedado à nossa imaginação e aos nossos suspiros. Alarga-se o burgo. Demasiado. Mais estará para vir logo que a pseudo-civilização com a mais valia da auto-estrada vierem trazer a esta terra não o desenvolvimento mas a parolice, a fealdade, a anárquica construção e os magotes de gente destruidores e obscuros.
Por enquanto há o mar, a poalha, o silêncio e eu agradeço.
Ericeira, 21 de Janeiro de 2007
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